“A pessoa quando constrói sua casa, deposita seus sonhos naquela construção, acredita que está realizado, que seu futuro naquele lugar será lindo. Seria, se não fosse pelas inundações. Toda chuva é um novo pesadelo, correria, subir todos os móveis, tentar desesperadamente impedir que a água entre na sua casa, mas tudo em vão, porque a força da água é avassaladora, e o que esperar? Não sei, espero que alguém tome providência”. Esse é o relato do morador Jailton Quiquinato, que teve sua casa alagada na terça-feira (3), após a forte chuva que caiu em Lucélia.
O problema enfrentado pelo morador da vila Cayres não é isolado. O casal Bárbara Gisele Casmo Lima e Ronaldo Bernandes de Lima aguarda há anos uma solução para as enchentes na rua Primo Ferruzzi esquina com a Eisuke Gushiken. Enquanto isso, a residência fica fechada por impossibilidade de morar. “Construímos a nossa casa, pagamos todos os impostos em dia, água e luz, mas não podemos morar porque toda vez que chove é o mesmo tormento. Pagamos o financiamento de uma residência, que nunca chegamos a morar”, conta Bárbara.
A Prefeitura de Lucélia informou que, nos últimos dias, choveu cerca de 230 milímetros no município, sendo que em apenas 30 minutos na noite de terça, foram 63 milímetros.
Mas, para os moradores, a justificativa que choveu mais que o previsto não é aceito. “É a terceira vez que minha residência é alagada. Todos os cômodos são invadidos pela água. E na terça, fiquei mais desesperada por estar sozinha com minhas duas filhas, de 5 e 10 anos. Não sabia o que fazer”, relata Cintia Luci dos Santos Quiquinato.
O problema que se arrasta há anos, segundo os populares é devido à falta de vazão adequada para as águas pluviais das avenidas Brasil e Internacional, que acabam desbocando próximas as residências. “Não há bueiros suficientes. E os que têm, não aguentam escoar toda a chuva destas regiões. Além disso, é muita sujeira, restos de construções e entulhos que acabam vindo com as águas e desobstruindo a passagem, prejudicando ainda mais a vazão”, explica Jailton.
Para Ronaldo, a indignação é maior por não encontrar uma resposta da Prefeitura.“Fui nesta quarta procurar o prefeito, mas como sempre nunca se encontra. Em meados de fevereiro deste ano, quando novamente alagou as casas, o Saldanha veio e prometeu uma solução para o problema. Há aproximadamente um mês, o prefeito chegou a abordar a minha esposa e dizer que estava resolvendo o problema, mas pelo jeito é só discurso. Sei que a situação financeira está crítica, por isso propomos ajudar a Prefeitura com a compra de material e a administração entraria com a mão de obra, mas nunca encontramos o prefeito quando se precisa até para propor parceria”, informa Ronaldo.
Outra questão apontada pelos moradores é em relação à lama oriunda do Almoxarifado Municipal. “Quando chove, a água chega até um metro de altura. E como os bueiros são possuem capacidade de vazão, as residências são alagadas. Mas, o problema piora porque vem muita terra do Almoxarifado para a rua, deixando-a cheio de lama e entupindo as bocas de lobo. Um dos problemas está na ‘casa’ da Prefeitura, mas não resolvem”, disse Jailton.
Advogado, Ronaldo contesta que quanto foi construir a residência, a Administração forneceu Certificado de Habite-se, mas que “nenhum momento informou que era área de risco”. “Como as residências são financiadas, pensei em ajuizar uma ação contra a Prefeitura, mas não fiz ainda pela promessa que o problema seria resolvido. Pelo jeito, só acionando a Justiça para se ter uma solução”.
E com as chuvas de quarta-feira (4), novamente os moradores relataram problemas, como a obstrução de passagem devido pedras, pedaços de asfalto e lama que tomaram conta da rua.
Insatisfeitos com a situação, o casal Bárbara e Ronaldo irão se mudar ao final do ano de Lucélia para Teodoro Sampaio. “Construí a residência com intuito de ficar no município, me estabelecer profissionalmente, mas com essa situação faremos o processo inverso e nos mudaremos”, informa.
Prefeitura
Representantes da Prefeitura irão se reunir com moradores da localidade para que, juntos, cheguem num consenso e sejam tomadas medidas paliativas que os auxiliem de imediato.
Paralelo a isso, realiza estudo com participação de setores competentes para solução efetiva do caso.