Em 1977, comemorava-se o trigésimo aniversário do MASP- Museu de Arte de São Paulo. Como parte das celebrações, o jornalista Leon Cakoff foi convidado por Pietro Maria Bardi, diretor do Museu, a organizar um evento especial no mês de outubro. Cakoff optou por organizar um festival de cinema. Por carta, cinquenta e duas embaixadas e consulados de países estrangeiros foram convidados para participar. A partir do dia 16 de outubro, foram apresentados nos auditórios do MASP vinte e cinco filmes de dezesseis países.
A Mostra, organizada por Cakoff trazia algumas novidades em sua organização. Certamente, a maior de todas era o voto do público. Apesar de ser um evento não competitivo, a Mostra de São Paulo concedeu aos espectadores o direito de dar uma nota aos filmes assistidos. Isso era uma novidade em termos de festivais de cinema e extremamente simbólico no cenário político do Brasil, país que estava há 13 anos sob um regime militar ditatorial e que desde 1960 não realizava eleições diretas para presidente da República.
De lá pra cá a Mostra, hoje em sua 46 edição, foi crescendo em público e principalmente em quantidade e qualidade de filmes apresentados. Foram mais de 300 este ano e mesmo após a morte de Cakoff, seu criador, Renata Almeida, sua companheira, prossegue na produção e organização. O evento, sempre em outubro, é um dos mais significativos do cenário cultural paulistano.
A Mostra é uma viagem global pelo universo cinematográfico trazendo participantes e vencedores de diversos festivais internacionais como o de Cannes, Veneza, Berlim, Locarno e Toronto.Como cinéfilo inveterado, assisto a uma média de 40 filmes durante o período de realização e testemunho o conceito vanguardista e até disruptivo da Mostra que, esse ano teve filmes de realidade virtual, filmes on line, sempre com a presença dos diretores e atores que, muitas vezes, nas sessões, respondem críticas e dúvidas do público presente.
A Mostra, este ano, foi até 3 de novembro e quem pode, tive mais uma vez o privilégio, assistiu trabalhos que, dificilmente entram no circuito comercial apesar de premiados lá fora. Imperdível para os amantes da sétima arte.
Em São Paulo para votar, fim de semana de segundo turno das eleições, Marcia, minha esposa, vota na Avenida Paulista, aproveitamos para visitar o remodelado Conjunto Nacional e suas livrarias; almoçar no Center 3, o primeiro shopping da rua Augusta; rever o Instituto Moreira Sales com suas exposições sempre vanguardistas como a “Moderna pelo Avesso”, fotografias registrando fatos imperdoáveis como a destruição do Morro do Castelo e da Igreja dos Capuchinhos no Rio de Janeiro.Em frente ao Masp momento crucial de campanha política, Lula fazia sua última aparição antes do pleito com a presença do ex-presidente do Uruguai Mujica. Continuando a marcha, lanche rápido no SESC Paulista e subida no mirante mais alto da região, vista de todo o entorno da mais paulista das avenidas. Programa gratuito e imperdível até porque ao lado, o Itaú Cultural apresentava, também gratuitamente, para os amantes da televisão e do teatro, exposições da dama do teatro brasileiro, Tônia Carrero e do grande autor das telenovelas globais, Dias Gomes.
Aproveito, às vezes, essa coluna, para ousar sugerir aos leitores que visitem mais, quando puderem, a capital de seu estado. No momento em que a próxima edição deste jornal circular, por exemplo, os motores dos bólidos da Fórmula 1 estarão roncando aqui em Interlagos. O Cirque du Soleil tem performance no parque Villa Lobos, o rei Roberto Carlos estará no espaço das Américas. E a Arena do timão assistirá a última partida do Brasileirão 2022: Corinthians x Internacional.
Mas se preferir prestigie as atividades culturais da cidade jóia que também tem cinema, teatro na biblioteca, shows musicais no parque dos pioneiros, cafés, bares e churrascos por todo lado. Ahhh …. eu ia me esquecendo. Só não briguem por causa de políticos pois ninguém merece né. Muito menos eles…
*Eduardo Fonseca é jornalista, educador e advogado