Quando atuei como dirigente educacional numa instituição de ensino superior universitária tive oportunidade de conhecer um ilustre educador brasileiro que participava de conferências e seminários internacionais, o catarinense Dilvo Rostof.
O professor Dilvo, ex gestor da Capes, do INEP e de tantos outros órgãos públicos da educação federal, me presenteou com um livro de sua autoria que sintetiza os eventos importantes que participou.
Um deles, hoje, nos chama a atenção. Foi a segunda WISE (Cúpula Mundial de Inovação Educacional) realizada em Doha, no Catar. O WISE Prize era o Prêmio Nobel da educação e o Catar recém fora premiado para ser sede da Copa do Mundo de 2022, essa que começa em novembro e que já provoca um frisson especial em nós brasileiros, sempre atentos às performances da canarinho.
Tecnologia a serviço da
Copa e da educação.
O Catar, desde então, 2009 – ano daquela conferência sobre educação e inovação- vem trabalhando firmemente naquela que será, sem dúvida, a copa mais tecnológica da história. Os cataris sabem que, pelo horário privilegiado das competições, Doha será vista, no horário nobre, por mais de 3.2 bilhões de pessoas e assim executam um plano minuciosamente orquestrado.
Saindo um pouco dos gramados e do esporte bretão, e voltando a educação, é sabido que o país investiu nesse setor mais de três vezes o que investiu para organizar a copa de futebol. Dilvo me contou – e isso está escrito às páginas 15 e 16 de seu livro “Construindo Outra Educação” que as conferências da WISE reuniram mais de duas mil pessoas entre professores, gestores, políticos, empresários, empreendedores sociais, especialistas em informática. Gente da Nokia, Microsoft, Unesco, Banco Mundial entre outros. Redesenharam-se então, em diferentes letras, as bibliotecas e reinventou-se a pedagogia. Tornou-se possível ao aluno receber, no dia de seu ingresso na universidade, toda a bibliografia exigida em seu curso, podendo levar, na sua mochila, no seu celular ou Ipad uma biblioteca maior e melhor que a da maioria das nossas faculdades.
Tecnologicamente, sem prever o futuro, prepararam-se para não perder momentos de aprendizagem durante a terrível pandemia da covid-19. Consolidaram o modelo EAD com instrumentos de tecnologia e de comunicação super avançados.
Quem visita Doha, me dizia Dilvo, deve visitar a Education City, um campus multi institucional e internacional. Nele estão presentes oito universidades do mundo, convivendo em harmonia com os alunos dos estudos islâmicos, seus valores e tradições. O projeto já transformou Doha num grande centro internacional de pesquisa e agora muito disso será mostrado, aproveitando a cobertura de milhares de jornalistas internacionais que passarão quase um mês por lá para cobrir a Copa do Mundo.
Diferente por aqui
Por aqui o desenho foi, infelizmente, muito diferente. Depois da Copa do Mundo e até mesmo das Olimpíadas no Rio de Janeiro, o que se viu foi o não aproveitamento do gasto excessivo na construção de estádios e das instalações construídas em detrimento de investimentos no setor educacional.
Os novos educadores precisam estar antenados à nova realidade. O Twiter foi uma ferramenta rudimentar, mas que se aproveitou, na época de sua criação, da existência de mais de 4.5 bilhões de celulares e mais de um bilhão de contas de internet.
O conhecimento disseminado nas mídias sociais
Entramos na era que o conhecimento pode advir de múltiplos sítios eletrônicos, não mais exclusivamente de gênios iluminados, mas por cidadãos comuns envolvidos com seus afazeres diários e que, com o Google à disposição, contestam médicos, às vezes chegando perto da verdade, a originalidade do artista, a sapiência do professor.
O nosso docente precisa estar preparado para essa nova realidade, para o novo aluno que demanda por experiencias vividas, práticas, menos por lições acadêmicas e teóricas; o aluno que quer aprender por metodologias ativas construindo seu conhecimento como protagonista e não como mero espectador e coadjuvante da informação passada. E já rodado das novas ferramentas tecnológicas a serviço da educação.
Na Copa do Mundo de futebol temos alguma chance. Já na educação …
*Eduardo Fonseca é jornalista, advogado e educador