Adamantina tem uma história política fortemente ligada a tradições familiares e muito pouco identificada com ideologias de partidos políticos, como ocorre no cenário nacional. Porém, nos últimos anos, novos personagens surgiram visando dar uma nova cara para o panorama político local, apesar de muitos casos estarem conectados com antigos sobrenomes, sobretudo nos bastidores.
Para as eleições de 2020, a discussão está polarizada em duas figuras com mandatos atualmente: o prefeito Márcio Cardim e o vereador Acácio Rocha. Apesar de não terem sobrenomes conhecidos, eles ganharam visibilidade pelo trabalho desenvolvido durante suas trajetórias públicas.
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Antigos aliados, os dois políticos seguem atualmente caminhos opostos, mesmo estando ligados por estarem no mesmo partido, o Democratas. Na legenda, buscam espaço e apoio para viabilizarem suas candidaturas no próximo ano, principalmente por poder contar com suporte de sobrenomes conhecidos no cenário político da cidade.
Em entrevista ao IMPACTO, o gestor municipal pontuou que tem apoio das Executivas local e estadual do Democratas. Nesta semana, o parlamentar rebate a afirmação que está sozinho. Neste processo, apoio é primordial para viabilizar qualquer tentativa de candidatura à cadeira do 5º andar do Paço Municipal, onde fica o gabinete do prefeito de Adamantina.
PRÉ-CANDIDATO
Apesar de haver outros dois pré-candidatos ao Executivo municipal, as discussões estão centradas entre Acácio Rocha e Márcio Cardim. O racha é expressado em afirmações públicas contundentes, o que demonstra, neste momento, a impossibilidade do caminho dos políticos se convergirem em um mesmo propósito para o pleito do próximo ano.
O impasse foi iniciado após entrevista ao IMPACTO, em que Acácio Rocha se lançou como pré-candidato a prefeito. Ele é presidente do partido de Márcio Cardim. Segundo o vereador, a motivação nasceu por indefinição do próprio prefeito de “se posicionar claramente e abertamente sobre a pretensão ou não de ser candidato a reeleição”.
“Havia já um entendimento de todo o grupo, sobretudo das lideranças, que essa posição precisaria acontecer nos primeiros meses de 2019. O Márcio tem ciência que isso foi colocado justamente para se ter uma condição de previsibilidade, seja candidato à reeleição ou não. Então, houve um consenso, que a decisão fosse antecipada para os primeiros meses deste ano. Essa situação não ocorreu. Percebemos o prefeito com posições sazonais, quando os reflexos da Administração eram positivos na sociedade, ele se sentia motivado em ir para reeleição. Quando os reflexos eram negativos, o prefeito recuava”, esclareceu.
Acácio Rocha, que recebeu 760 votos na última eleição, rebate a afirmação de Márcio Cardim de que seria o candidato natural do partido à reeleição. Segundo o vereador, o fato aconteceria se houvesse uma avaliação positiva da gestão municipal.
“Identifiquei uma movimentação dentro do Democratas, com a participação de outras pessoas de fora, empresários, que geralmente se encontram apenas no período eleitoral para pautar as questões da cidade, e essa articulação começou a acontecer, inclusive pró-Márcio. Mas, não tinha do próprio prefeito a clareza. Então percebi que havia uma tentativa de pressioná-lo, sensibilizá-lo e motivá-lo, colocar o nome do Márcio como candidato natural à reeleição. Essa condição de candidato natural, é importante trazer isso para discussão, acontece quando se tem um reflexo positivo no trabalho, no governo, dentro e fora do grupo político, do ambiente de poder e das decisões. Onde se tem um reflexo positivo é natural que isso aconteça, uma reeleição pleiteada pelo prefeito”.
