Na ultima quinta-feira (16), uma atitude racista do público que assistia ao jogo de handebol feminino na edição dos Jogos Regionais em Osvaldo Cruz, repercutiu na região. A atleta 15 anos, que defendia a equipe de Lucélia, foi ofendida pela torcida das equipes adversárias.
O IMPACTO entrou em contato com a treinadora de handebol, Viviane Souza que intermediou a entrevista. Com a autorização dos pais, a atleta concordou em falar com exclusividade a nossa equipe sobre o ato racista sofrido durante a partida.
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“Nós estávamos na primeira partida, e eu, na ponta da quadra, exposta à torcida do time adversário. Todos os atletas já são acostumados a pressão da torcida – então a principio, não liguei, e também porque no começo eles só chamavam pelo meu numero do uniforme ou de ‘moça’. Num determinado momento um deles ficou irritado por eu não olhar para a arquibancada e foi ai que começou o xingamento: “macaca”, “preta encardida”, relata a atleta.
A atleta ainda diz que no momento do xingamento ela ficou sem reação, mas não respondeu a nenhum dos ofensores da arquibancada. “Isso foi no inicio do primeiro tempo. Eu chamei a minha treinadora no canto e contei a ela o que estava acontecendo. Ela parou o jogo e fomos conversar com a arbitragem que não nos deu apoio nenhum. Então a treinadora conversou diretamente com torcida, dizendo que se as ofensas não parassem a PM seria acionada”, disse.
Nem mesmo a ameaça de chamar os policiais fez com que a torcida se intimidasse. Além de continuarem as ofensas, diziam que não tinham medo da PM, relata a treinadora Viviane, que acionou os policiais em seguida para relatar a ação da torcida.
Segundo a Policia Militar, a atleta foi orientada a fazer o boletim de ocorrência na Delegacia de Defesa da Mulher, porém, ela preferiu não realizar o registro do B.O, por não saber identificar com clareza quem teria começado os xingamentos e as ofensas.
A atleta disse que sempre existiu ‘pressão da torcida’ durante as competições que participou, mas que nunca havia sofrido racismo. “Os torcedores queriam me desconcentrar, e conseguiram. No primeiro tempo eu não acertei nenhum passe, foi horrível! Eu senti vergonha e raiva de ser negra, pensei até em parar de jogar. Depois percebi que isso era besteira. E o pior é a equipe toda foi prejudicada, todas se sentiram ofendidas como eu. Foi muito triste!”, desabafa.
Opinião da OAB
De acordo com a presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Lucélia, Milena Rodrigues Gasparini, a adolescente deveria ter comunicado a Polícia Civil informando o acontecido, para que desse início às investigações na identificação do outros envolvidos pelo ato racista.
Ainda segundo a presidente da OAB, a polícia instauraria um inquérito para investigar o fato. Se o ofensor fosse identificado responderia pelo crime de prática de discriminação ou preconceito de raça, que não tem direito a fiança. A pena para quem comete esse tipo de crime é de 2 a 5 anos de prisão, ou pagamento de multa. No caso de ser o ofensor adolescente, ele responde por ato infracional, podendo, a critério da Justiça da Infância e da Juventude, a imposição de alguma medida socioeducativa.
Desabafo da atleta
“Aqueles me ofenderam com palavras racistas, quero afirmar que o caráter do ser humano não deve ser julgado pela cor. Todos devem respeitar as diferenças uns dos outros, respeitar as crenças, as vontades, a cor da pele e ninguém têm o direito de discriminar ninguém por ser diferente. Isso é lamentável e repulsivo. Desejo a essas pessoas que um dia aprendam a respeitar o próximo, e que nunca sofram o que sofri”, conclui.