Meu Deus, o que é que eu faço/ para viver nesse mundo/ se ando limpo, sou malandro/ se ando sujo, sou imundo/ Meu Deus, que mundo velho/ ó, que mundo enganador/ se não falo, sou manhoso/ se falo, sou falador/ se como muito, sou guloso/ se como pouco, sou sovina/ se bato, sou desordeiro/ se apanho, sou mofino.
Essa cantiga de roda de capoeira define bem a situação em que me encontro. Se escrevo sobre política, sou criticado. Se falo de religião, sou censurado. Se presto uma homenagem, sou reprovado. Por isso, depois de fazer uma minuciosa análise nas besteiras que publiquei nos últimos dias, cheguei à conclusão que o meu problema em Adamantina se resume a dois personagens: o Pinóquio tupiniquim e o Saruê provinciano. Explico.
O criador do Pinóquio, Carlo Collodi, nunca imaginou que o personagem teria carreira tão longa, e tão imitada no decorrer do tempo. De 1881 para cá, os sósias do filho de Gepeto se multiplicaram. Dessa forma, toda província que se preza passou a ter o seu Pinóquio. Apesar da maioria deles não causar grandes danos aos amigos, existe os Pinóquios que são do mal. Como em Adamantina o tipo que marca terreno é o segundo, ele vive fantasiando no centro da cidade. Por isso, todo cuidado com o Pinóquio tupiniquim é pouco.
O Saruê provinciano é um pouco diferente do personagem anterior. É arrogante, e ao mesmo tempo inocente. Não percebe que a falta de discernimento está matando o seu sonho maior. Não entende que a truculência é a pior alavanca que existe para se alcançar um ideal. Pensa que é o ser mais inteligente que habita as terras adamantinenses. Pior, tem uma estranha mania de perseguição. Vive se enxergando nos humildes textos que de vez em quando escrevo. Com todos esses adjetivos, o Saruê provinciano se tornou tão perigoso quanto o amiguinho do Grilo Falante.
Agora, para matar a curiosidade dos meus poucos leitores, deixo aqui algumas dicas sobre quem seriam os heróis em pauta. O Pinóquio tupiniquim é um frequentador assíduo das pastelarias e cafeterias da cidade, e tem como ponto preferido a pastelaria do Namba. Aliás, passa o dia nas imediações da rua Osvaldo Cruz. Já o Saruê provinciano é um pouco mais reservado. Ele tem como seguidores uma enorme vassalagem. Quando quer humilhar alguém, costuma mandar chamar o interlocutor até o seu território. A propósito, a alcunha Saruê foi inspirada no coronel da novela Velho Chico e não no frágil animalzinho brasileiro. Fui.
Obs: As palavras tupiniquim e provinciano foram usadas neste texto com a autorização do amigo e professor Sérgio Barbosa. Fui de novo.