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Adamantina
domingo, 27 abril, 2025

Simplesmente, Toninha

por JOÃO VINÍCIUS FAUSTINO | fotos SANDRA RIGATO

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A Arca (Associação dos Renais Crônicos de Adamantina) certamente é uma das instituições mais conhecidas – e respeitadas – da cidade. E o trabalho desenvolvido pela entidade está atrelado ao nome de sua fundadora. Antônia Maria da Conceição, chamada carinhosamente de ‘Toninha’, é exemplo de dedicação ao trabalho social.

Este “chamado de Deus” iniciou em período que a vida a surpreendia diariamente com obstáculos. Mas a perseverança sempre a guiou. E, hoje, ela vai às lágrimas ao relembrar a história, marcada, principalmente, por proporcionar dias melhores aos portadores de renais crônicos.

Natural de Sagres, Toninha mudou-se ainda jovem para a região de Adamantina. Sua família sempre morou na zona rural, onde aprendeu o valor da partilha, já que era a filha do meio entre 13 irmãos.

E partilhar sempre fez parte de sua essência. Primeiramente, ela desejou compartilhar educação ao se formar como professora. Neste período, ela começou a trabalhar na cidade, mudando-se para São Paulo.

Com a separação do marido, e dois filhos pequenos no colo, Toninha resolveu voltar para Adamantina. Nesta época, recebeu o convite para trabalhar na Santa Casa, onde já havia atuado. Porém, nunca teve o desejo de lidar diretamente com a saúde. Isso em 1993.

“Aceitei o estágio, mas não queria Enfermagem. Porém, tinha aluguel para pagar, uma família para sustentar. Ingressei na Santa Casa e logo fui contratada. Com isso, iniciei o curso de Auxiliar de Enfermagem ao mesmo tempo que trabalhava e cuidava de minhas duas crianças. Quando se quer, você faz!”.

Em paralelo à intensa rotina, Toninha ainda era manicure para complementar a renda familiar. E durante visita a uma de suas clientes, que era médica, ela recebeu o convite para atuar no Setor de Hemodiálise.

De início, Toninha não aceitou. Porém, nas férias, deu suporte ao setor, o que marcou o começo do trabalho com os renais crônicos. “Logo que entrei, em 1997, vi um moço chorando, que não contava o motivo para ninguém. Aos poucos fui criando confiança, e ele relatou que havia se alimentado na Hemodiálise, mas não tinha comida para dar aos filhos, nem arroz. Ele tinha criança, e eu também. Desta forma, fiquei ainda mais compadecida”.

Com isso, ela mobilizou alguns familiares, amigos e companheiros de trabalho para a compra de uma cesta básica ao paciente. E pediu para entregar na residência dele. “No outro dia, o encontrei e ele disse que este ato só Deus conseguiria retribuir. Em nenhum momento havia dito que tinha sido eu, como meu pai sempre ensinou, de ajudar, mas não se vangloriar”, relembra.

Depois, ela colocou uma caixa no relógio de ponto da Santa Casa, onde as pessoas faziam doações. E, desta forma, Toninha começou a ajudar os pacientes, marcando o início da instituição. “Disse que fundaria uma Associação e as pessoas falavam que eu era louca, que estava arrumando para minha cabeça. Foi quando um paciente disse que em Tupã havia uma entidade similar. Fui lá, peguei o estatuto, estudei, fui atrás de parceiros e fundei a Arca”.

A entidade foi oficialmente instalada em 9 de setembro de 1999. “Ninguém acreditava no meu trabalho, mas, aos poucos, fui aumentando o número de doações de cestas básicas. Sai de uma sala cedida da Santa Casa e aluguei uma casa, o que fez as pessoas acreditarem mais no propósito da Arca”, explica. “Saía com uma sacola para pedir ajuda. Não peço ajuda para mim, mas, aos pacientes, meto a cara”.

Hoje, a Arca é referência regional, atendendo cerca de 90 pacientes mensalmente, com suporte no próprio hospital e também em sua sede. Há ainda o fornecimento de cestas básicas, complementos nutricionais, fraldas geriátricas e roupas, pagamentos de médicos e remédios, além de apoio psicológico. “Meu pai faltava dois meses para completar 100 anos, quando morreu. Ele rastelava, carpia, fazia tudo. E me dizia: cuida bem desses pacientes, você trabalha na sombra, toma água fresquinha. Então, tem que tratar bem as pessoas”.

E, mesmo aos 66 anos, Toninha se mantém forte na causa, carregando os valores do patriarca da família. “Deus revigora aqueles que praticam o bem!”

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