“Será que a escravidão ainda não foi abolida?”
Sempre que acontece um atentado terrorista, penso no tratamento que está sendo dado aos imigrantes na Europa e num texto, que escrevi em 2002, que me faz refletir sobre as injustiças que se perpetuam através do tempo.
Por isso, hoje gostaria de socializar o antigo escrito com os meus poucos, mas fieis leitores: Navios negreiros cruzaram o Atlântico por mais de 300 anos, trazendo nos porões escravos africanos. Calcula-se que tenham chegado no Brasil mais de quatro milhões. Sem contar os 20% que não sobreviveram à viagem.
Enquanto durou a escravidão (mais de três séculos), o negro fez parte de um mundo globalizado, ou seja, usou sua força de trabalho para o progresso das colônias e dos países emergentes da época.
Hoje, com o novo rumo tomado pela globalização, o negro continua saindo da mãe África em porões de navios e até em trens de pouso de avião. Foge de suas pátrias como o diabo foge da cruz. Isso porque na atual globalização não existe espaço para países periféricos – nesse contexto inclua-se o Brasil.
Por falar em Brasil, em 4 de setembro, chegou ao porto de Santos, proveniente de Serra Leoa, um navio com passageiros clandestinos no porão, inclusive com mortos asfixiados pelas péssimas condições da viagem.
Refletindo sobre esse triste episódio, chegamos a uma dura conclusão: quando seres humanos arriscam a vida para chegar a um país miserável como o nosso (quarta pior distribuição de renda do planeta) é porque algo muito errado está acontecendo. E, cá entre nós, isso ocorre porque o G-7 (grupo dos setes países mais ricos) fechou suas fronteiras para os imigrantes de países pobres, pois em seus projetos de especulação já não existe espaço para mais ninguém.
Esse é o fiel retrato dos porões da globalização.