Quem frequenta as praças Deputado José Costa (pátio da Fepasa), Euclides Romanini (do Cristo) ou Presta Maia (antigo almoxarifado), em Adamantina, já percebeu uma aglomeração de pessoas com os olhos vidrados na tela do smartphone.
Desde chegada do ‘Pokémon Go’ ao Brasil, adeptos da nova febre podem ser vistos em busca dos monstrinhos que podem aparecer a qualquer momento, em quase todos os lugares. O jogo, que utiliza realidade aumentada, tem fãs de todas as idades e coleciona polêmicas.
Disponível para aparelhos Android e iOS, o aplicativo usa dados do Google Maps (basicamente, GPS) para espalhar monstrinhos, PokéStops e ginásios pelas ruas da cidade. Em Adamantina, são quatro PokéStops disponíveis que ficam, além das três praças, no reservatório da Sabesp.
O jogo está disponível no Brasil desde quarta-feira (3), mas o universitário Gabriel Guelpa, de 21 anos, baixou o aplicativo há um mês. “Como não havia sido lançado ainda o GPS não funcionava, sendo possível pegar apenas os Pokémons primários. Então, a partir de quarta fui à caça pela cidade”.
Fã do desenho que marcou sua infância, o universitário destaca que o sucesso do aplicativo é devido o Pokémon passar por várias gerações. “Não importa a idade, todos estão jogando Pokémon Go, desde quem tem mais idade até crianças que são acompanhados pelas mães. Não existe uma faixa etária, conheço jogadores de 10 anos até com cabelos grisalhos”, comenta.
A interação entre os jogadores é outro ponto destacado por Marieli Cristina Cestari, de 23 anos. Por ser ‘nova’ no Pokémon Go, a universitária recebe dicas de outros jogadores para capturar Pokémons. “Temos um grupo no WhatsApp, com mais de 80 jogadores de Adamantina, que conheci durante as caças. Lá, trocamos informações, avisamos quando encontramos os ‘monstrinhos’ considerados raros, realmente existe uma cumplicidade entre todos”, afirma Guelpa, que já andou mais de 50km pela cidade em busca dos Pokémons.
Considerado por muitas especialistas, até pelos jogadores, como vício, já houve relatos de demissões, batidas de carro, términos de namoros, tropeços, tumultos, brigas e até uma morte acidental em todo o mundo devido ao jogo. “Tem que saber equilibrar a vida social com a virtual. No começo estava realmente bitolado com Pokémon Go, quando percebi que estava ficando esquecido das obrigações da faculdade, de minha casa. Agora, jogo apenas nos momentos de lazer”.
Mas, nem todos agem desta forma. Na terça-feira (9), um grupo de aproximadamente 25 amigos ficaram das 11h30 até às pouco mais das 18h na praça Deputado José Costa caçando Pokémon. E isso é mais comum que se imagina, já que nos finais de semana mais de 80 pessoas se encontram para capturar os ‘monstrinhos’ que estão espalhados pela cidade. “Trouxemos extensões, carregadores de celulares e lanches para passar a tarde caçando os Pokémons. É realmente um vício”, diz Renato Júnior, de 16 anos.
Como Flórida Paulista, Pacaembu e Mariápolis não têm PokéStops, os jogadores destas cidades se reúnem aos adamantinenses em busca os Pokémons. “Se torna um grupo de amigos que, apesar do assunto ser somente o jogo, é uma interação que não existiria sem o Pokémon Go”.

Benefícios x perigo
As regiões cerebrais em que as drogas atuam são as mesmas em que o jogo atua. “É a expressão máxima de uma nova droga, consome a energia, horários produtivos, contribui para um isolamento social e causa alienação”, preocupa-se o psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, Rodrigo Fonseca Martins Leite, que diz que os efeitos dependem de cada um: “Como toda droga, tem aqueles que não se viciam, mas os efeitos podem ser muito nocivos para alguns”, diz ao jornal Extra.
Já a especialista em comportamento do usuário web, Patrícia Andrade Ladeira, é otimista em relação ao game: ele pode combater o sedentarismo e até estimular relações sociais.
“O bom desse jogo é que ele desenvolve uma parte sensorial do cérebro. Embora esteja mergulhado numa realidade aumentada, você vai para a rua, começa a interagir com outras pessoas que nem são seus amigos”.