No dia em que bares e restaurantes de Adamantina receberam autorização para atenderem presencialmente até às 22 horas, os municípios pertencentes ao DRS de Marília (Departamento Regional de Saúde) retrocederam de fase no Plano São Paulo, um balde de água fria na expectativa de retomada dos comerciantes. O Governo do Estado anunciou, na sexta-feira (21), a volta da região para fase laranja, que permite apenas funcionamento do comércio (por quatro horas), escritórios, imobiliárias e concessionárias.
Apesar das duas semanas anteriores Adamantina ter ficado na fase amarela, com regras mais flexíveis, bares e restaurantes só podiam funcionar até às 17 horas, impossibilitando a abertura dos estabelecimentos noturnos. A autorização veio apenas na sexta, após nova normativa do Estado, porém durou apenas até domingo (23), já que no dia seguinte novo Decreto Municipal era publicado de acordo com as normas estaduais.
Desde 22 de março, quando bares e restaurantes foram impedidos de atender presencialmente devido a quarentena do novo coronavírus em Adamantina, os estabelecimentos tentam sobreviver com o sistema delivery. Levantamento realizado pela ANR (Associação Nacional dos Restaurantes) no final de junho apontou que 35% dos bares e restaurantes fecharam lojas permanentemente no país. Até o final da pandemia, sem qualquer previsão de quando ocorrerá, outros estabelecimentos devem aumentar ainda mais essa porcentagem.
Em Adamantina também há casos de fechamentos de empresas que atuavam no setor de alimentação noturna.

MATAR UM LEÃO POR DIA
Com mínima de expectativa para o anúncio de 4 de setembro, quando existe a possibilidade de a região avançar de fase, os comerciantes tentam manter as empresas por mais uma semana impedidos de atender presencialmente. “É matar um leão por dia”, diz Vinícius Pravato, que tem uma hamburgueria na cidade.
Segundo o empresário, o atendimento presencial representava 80% do faturamento mensal da empresa. “Do dia para noite houve uma queda absurda de faturamento, tivemos que nos adaptar a um formato diferente de funcionamento. Não éramos focados no sistema delivery, existia o serviço apenas para agregar ao cliente”, explica.
A empresa ainda tenta manter os 13 empregos mesmo com a diminuição das vendas.
“Temos respeitos pelos familiares atingidos pela pandemia, e sabemos da necessidade de regras para o controle da doença, mas também precisamos sobreviver. Por todos os impostos que pagamos e por todos os nossos funcionários, os olhares dos governos poderiam ser com mais respeito. As empresas precisam ser ajudadas, as pequenas empresas movimentam também a economia. Está sendo muito difícil. Não há caixa de empresa que aguente mais de 150 dias sem poder funcionar. Não há ajuda de ninguém, nos sentimos só”, lamenta Pravato.

Outro empresário que demonstra as consequências da quarentena da Covid-19 é Vinícius Nogueira, que possui um restaurante de comida oriental em Adamantina. Com projeto de abrir mais uma loja, o empreendedor teve que adiar os planos, muitos devido à regras restritivas.
“Está sendo difícil, para todos. Vivemos um momento de incertezas, estamos muitos meses desta forma. Criamos esperanças de que vai abrir, que vai melhorar, e isso nunca ocorre. Parece um pesadelo que nunca acaba. Aquela famosa luz no fim do túnel ainda não enxergamos, e a cada vez adia por mais um tempo. Acredito que tomando os devidos cuidados não há problemas em reabrirmos”, disse Nogueira.
Em seu restaurante, o atendimento presencial representava 90% do faturamento. “Estávamos em um crescente, acredito que muitos comércios também, e do nada acontece algo deste tipo, sem estarmos esperando, sem nos programar. É complicado, estávamos com plano para mais uma loja, porém este foi adiado. Temos 18 funcionários, 18 famílias que dependem do nosso empreendimento”.
DESESPERO COMPARTILHADO
Nesta semana, um movimento foi iniciado em Presidente Prudente visando sensibilizar o Governo do Estado sobre a situação de bares e restaurantes, com a criação do selo: 170 dias fechados – recorde mundial. “Se realmente não abrir no dia 5 de setembro [data início do período da próxima atualização do Estado], não sabemos o que fazer. Já seguramos ao máximo”, lamentou o empresário Fabiano de Oliveira Ventura, ao Jornal O Imparcial.
Na quarta-feira (26), o prefeito de Osvaldo Cruz e presidente da Amnap (Associação dos Municípios da Nova Alta Paulista), Edmar Mazucato, pediu ao secretário de Estado de Desenvolvimento Regional, Marco Vinholli, para que o Estado faça uma reavaliação quanto aos critérios de enquadramento das cidades da região quanto ao Plano São Paulo de enfrentamento à pandemia.

“Demonstrei ao secretário que cidades como Osvaldo Cruz têm estrutura hospitalar suficiente e dados epidemiológicos que possam permitir uma maior flexibilização de alguns setores da economia. A meu ver, nós não podemos ser sacrificados porque cidades maiores como Marilia (por exemplo) têm índices preocupantes da Covid-19”, disse Mazucato.
A mesma sensibilização é pedida pelo presidente do Sincomercio Nova Alta Paulista (Sindicato do Comércio Varejista), Sérgio Vanderlei. “Nosso Governador e seus assessores estão matando nossa economia, matando nossas empresas. Já está comprovado que são atos equivocados. Os prefeitos estão de mãos atadas, os empresários desesperados, famílias com medo do desemprego. Algo inconcebível”, esbraveja. “Não sabemos mais a quem recorrer e tenho medo de consequências piores, atos graves, movimentos sociais que possam desencadear uma desestabilização civil”.