Tenho procurado fugir do noticiário sobre a Covid-19 e seus danos porque acabo ficando impressionada e dormindo com medo de acordar com falta de ar no dia seguinte. Mas nesses últimos dias resolvi acompanhar mais de perto as notícias pelos mais diversos veículos e confesso que me perguntei: que mundo é esse? E aí me deparei com um texto publicado no Facebook de um colega jornalista, o Eustáquio Moreira, que resume em poucas palavras e sem comentários, esse panorama maluco que vivenciamos nos dias atuais. Segue:
“Passando hoje no Facebook eu li o trecho de uma matéria informando que a pastora evangélica Flordelis alega não ter matado seu marido e explica detalhadamente que, na noite do assassinato, ela havia feito um passeio de carro com ele e, horas do crime, pararam no acostamento escuro para fazer sexo no capô do carro como qualquer casal normal com mais de 30 anos de convívio. Aí, em seguida, eu vi outra postagem de Facebook em que pessoas comuns aparecem pelas ruas de uma cidadezinha do interior correndo ATRÁS de uma enorme onça brava que tentava invadir o portão das residências. Aí na sequência apareceu o promotor da lava jato, o Deltan, com uma carinha de choro, informando que estava saindo fora da operação e que é para a população prestar muita atenção nos olhos de seus filhinhos e, logo em seguida, pintou uma postagem do presidente dos Estados Unidos fazendo ponderações sobre as possivelmente justas razões que levaram um mocinho supremacista branco a matar duas pessoas de cor que passavam pela rua com tiros de um fuzil de calibre militar que ele havia ganho dos pais que, afinal, são pessoas ligadas a movimentos de intolerância racial tão comuns nos dias de hoje. Aí depois eu li que o governo brasileiro vai se empenhar na luta pelo direito sagrado das pessoas não serem constrangidas a ter de tomar a vacina contra a Covid, quando esta vacina existir, e aí então apareceu de bate-pronto um porta-voz informal do Estado brasileiro dizendo que os mortos de Covid, em sua maioria, são na verdade indivíduos que já iriam morrer de uma forma ou de outra. Ou seja, apenas uns poucos mortos não estavam fadados a este fim”.
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Melhor também não comentar. Mas é nítido que estamos vivendo tempos bem estranhos. No meio desse panorama de cenas cômicas, sensíveis e incomuns sinto que nos faltam referências. E que talvez seja o momento de começarmos a rever alguns valores ético e até morais. Gosto de bater na tecla de que é importante ter uma consciência crítica da realidade. Mas para isso, antes de mais nada é preciso ter cultura e conhecimento. Nunca tivemos tanta facilidade de acesso ao conhecimento e nunca o desprezamos tanto.
Como professora que também sou, digo que temos um pouco de culpa nessa história. Os mais jovens e os jovens há mais tempo, só vão se interessar pela cultura, pela filosofia e pela ética se forem incentivados a isso. De qualquer forma penso que chegou a hora de revermos alguns daqueles valores ensinados por nossos pais e avós. Eles estão fazendo falta nesse mundo moderno em que o Ter é mais importante que Ser, em que o Nós dá lugar ao Eu e em que os Fins continuam justificando os Meios, principalmente quando for para favorecer os interesses individuais ou de um pequeno grupo que se sente mais igual do que seu iguais.
Seguimos em tempo de Pandemia.