Ao entrar na Clínica PAI (Polo de Atividades Integradas) em Adamantina já se percebe a reestruturação que passa o local. Obras de modernização do espaço físico talvez, visivelmente, seja a mudança mais significativa. Mas, as transformações vão além, dando uma nova perspectiva para o hospital psiquiátrico referência para 62 municípios do extremo interior paulista.
A atual gestão, reeleita em abril para mais dois anos de mandato, é peça fundamental neste processo iniciado em janeiro de 2017, pelo Poder Judiciário e Ministério Público. Correndo risco de fechar as portas, magistrados e promotores começaram a mobilização que contou com a participação de toda a sociedade local.
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E, em 2018, a Paróquia Santo Antônio assumiu a administração do hospital com uma diretoria formada por leigos, sem qualquer remuneração. Considerada obra pastoral, a gestão conta com apoio da Diocese de Marília.
DÍVIDAS MILIONÁRIAS
Com dívida milionária, a Clínica PAI corria riscos reais de interromper o atendimento. Neste período o Judiciário assumiu a administração do hospital, considerada “caótica”. Sem qualquer gestão e longe da comunidade local, os débitos se multiplicavam, tornando-se “impagáveis”.
As dívidas trabalhistas, tributárias e com fornecedores começaram a ser renegociadas neste processo de reestruturação.
As questões trabalhistas foram legalizadas com apoio dos funcionários do hospital e parte dos tributos parcelados. Porém o maior montante ainda está em análise. A falta de reclassificação, pela diretoria anterior, da entidade para sem fins lucrativos causou tributação milionária, o que é questionada na Justiça.
“Quando assumimos a situação jurídica da Clínica já era melhor, porém havia muitos problemas físicos e estruturais, além de pouco dinheiro para investimentos”, disse Milton Ura, atual diretor financeiro.
Mesmo com este panorama adverso, uma diretoria encabeçada pelo padre Rui Rodrigues assumiu a Clínica PAI visando a transformação do local – com suporte do Judiciário.
INÍCIO DA TRANSFORMAÇÃO
Entre os principais problemas encontrados pela atual diretoria em agosto de 2018, foram a falta de profissionalização para o bom funcionamento do hospital e a estrutura física, que apresentava necessidades urgentes de intervenção.
Para melhorar o suporte profissional, membros da diretoria e padre Rui visitaram hospital similar em Pirajuí (SP) para verificar o modelo de gestão. Novos colaboradores e técnicos foram contratados, além de melhorar o sistema de gerenciamento da Clínica PAI.
Atualmente toda a gestão é realizada no local, desde a administração até os recursos humanos. São 120 funcionários que se revezam 24 horas por dia para o atendimento dos 144 leitos do hospital – 100% conveniados via SUS (Sistema Único de Saúde).
Já para resolução do segundo problema, as falhas estruturais e funcionais do hospital, a diretoria contou com apoio da comunidade de Adamantina e região, que deu suporte para a construção deste novo modelo de gestão.
As inúmeras ações sociais encabeçadas por empresas, entidades, igrejas de diversas denominações e a população em geral possibilitam economia de gastos, como, por exemplo, na alimentação. “As doações permitem que o recurso destinado pelo SUS seja também revertido para as melhorias. A verba enviada pelo Governo Federal é suficiente para os gastos da Clínica, mas, no atual momento, precisamos remodelar toda a estrutura do hospital, por isso nossa gratidão a toda comunidade que possibilita com as doações que este projeto saia do papel”, destaca Ura.
A Clínica PAI também realiza obras provenientes dos alvarás dos moradores (pacientes fixos), liberados com a finalidade de melhoria da qualidade de vida dos mesmos.
Os recursos são destinados pelo Poder Judiciário mediantes prestação de contas. Ao todo, são 49 moradores, sendo em sua maioria desamparada de familiares e que há longos anos reside na instituição.
Outros recursos (R$ 350 mil) destinados por deputados também permitem melhorias no local.
Até o momento já foram realizadas troca de telhados, reforma de banheiros, remodelação das alas (separação entre os moradores, psicóticos e dependentes químicos), construção de pátios e refeitório, entre outras melhorias aliadas ao atendimento humanizado e suporte médico realizado por seis especialistas de diversas áreas.
“A contabilidade da Clínica é aberta, transparente. Todos podem ter acesso. Tratamos aqui como uma Pastoral Hospitalar, trabalho voluntário feito de coração para proporcionar um atendimento adequado a todos os pacientes e moradores”, ressalta Milton Ura.
AVALIAÇÃO POSITIVA
Passados dois anos, a diretoria faz balanço positivo das melhorias realizadas na Clínica PAI. Mas, enfatiza que existe muito trabalho ainda a ser feito.
“Com a transparência, ganhamos credibilidade junto à população. Muito precisa ainda ser feito. Precisamos quitar as dívidas, as obras iniciadas são solução de apenas uma parte dos problemas físicos do local. Por isso contamos com apoio da comunidade da cidade e região, já que apenas as despesas operacionais e funcionais são quitadas pelo SUS”, destaca o presidente da entidade, José Neto.
“Nossos agradecimentos e reconhecimento ao trabalho dos colaboradores, que se empenham para que todo este projeto seja efetivado. Os funcionários da Clínica PAI se dedicam diariamente para proporcionar o melhor atendimento aos pacientes e moradores, com afeto e responsabilidade”, complementa Neto.
RECURSOS PARA COVID-19
Clínica PAI consta em relação do Ministério da Saúde
A Clínica PAI (Polo de Atividades Integradas) em Adamantina deve receber, em breve, recursos provenientes do Ministério de Saúde para ações de identificação, isolamento e prevenção ao Covid-19, dos pacientes e colaboradores.
Apesar de já anunciado, os cerca de R$ 2 milhões ainda não estão disponibilizados para uso do hospital.
Enquanto isso, a diretoria realizada estudos para viabilizar a aplicação dos recursos em ações que estejam diretamente ligadas ao novo coronavírus, conforme orientação do Ministério da Saúde.