Membros do projeto Talentos e Produtos Regionais da Nova Alta Paulista (PRENAP) apresentaram-se no 123º Sarau da Associação Prudentina de Escritores (APE), no dia 16/3, em Presidente Prudente, no Centro Cultural Matarazzo. Mais que um evento cultural, a iniciativa fortalece as conexões inter-regionais. Presidida por Carlos Francisco Freixo, a APE constitui importante entidade guardiã e estimuladora da cultura literária local. Além da literatura, extrapola suas atribuições para outras manifestações artístico-culturais, como fez a cantora Cida Ajala ao nos convidar.
Câmara Cascudo, um dos mais importantes estudiosos da cultura popular brasileira, refere-se a povo como todos, tendo a cultura como experiência em comum, partilhada pelos membros de diferentes classes sociais e gerações. Para ele, a cultura popular desqualifica a diferença. Acredita também que a cultura popular corresponde a uma certa perfeição alcançada pela sociedade humana, compreendendo-a como uma espécie de comunhão.
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Falar em cultura popular no Estado de São Paulo não é tarefa fácil, considerando suas características cosmopolitas. Na metrópole paulistana habitam povos de vários países e continentes. O interior também é marcado pelos traços da ampla diversidade, com predomínio da influência europeia. Mais discretos, os japoneses também imprimiram a sua presença. Há forte influência dos migrantes nordestinos, cuja cultura é marcada pela mistura de negros, indígenas e ibéricos. As manifestações artísticas, em todo o território paulista, expressam essa diversidade.
A caracterização cultural da população da Nova Alta Paulista demonstra essa herança múltipla, não despontando um gênero musical ou artístico que lhe imprima identidade mais expressiva, como o que se vê em áreas povoadas por etnias dominantes. Some-se a isso a hegemonia da chamada cultura de massa e sua influência na música contemporânea, marcada pela americanização dos ritmos, instrumentos e poemas, com forte influência urbano-industrial.
Foi o que se viu durante a apresentação de artistas, em especial dos músicos. Samogim (Presidente Prudente) e suas músicas ao violão, Zé Matuto e compadre Alcino (que confecciona violas com material inusitado) representaram a autêntica música raiz do Centro-Sul brasileiro, representando a cidade Junqueirópolis. Cida Ajala e Du Carmo (Presidente Prudente e Regente Feijó) rasgaram a viola e a sanfona num dueto muito agradável de se ouvir. Sob regência do professor Clodoaldo Carvalho de Jesus (o Murf), o coral de Pauliceia interpretou músicas de Milton Nascimento e Gilberto Gil. Christian José Silva (o nosso tenor), também de Pauliceia, esmerou-se para interpretar Céu de Santo Amaro, de Flávio Venturini e Caetano Veloso. A novidade, no entanto, ficou por conta da Folia de Reis interpretada pela Companhia de Reisado Estrela D´Alva, de Pacaembu. Embora fora de época, sua apresentação evidencia um gênero pouco cultuado no oeste paulista, daí o convite para a sua apresentação.
Bossa nova, MPB, música raiz, música clássica e reisado. Não importa o ritmo. A soma das apresentações musicais e literárias (entre uma música e outra havia leitura de poemas e poesias), a exposição de manualidades e de alimentos processados artesanalmente proporcionaram momentos singulares de entretenimento cultural. Com telas e quadros artísticos cuidadosamente dispostos, o ambiente favorecia o clima festivo e descontraído.
Mais que as portas do Centro Cultural, os membros da APE nos abriram seus corações, proporcionando-nos aconchego e amizade, reforçando a percepção de Câmara Cascudo de que cultura popular é comunhão. Marcando as novas conexões, levamos exemplares de livros escritos por autores da Paulista e ganhamos exemplares de livros escritos por autores da Sorocabana. A biblioteca da APE e as bibliotecas públicas municipais ficaram mais ricas.
Enquanto nossos músicos e escritores mostravam a sua arte, vários expositores divulgavam e vendiam os seus produtos. Dez cidades estavam representadas, afinal, o oeste paulista constitui um considerável mercado consumidor ainda pouco explorado pelos produtores locais e regionais.
Essa agradável e significativa movimentação resulta das redes que se vêm construindo por meio do PRENAP e tem como objetivo central o estímulo ao desenvolvimento local e regional. Contempla os princípios da economia criativa e busca construir arranjos institucionais para apoio ao empreendedorismo. Concebe o papel do poder público municipal na indução do desenvolvimento local, principalmente nas pequenas cidades, e conta com a atuação decisiva dos interlocutores locais constituídos pelos secretários municipais de Agricultura e de Educação e ou Cultura. Conta, portanto, com a contribuição efetiva das prefeituras municipais.
Outros saraus virão para construir outros tantos nós na sempre inconclusa rede de relacionamentos, que alimenta e caracteriza o desenvolvimento regional.