Com criatividade e força de vontade, a psicóloga da Penitenciária “Luiz Aparecido Fernandes” de Lavínia (PII), Rúbia Mara Correia Basso, desenvolveu um projeto que tem por finalidade a produção de vídeos educativos voltados à qualidade de vida dos servidores, no formato de entrevistas com profissionais de diversas áreas. A ideia, que gerou frutos durante campanhas de saúde desenvolvidas para funcionários da unidade prisional, almeja alcançar também os privados de liberdade.
Até o momento foram produzidos dois vídeos. O primeiro, como um projeto piloto, foi desenvolvido durante a Campanha Novembro Azul de 2016, em que um urologista abordou doenças que acometem a próstata. O segundo, gerado no final de janeiro de 2017, abordou conteúdo referente ao mês da saúde mental. Na ocasião, durante aproximadamente 20 minutos, a psicóloga entrevistou um psiquiatra para falar dos sintomas e formas de prevenção a doenças mentais. Para os próximos dias, está previsto a produção de um novo material voltado aos sentenciados para abordar o funcionamento das Centrais de Atenção ao Egresso e Família (Caef).
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Ferramenta multimídia
A escolha do formato e da ferramenta utilizada para transmitir as informações visa driblar dificuldades de comunicação como, o fato de alguns profissionais da saúde alegarem pouco tempo para se deslocar até o presídio a fim de ministrar palestras. Os vídeos também evitam o deslocamento de sentenciados dentro da unidade, o que requer um aparato profissional para conduzi-los. Outro fator, é que as palestras são realizadas geralmente nos mesmos horários, atingindo apenas parte dos funcionários daquele plantão. Há ainda aqueles que não podem sequer se deslocar de seus postos nestes períodos, como os Agentes de Escolta e Vigilância Penitenciária, por exemplo. Assim, os vídeos podem ser repassados, quantas vezes necessárias, em diversos turnos, inclusive aos motoristas que passam parte do tempo fora da unidade.
Público-alvo
Com o tema “A importância da qualidade de vida no trabalho”, o projeto voltado aos funcionários tem como um dos objetivos estudar as causas que interferem na saúde dentro do ambiente laboral e repassar as informações através de vídeos educativos. “Servidores adoecidos dentro do enfoque psicológico desenvolvem várias outras doenças como diabetes, pressão alta, problemas cardíacos, alcoolismo, depressão, etc. Tudo isso prejudica a vida como um todo e, também, o andamento dos trabalhos que estes desenvolvem. Pessoas irritadas, ansiosas, estressadas e de mau relacionamento interpessoal, que só murmuram e lamentam, geram ainda mais pressão e tensão dentro de penitenciárias, resultando em grande número de atestados e afastamentos”, explica a psicóloga.
Para Rúbia determinadas mazelas, que fazem parte do ser humano, podem se intensificar em locais insalubres e de periculosidade como o sistema prisional. “Não podemos simplesmente nos vitimizar e não tentar melhorar, mesmo que seja com pequenas atitudes preventivas. O servidor deve ser agente de suas escolhas e buscar qualidade de vida através de esportes, alimentação, controle financeiro e etc.; elementos fundamentais para evitar muitas doenças. Mudanças simples fazem diferença na somatória final estresse versus qualidade de vida e temos que lembrar ainda que o trabalho é apenas uma dentre muitas variáveis sociais que podem comprometer nossa saúde”, completa a profissional.
Alguns dos vídeos utilizados para orientar servidores poderão ser adaptados aos sentenciados. Porém, neste viés, o objetivo maior será “O desafio da volta do sentenciado ao convívio social pela ótica da psicologia”. Neste caso, a ideia é que os privados de liberdade foquem no autoconhecimento, ajudando a desmistificar ansiedades e medos quando da sua volta à sociedade. Segundo a psicóloga, a abordagem se voltaria para temas como o funcionamento das Caefs, programas sociais de auxílio ao egresso, mercado de trabalho, readaptação familiar, entre outros, com vistas à qualidade de vida e diminuição de reincidências no crime. “É uma conscientização de que seres humanos estão em constantes mudanças e precisam se adaptar aos novos contextos. Lembrando que a divulgação entre os sentenciados só ocorrerá com prévia autorização do profissional entrevistado. É um trabalho que pode crescer e, quem sabe no futuro, chegar ao acesso de outras unidades prisionais por rede, via internet”, finaliza Rúbia.