Publiquei este artigo pela primeira vez em 31 de janeiro de 2003. Passado tanto tempo, muita coisa mudou no mundo, menos os costumes de algumas pessoas que fazem política em Adamantina. A falta de humildade e o menosprezo pela inteligência dos eleitores continuam caminhando de mãos dadas. Por essas e por outras, nesta republicação, além de trocar algumas palavras do escrito original, mudei o nome de um ex-vereador para representante do povo. Entretanto, qualquer semelhança do ontem com o hoje poderá não ser uma mera coincidência. Dito isso, vamos ao antigo texto.
Em 1532, Martin Afonso de Souza chegou a uma ilha coberta de ninhos de fragatas e de mergulhões, e aportou para caçar com alguns oficiais. Eles mataram várias aves. Satisfeitos, remaram de volta ao navio; foi então que sentiram um vento quente soprando. A tripulação, ao notar que a bandeira principal do mastro ondulava ao contrário do vento, ficou em pânico. Assim relata o cronista: “Tão logo devolvi o capitão ao navio, voltei à ilha e ateei fogo nela.” O trecho acima foi extraído do livro “A ferro e fogo” – A história da devastação da Mata Atlântica Brasileira, de Warren Dean.
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Como a visita dos portugueses foi rápida, não houve tempo para que fossem apresentados à maior e mais perigosa população da ilha: as jararacas ilhoas, parentes da jararaca comum, mas que têm um veneno muito mais poderoso. Em todo o globo, essa espécie só é encontrada na ilha da Queimada Grande, que fica perto de Peruíbe e Itanhaém.
Lendas à parte, especialistas do Instituto Butantã afirmam que até recentemente o fogo era usado como defesa daqueles que se aventuravam na ilha e que a população de ilhoas chega a quatro mil. E mais: devido ao perigo que elas representam, só seus funcionários são autorizados a visitar a ilha para pesquisas.
Abordamos esse assunto para dizer que, diante do momento político que estamos vivendo, se o ser humano fosse cobra, nossa cidade poderia se chamar Ilha da Queimada Grande da Nova Alta Paulista.
Como exemplo disso podemos citar o seguinte: dia 28 passado, ao visitar determinado vereador, fomos interpelados se éramos o autor de possível denúncia de quebra de decoro parlamentar contra o atuante representante do povo, que, embora aguarde o cumprimento do prazo regimental da Câmara para assumir uma importante secretaria na prefeitura, já a teria assumido na prática. Mas, o fato é que, se alguém quebrou ou não o decoro, isso não é (tanto) problema nosso, mas da Câmara.
É impressionante o que vem acontecendo em Adamantina nesses dias de turbulência. Perto do veneno de muita gente envolvida no episódio político a que, lamentavelmente, a população é obrigada a assistir, as jararacas ilhoas não passam de inofensivas minhocas. Assim, seja qual for o resultado da sessão extraordinária da próxima terça-feira, muitas pessoas levarão uma queimada grande. E para sempre.
Finalizado o antigo texto, deixo aqui um teste de memória aos meus poucos, mas fiéis leitores. Qual o nome do vereador que virou secretário no final de janeiro de 2003? Qual foi o episódio político que marcou o mês de fevereiro de 2003? Detalhe: não vale perguntar para o ex-prefeito Laércio Rossi.