Quem se lembra dos vinhos branco alemães, em vistosas garrafas azuis que inundavam as gôndolas dos supermercados nas décadas de 80 e 90?
Eram os Blue Nun (freira azul), chamados de liebfraumilch, ou leite de Nossa Senhora. Esse vinho teve uma origem respeitada, pois em Worms há uma igreja chamada de Igreja de Nossa Senhora, cercada de vinhedos, cujo vinho ganhou fama em garrafas azuis. Aproveitando essa fama muitos vinicultores passaram a fazer um vinho com a mistura de várias uvas, predominando a Riesling, de qualidade duvidosa, bem doce, que num primeiro momento ganhou fama mundo afora, mas, passada a febre do cconsumo, caiu em desgraça, prejudicando seriamente a reputação dos Rieslings alemães. Anos se passaram para que os Rieslings alemães voltassem a ser reconhecidos como grandes vinhos dessa casta, ao lado dos Rieslings produzidos na Alsácia (França).
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Embora eu tenha começado falando dos Rieslings alemães, o vinho que estou destacando hoje é da Alsácia (França), que junto com a Alemanha produz os melhores vinhos dessa casta, embora se possa encontrar exemplares bem feitos na Austrália, Nova Zelândia e no Chile.
Trata-se do Riesling Michel Fonné, Tradition, safra 2015, que comprei na Vinunday. Michel Fonné é um vigneron indépendant, isto é, um pequeno vinhateiro que produz e engarrafa os próprios vinhos, o que é garantido e certificado por uma associação francesa existente desde 1976.
Os Rieslings da Alsácia são ligeiramente mais secos e mais encorpados de que os alemães, e o Michel Fonné, de fato, trazia no contrarrótulo a informação de que era dry.
Mesmo não tendo sido proveniente de um Grand Cru, o vinho mostrou excelente qualidade, exibindo todos os predicados de um bom Riesling da Alsácia: cor amarelo brilhante, aromas pronunciados de maça verde, pêssego e casca de limão.
Com certo tempo na taça exalou aromas de manga e um leve toque de petróleo. Sim, os Rieslings um pouco envelhecidos exalam um exótico aroma de posto de gasolina, que na Alsácia é chamado de gout de pétrol (gosto de gasolina), aquele cheiro mineral que sentimos quando enchemos o tanque do carro. Na boca o vinho é muito vivaz, com uma acidez levemente picante, seco, opulento, com certa oleosidade e frescor. Um vinho espetacular para acompanhar comida japonesa, que foi o que eu fiz, ou para harmonizar com frutos do mar, entradas, peixes, carne de porco e comida vegetariana.
Para preservar o frescor da uva o Riesling dificilmente passa por madeira, por isso envelhecem na garrafa. Se for um vinho de qualidade, você pode comprar com até 5/6 anos de safra. Esse que tomei era safra 2015 e estava no ponto, bem maduro, mais ainda repleto de frescor e suculência, com 12,5% de álcool.
O Riesling da Alsácia não é muito barato, mas vale a pena gastar um pouco mais para degustar esse branco.
Não pense duas vezes, procure um exemplar de qualidade e se extasie com seus toques cítricos e de maçã, sua picante acidez, seu cheiro exótico de petróleo e sua oleosidade em boca.
Serviço: atualmente o vinho encontra-se esgotado na Vinunday. Encontrei ofertas de outros Rieslings que compartilho com vocês:
Les Faîtières Riesling 2017, Alsácia, R$ 159,00 na casadovinho.com.br
Dopff au Moulin Riesling Cuvée Europe 2017, R$ 240,00 na divinho.com.br
Uma ótima oferta, mas de Riesling alemão, na mistral.com.br: Mosel Incline Riesling Qba, 2016, R$ 151,57