O Brasil possui um grande número de atletas de alto nível no atletismo, que cada vez mais conquistam espaço e estão entre os melhores em suas modalidades. Corredores de pista ou de rua, a busca é a mesma por resultados, muitas vezes sem o apoio comum a outros esportes.
O adamantinense Marcelo Henrique Rocha é um destes exemplos que batalha na conquista de seus sonhos. E, no último sábado (28), a luta muitas vezes solitária resultou em mais uma vitória: primeiro lugar na etapa de Indaiatuba (SP) do Brasileiro de Ultramaratona de Atletismo. Com isso, ele conquistou vaga no Mundial que acontecerá na Croácia, em 2021, quando representará a Seleção Brasileira na modalidade.
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Marcelo se junta a outros adamantinenses que se destacam neste esporte, como Lucas dos Santos Marcelo (salto em distância) e Isabela Rodrigues da Silva (arremesso de peso e lançamento de discos). Nomes que levam Adamantina para o cenário nacional, e até internacional, do atletismo.
UMA TRAJETÓRIA DE CONQUISTAS
Marcelo Rocha iniciou a trajetória nas corridas com 10 anos, incentivado pelo irmão mais velho. Há 11 anos funcionário dos Correios, em Adamantina, o atleta alia a rotina de trabalho com os treinos e a família, já que é pai de três crianças: Maria Clara (10 anos), Marcella (8) e Benjamim (6).
Mesmo com a rotina, muitas vezes corrida – literalmente –, o adamantinense não deixa sua grande paixão de lado, se dedicando diariamente ao atletismo. Ele já participou de mais de 50 maratonas oficiais no Brasil e duas internacionais, na Holanda. São aproximadamente 1 mil provas disputadas em todas as distâncias.
Na lista de competições, o atleta de Adamantina já representou o Brasil no Mundial de Cross, na Bélgica, e participou de oito corridas de São Silvestre. Ele já venceu mais de 200 provas, de diversas distâncias, nos últimos 12 anos: pódio de maratonas em Florianópolis (SC) e Curitiba (PR); top 10 por duas vezes na Maratona de São Paulo; e venceu outras duas vezes Mizuno Uphill na Serra do Rio do Rastro (SC), e ficando na segunda e terceira colocações nas duas edições seguintes.
A história de Marcelo conta ainda com vários recordes, como na Ultra Grandes Lagos em Jales 65k e na etapa BR em Presidente Prudente 50k com melhor marca na distância em 2019.
“Vencer os 100k logo na estreia não foi mera sorte, já venho fazendo uma base a longo prazo e os treinos focados para a competição deram resultado. Faço esporte por amor e por fazer parte da minha história, a corrida gira em torno de tudo que faço”, destaca.
VITÓRIA DO FIM DE SEMANA
O resultado no último fim de semana é fruto de muita dedicação. Marcelo explica que trabalha oito horas por dia e, mesmo com o cansaço, não deixa de fazer o que ama, treinando antes e depois do expediente de trabalho. “Aproveito o final de semana para fazer maiores volumes”, explica.
E essa rotina de dedicação resultou na vitória da Ultramaratona de Indaiatuba, que reuniu mais de 200 atletas participantes. Campeão dos 100 km, com 7h19m47, Marcelo Rocha conseguiu índice para ingressar na Seleção Brasileira de Ultramaratona. Assim como a curitibana Luciana Beatriz (9:28:42).
“Venceu os 100k foi maravilhoso, um sonho realizado. Há dois anos vinha estudando uma fórmula de fazer este tipo de prova, a pandemia de covid-19 trouxe muitas mudanças e acabei aproveitando os cancelamentos de muitas provas para fazer mais volumes. Planejei os treinos de acordo com as características da prova e deu tudo certo! Fazer o índice foi um presente, entrei na prova para terminar os 100k sem caminhar, acabei acelerando no início e recuperando uma boa passada nos últimos 20km”, comemora.
O resultado possibilita ao competidor disputar o Mundial que acontecerá na Croácia, em 2021. “Prova muito importante, distância que muito brevemente entrará no programa olímpico. Talvez pela idade não consiga ir, mas existe uma galera nova chegando para fazer bonito lá fora”, pontua Marcelo. “Poder representar as cores do nosso país é o ápice para qualquer atleta, motivação para continuar lutando e evoluindo. Quero poder manter um bom nível na competição e poder baixar essa marca das 7h”, disse.
Porém, aos 48 anos, Marcelo se preparará para a disputa do Mundial. “A preparação vai ser mais apurada e incrementada, com mais cuidado na recuperação, com pós treinos mais longos. Focar um pouco mais na alimentação e hidratação, buscar informações sobre o ambiente e clima do local da prova na época e treinar focado nestas características”.
FALTA DE APOIO
Mesmo com as conquistas, o atleta de Adamantina sofre como muitos praticantes de esportes não tão populares pela falta de apoio. “Atualmente não temos patrocínio ou qualquer parceria oficial, porém, nunca estamos sozinhos, sempre existe um anjo para nos ajudar e geralmente os próprios atletas se ajudam, sou muito abençoado por sempre ter uma força nas grandes batalhas. O poder público só consegue ajudar na base, papel importante que não deve ser deixado de lado. Quando se fala em competição e resultado, o atleta infelizmente tem que vencer primeiro para ser visto. Existe uma cultura voltada mais para alguns esportes, políticas públicas têm que fomentar para valer o esporte”.
Além de ser funcionário dos Correios, o atleta de maratona é ainda coach de corrida amador. “Nesta trajetória tiro a lição de tudo que sonhamos devemos viver e realizar. Vivo para deixar um legado positivo de persistência, resiliência e que trabalhar duro dá bons frutos”, finaliza em entrevista ao IMPACTO.