Para o parlamentar, problemas identificados dentro do ambiente do poder, como o relacionamento do gestor municipal com a Câmara de Vereadores, gerou insatisfação, compartilhada no próprio “grupo político que o elegeu”. “Prefeito foi indicado na eleição passada praticamente aclamado pela sociedade por conta da história que o mesmo construiu na UniFAI. Praticamente aclamado foi trazido para ser candidato. Esse ambiente não existe mais. Acabei me posicionando como pré-candidato por conta desta movimentação, das incertezas do prefeito e do que colhi de insatisfação dentro do próprio grupo do Democratas”, disse Acácio. “Há uma insatisfação entre os núcleos de vereadores e de quem não está no mandato, mas atua no Democratas de alguma forma. Tomei essas dores e vi a oportunidade de provocar uma discussão dentro do partido e maior ainda com a cidade, o que acabou acontecendo, e isso é muito bom”, complementa.
SOZINHO?
Tal posicionamento gerou diversos desdobramentos políticos, como entrevista ao IMPACTO do ex-prefeito de Adamantina, José Francisco Figueiredo Micheloni, mais conhecido como Kiko Micheloni. Ele ressaltou que os problemas foram causados pela falta de diálogo entre os poderes Executivo e Legislativo e membros do Democratas.
“Recebi o puxão de orelha, absorvi, sobretudo na parte da falta de diálogo, que precisaríamos ter conversado mais. Acho que as tentativas nossas, dos vereadores, de conversar com o prefeito sempre aconteceram. A Câmara e nós, individualmente, sempre nos colocamos abertos a ouvir, contribuir com a cidade. Mas, também, nos colocamos prontos para apontar, criticar, as questões que não são positivas colocamos em evidência. Talvez o Executivo não entendeu essa liberdade de pensamento, de posições, e não recebeu a nossa abertura para uma conversa”.
Para exemplificar sua fala, Acácio compara a atuação da Câmara com a Prefeitura. “O Legislativo tem nove vereadores eleitos, dialogando com a cidade todos os dias, ouvindo, recebendo questões positivas e muitas negativas. O Executivo é o prefeito, e uma equipe nomeada por ele. Ou seja, temos um poder de captar, nós, vereadores, muito maior do que o prefeito, das questões sensíveis e problemas da comunidade. Assim dialogamos com a cidade, buscando caminhos, alternativas, encaminhamos para o Executivo para tomada de decisões, e esse ambiente de diálogo não percebemos no Executivo com um todo”.
A falta de comunicação está entre as críticas do Legislador com o possível adversário do próximo ano. “Percebemos um Executivo que escolheu uma linha de prospectar, sobretudo, questões para o futuro, que são importantes, mas falta um pouco de vivência com cotidiano da cidade. Prospecta muito o futuro, e esquece do dia a dia e não dialoga com a cidade. A falta de comunicação é muito mais evidente da Prefeitura com o Município. Há um descontentamento de diversos setores, como dentro do próprio Democratas, há setores empresariais, da sociedade civil que mostram descontentamento com o prefeito e, tudo isso, acabou repercutindo em minha decisão. Preciso oferecer algo que pense no futuro, que seja também trabalhar o presente e, sobretudo, conversar com a cidade. Essa conversa já está acontecendo desde quando me posicionei como pré-candidato”.
REBATE
Acácio Rocha também questiona as afirmações de Márcio Cardim na última semana. Entre os pontos está a fala do prefeito que “deixa bastante claro que não tenho execução, só palavras”. “Nas entrelinhas ele fala que não tenho nenhum trabalho executado. Sobre isso, gostaria de falar que, como secretário de Cultura, fiz muito mais do que ele fez até agora na área de Cultura para a cidade”, rebate.
“Tenho uma história, e essa trajetória como secretário que me elegeu vereador, tenho muita consciência disso. Tenho trabalhos que repercutiram em recursos para a cidade. Direto e indiretamente tem minha contribuição em conquistas, por exemplo, de ônibus escolar, no momento que Adamantina estava preste a perder a verba para reforma do centro cirúrgico da Santa Casa, foi pela minha atuação e do então deputado Jorge Tadeu Mudalen que este recurso se manteve garantido para a obra. Tem recursos para serem concretizados já comprometidos com Adamantina em relação ao Lar dos Velhos e a Banda Marcial. Então, tem trabalho para mostrar! E, sobretudo, minha história anterior ao mandato de vereador, como secretário municipal de Cultura. Com tudo que fizemos ficou um legado, que administração anterior escolheu outro caminho e essa não fez questão de resgatar, inclusive, hoje o orçamento para área de Cultura é menor em comparação com aquele que deixei em 2012. Houve um caminho inverso daquilo que construí”.
