É rapidinho! Cibele Cristina de Araújo Sesto de Moura está cansada de ouvir essa desculpa sempre que precisa parar em uma vaga de deficiente físico para deixar a filha, de 7 anos, com mielomeningocele, em uma escola particular de Adamantina.
Apesar de haver vaga reservada e possuir credenciamento que identifica o veículo, ela sofre diariamente para garantir o direito da criança, já que o espaço sempre está ocupado pelos “apressadinhos” que não respeitam a legislação.
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Seja por desconhecer as leis de trânsito, não ligar para a multa pesada e penalidade na carteira de habilitação, ignorar a sinalização ou simplesmente por desrespeito as pessoas com deficiências especiais, a atitude é mais comum que se imagina em Adamantina.
“Diariamente, tenho que chamar a atenção de motoristas que param na vaga reservada por desrespeito. É constrangedor, mas tenho que garantir o direito da minha filha Mariana. Se existe o espaço, tem que ser respeitado!”, diz, indignada.
“Luto, não apenas pelo direito de minha filha, mas pelo respeito a todos os deficientes físicos”, destaca Cibele.
Batalha
Mariana Sesto de Moura nasceu com mielomeningocele, também conhecida como espinha bífida aberta, que é uma malformação congênita da coluna vertebral da criança em que as meninges, a medula e as raízes nervosas estão expostas. Desde os primeiros meses de vida, passa por intensos tratamentos e cirurgias, além de usar colete para escoliose que garante a sua sustentação física.
Quando entrou em período escolar, a mãe de Mariana se deparou com um problema: a dificuldade de se parar próximo ao portão da escola, já que naquela época não havia vaga reservada. “Ela tem dificuldade de locomoção e, muitas vezes, tivemos que parar longe da unidade e levá-la nos braços por falta de vaga”, explica.
Foi, então, quando Cibele iniciou uma batalha pelos direitos da filha. “Fui me informar nos órgãos competentes, tirei os laudos necessários para possui o cartão que identifica veículo e protocolei, juntamente com a escola, o pedido para o espaço reservado. Uma semana depois a Prefeitura estava demarcando a área”.
O que parecia a solução foi só o início de um novo problema. Apesar de haver sinalização horizontal e vertical, muitos motoristas insistem em infligir à lei e param no local. “Antes de cobrar qualquer medida, fui atrás de me informar e de regularização. Conquistamos a vaga, mas agora a falta de sensibilidade e amor ao próximo impera”, lamenta.
Direito de ir e vir
Cibele destaca que pretende apenas garantir o direito de ir e vir de sua filha e de outros que possuem dificuldade de locomoção em Adamantina. “Sofro para deixar minha filha na escola, mas outros são desrespeitados diariamente por toda a cidade, seja centro ou bairros. Quando precisamos utilizar a vaga reservada sempre tem alguém parado “rapidinho”. Também queremos parar rapidinho, mas não podemos!”.
A mãe de Mariana também se indigna pela falta de respeito com a polícia. “Antes, quando alguém parava na vaga, ligava para polícia que informava que não podia fazer nada devido o trânsito não estar municipalizado. Depois da regularização, os policiais sempre se fazem presente próximo ao espaço e, mesmo assim, alguns motoristas insistem em ocupar a vaga de forma ilegal”.
Apesar de sofrer com o problema, Cibele afirma que a luta é pelo direito de todos os portadores físicos. “Realmente, não sei se tem outras crianças com deficiência na escola ou algum professor e funcionário com falta de mobilidade, mas o que busco é a garantia de que quando qualquer deficiente precisar usar a vaga, ela não estará ocupada por veículos não identificados”, enfatiza.
Penalidade
As alterações do Código de Trânsito Brasileiro publicadas ano passado, trazem multas mais duras para quem desrespeitar a vaga para deficientes e idosos. A penalidade, que era de R$ 53,20 e três pontos no prontuário, passou para multa de R$ 293,47 e sete pontos – o que representa mais de 400% de aumento no valor da sanção para quem for flagrado.
“Queria acreditar que é por falta de informação [que outras pessoas estacionam nas vagas especiais]. A pessoa não sabe, vê um espacinho ali e para. Mas eu acho que na maior parte do tempo é por falta de educação mesmo, já que nem com multa respeitam o espaço reservado”, comenta Cibele, que completa: “mesmo que estas penas e custos não afetem o bolso e a sensibilidade das pessoas envolvidas, fica o apelo, um protesto e um repúdio a quem procede desta maneira, porque não bastasse a lei ser uma razão suficiente, o respeito à dignidade humana não tem preço e deve ser observada a cada dia”, finaliza.