Há 25 anos, uma notícia deu um novo sentido para vida de Virgínia Tazinazzo Bastos. A luceliense, atualmente com 61 anos, mudou a sua história e, seguindo na essência o ensinamento de Deus – que é o amor ao próximo -, começou a transformar outras vidas oferecendo apoio, suporte, um gesto de carinho.
Mesmo com os tratamentos existentes, ainda hoje a informação do diagnóstico do câncer é sinônimo de dor e sofrimento. Há mais de duas décadas, quando os recursos da medicina eram menos avançados, era um baque para toda a família, não sendo diferente para os Tazinazzo Bastos.
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A suspeita inicial da doença não se confirmou após exames no Hospital Amaral Carvalho, de Jaú. Porém, o alívio não significou uma volta a rotina e, sim, uma mudança de vida.
A ida ao centro de referência nacional em tratamento oncológico fez com que criasse laços e contatos com alguns profissionais. O sorriso no rosto, a fé e toda determinação fez Virgínia cativar a equipe do hospital.
Devido aos contatos e atuando com agente de saúde, pessoas com diagnosticadas com câncer começaram a procurar a luceliense em busca de suporte. “Elas chegavam, relatavam os casos, é um momento de muita dor. E para todos eu digo: acalma o coração”, conta Virgínia com os olhos lacrimejando ao relembrar as histórias.
Geralmente, os pacientes que a procuravam não possuíam condições, emocionais e financeiras, para buscar o tratamento. “Muitas vezes tirava dias de folga, acordava às 2 da manhã, enfrentava 4 horas de viagem, sem horário para voltar, para ajudar essas pessoas. E nunca cobrei nada e nem busquei reconhecimento. Sempre foi de coração e por gratidão a Deus”.
Mesmo com dois filhos pequenos, a agente de saúde, hoje aposentada, enfrentava a rotina cansativa. Em paralelo ainda realizava encomendas de doces e salgados. “Graças a Deus nunca faltou nada para minha família, que sempre compreendeu e me deu suporte. Nesta época não tínhamos uma condição financeira tão estável, porém, era melhor que muitos daqueles que auxiliava. Me recordo de uma moça que fez toda a viagem com R$ 5. No olhar era perceptível a fome e, depois de oferecer uma janta, chorou de agradecimento, já que estava sem se alimentar desde o dia anterior, pois precisava deixar comida para os filhos”.
Foram muitas as histórias de dor e sofrimento, mas, também, de vitórias. “As pessoas veem depois até mim, apresenta todos os familiares, é uma alegria. Criamos laços eternos, faço parte da vitória. E tudo isso é possível devido a força de Deus em minha vida”, diz Virgínia.
Nos últimos anos, a aposentada não possui mais condições físicas para enfrentar a pesada rotina, mas continua sendo o suporte para muitas vidas, que veem nela a luz para a cura. “Tenho um caderninho, considero como fosse minha bíblia, que possui contatos de inúmeros médicos e especialistas. Ligo, e me atendem de coração. Um dia até questionei um dos médicos sobre uma marca nos prontuários e ele comentou que é para identificar os “pacientes da Virgínea, que são tratados de coração””, conta a luceliense.
Em uma trajetória de 25 anos são muitas as histórias de amor ao próximo e solidariedade que envolvem Virgínia, sempre no anonimato e na simplicidade. “Nunca quis ser reconhecida, e peço em minhas orações que possa ajudar muita gente ainda, ser este suporte para quem não tem condições. É dando que se recebe, e já recebi muitas graças em minha vida”.
Em paralelo a este trabalho, ela é ainda voluntária em uma associação que dá suporte aos portadores de câncer e em outra antialcoólica, mostrando que para ter um sorriso no rosto e força de vontade não tem idade, apenas vontade de fazer o bem ao próximo. Virgínia é exemplo da essência da mulher, que durante toda a vida aliou o trabalho e o lado maternal, mas sem deixar o lado social. “Sou muito feliz e grata. Na onde eu poder ajudar, eu vou!”, finaliza.