O vereador também definiu como forte o posicionamento do prefeito que estaria sozinho neste processo de viabilização de pré-candidatura. Ele também se posiciona sobre as incisivas críticas ao Executivo. “Talvez estou aparecendo sozinho, mas não estou só na construção deste ambiente de pleitear um espaço maior de trabalho para a cidade. E terá o momento certo para estas pessoas tomarem posição”, disse. “Quando ele veio para este desafio de ser prefeito, deveria ter a consciência que as cobranças iriam acontecer. Se veio com a expectativa que reproduziria na cadeira do prefeito aquele ambiente acadêmico ou de plenos poderes dentro da universidade como gestor, no Executivo é bem diferente. Então acho que essa fala do Márcio de pedi que olhemos, não sei se com pena ou que tenha compaixão dele, foi o risco que se propôs a correr, como sou cobrado, cada vereador é cobrado”.
MOTIVAÇÃO
Questionado sobre a decisão de se lançar pré-candidato seria motivada por vaidade, Acácio enfatiza que não. “A vontade de realizar é muito grande dentro de mim. Minha primeira experiência na área pública foi quando o Ivo [Santos] foi prefeito pela primeira vez. Trabalhava na Rádio Cultura, na equipe do Silvio Graboski. Desde então fiz concurso na Prefeitura e na UniFAI, depois abri mão de tudo isso, pois não queria ficar no conforto de um cargo público, queria fazer mais. Sai de um concurso de produtor executivo da Rádio Cultura, na UniFAI, para assumir como secretário de Cultura de Adamantina. Me via capacitado, com ideias, e consegui fazer isso. A experiência como vereador foi me apresentada, aliás, fui desconvidado para ser candidato a vereador na campanha passada, em uma reunião com próprio Márcio e o grupo mais próximo dele, mas eu queria isso, queria experimentar o desafio de buscar voto, desafio de realizar o trabalho que estou encerrando praticamente o terceiro ano do mandato. Porém, o vereador não tem a mesma prerrogativa do Executivo, e isso me frustrou um pouco, porque meu espírito é de fazer, é realizador. E não vejo isso no ambiente do Legislativo, a não ser buscar os meios, levantar demandas e encaminhar para o Executivo, que tem atendido muito pouco o que a Câmara pede. Essa vontade de fazer dentro de mim é muito grande. E enxergo que este é o momento para tentar buscar espaço”.
A possível candidatura não significaria uma traição ao grupo, pontua Acácio. “Acho que quem trai é aquele que descumpre o compromisso, com a cidade e de transparência. Agora, acho que é muito mais saudável para o partido e para o Município ter uma opção de escolher qual caminho seguir, o Democratas terá que decidir isso. Se for pelo Márcio, vou ter que buscar outro caminho. Uma decisão do Democratas pelo Márcio, não representará a morte da minha ideia. Vou continuar por outro caminho”.
OUTRO CAMINHO
Este impasse pode resultar na saída do vereador do partido. “Essa possibilidade existe, de ter que buscar outra legenda, e nessa busca vou ter que construir meu grupo de trabalho para pleitearmos um espaço e chegar com uma proposta para a cidade. Não vejo isso como desmotivador. Vejo que há uma força, um peso e um capital ainda que solitário, como o próprio prefeito disse, mas que tem o incomodado bastante. Se eu, sozinho, causa este incomodo em quem tem uma cadeira no Executivo, a quem diz ter o grupo, a quem se diz ser naturalmente o candidato, é sinal que há alguma relevância em meu nome, há uma relevância na minha intenção e naquilo que represento para a cidade. Estou muito tranquilo e motivado. Tenho pensado bastante sobre os pontos negativos e positivos desta decisão. O saldo final é sempre estimulante. Essa força ainda sozinha, tem incomodado bastante”.