
Quem chega ao consultório do cirurgião Mario Gregorio, no centro de Adamantina, se depara com alguém de face serena. De fala tranquila e pontuada, ele transmite de imediato uma agradável sensação de confiança e acolhimento. Em entrevista à VOX, o médico conta a trajetória incomum, já que deixou a Capital paulista em favorecimento de um estilo de vida possibilitado por uma cidade pequena.
O DESPERTAR DE UMA VOCAÇÃO
Mais velho entre três irmãos, Mario é nascido no Paraná e criado, desde muito novo, em São Paulo. Ainda criança, ele foi diagnosticado com asma grave, tornando-o figurinha carimbada em clínicas de pneumologia. Esse contato precoce com a área da saúde contribuiu para o despertar do interesse pelas ciências biológicas, embora essa pré-disposição já fosse evidenciada pela leitura de livros e revistas alusivas à área, como a Superinteressante (publicação de divulgação científica e cultural).
Na adolescência, Mario começa a praticar Handebol, iniciando o contato com a Medicina, pois seu técnico também comandava a equipe da Faculdade Paulista de Medicina. Neste período, o jovem atleta também inicia a busca por informações sobre a rotina de estudos com seus futuros colegas de profissão.
Em 2000, já completamente convencido do chamado, Mario passa em diversos vestibulares, ingressando na instituição particular mais renomada do país: a Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

O INÍCIO DA TRAJETÓRIA
Uma das versões mais emblemáticas dele é a ânsia pelo conhecimento. Desde a juventude considerado um dos melhores alunos nos colégios em que frequentou – fato que esconde, sendo delatado pela esposa Vanessa Vancini Gregorio durante à entrevista –, o foco nos estudos continuou nos seis anos de graduação. “Ele sempre foi um crânio, não conheço alguém mais estudioso e dedicado em tudo o que faz, mas não gosta de falar”, dedura Vanessa, entre risos.
Mario explica que durante a faculdade, os primeiros anos são disciplinas básicas para compreender todo o contexto do corpo humano. A partir do terceiro, os alunos começam a ter contato com especialidades. “E, durante este período, temos atividades extracurriculares, que possibilitam mais convívio com áreas de interesse”, explica.
Definido como uma pessoa direta, ele logo se identificou com a área cirúrgica por ser “mais objetiva”. “Entrei para uma equipe de instrumentação cirúrgica, auxiliávamos os cirurgiões fora do currículo acadêmico, o que possibilitava um contato maior com cirurgia geral”.
Nos quinto e sexto anos, os alunos de Medicina integram o Internato, agregando a prática junto aos residentes e preceptores. “Foi quando passei em cirurgia plástica na atividade eletiva, tendo certeza do caminho que gostaria de construir”.
Após a graduação, Mario realizou residência médica em cirurgia geral e, posteriormente, estudos específicos em cirurgia plástica, concluindo os cursos mais uma vez com destaque: qualificado em primeiro lugar na turma. Logo após a formação, realizou a prova de especialidade, tornando-se membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
Em 2014, atuou no Hospital Sírio-Libanês – uma das principais referências médicas do país -, período em que acompanhou doutores renomados e, com isso, aprimorou as técnicas cirúrgicas, em especial a cirurgia mamária.

DA CAPITAL AO INTERIOR
Durante a faculdade, o então estudante aproveitava as férias para adquirir mais conhecimento. Por eventualidade, um familiar (cirurgião em Andradina) convidou Mario a assessorá-lo, iniciando o contato com a região. “Neste período, ele foi me convencendo a atuar por aqui, ressaltando os diversos pontos positivos de uma vida no interior. Desde a carreira na medicina – havendo um vínculo maior com pacientes -, até o cotidiano, devido a qualidade de vida e segurança superiores ao que eu tinha na Capital”, conta.
A ideia inicial de Mario era se mudar para Andradina ou até mesmo Três Lagoas (MS). “Mas, como meu primo também atuava em Lucélia, aonde vinha uma ou duas vezes ao mês para realizar consultas e cirurgias, me ofereceu para trabalhar por aqui, já que estava cansado da rotina de viagem”.
É em 2015, então, que o médico decide se mudar permanentemente para Adamantina. Na fase inicial, como não conhecia bem a região, contou com auxílio de outros profissionais – em especial, o primo, o Dr. Josué Okabayashi e sua esposa e os responsáveis pela Clínica Bonini, local no qual Mario estabeleceu seus atendimentos e está até hoje. “Só tenho gratidão por toda ajuda e acolhimento”, ressalta.
Atualmente, Mario realiza uma vasta gama de procedimentos cirúrgicos invasivos e não invasivos, não só em Adamantina, mas também em cidades vizinhas. Mais de uma vez pacientes vieram até mesmo de fora do Brasil para se submeter aos cuidados do especialista.

Além dos atendimentos, o médico encontra tempo para compartilhar sua experiência com os alunos do quarto e quinto anos da Faculdade de Medicina do Centro Universitário de Adamantina. Lá, ele leciona a disciplina de Cirurgia Plástica e Técnicas Cirúrgicas, desde 2016. “Tento passar para os alunos um pouco do conhecimento adquirido durante minha formação, de forma prática, mas sem deixar de transmitir os valores necessários”. Complementarmente, o médico atua no ambulatório da Santa Casa de Adamantina, onde executa pequenas intervenções como parte do conteúdo programático do Internato da faculdade.
Nestes oito anos no interior, o médico se mostra satisfeito com suas escolhas. “Tenho aqui coisas que absolutamente nunca teria em minha vida. Gosto de São Paulo, sempre que possível vou para lá, mas aqui tenho deslocamento fácil, acessibilidade, resolvo meus problemas mais rápido, mais segurança. Enfim, conseguimos ter um estilo de vida muito mais saudável em Adamantina”.
BRAÇO DIREITO
Nesta “aventura” por terras desconhecidas, Mario contou com uma grande aliada: a esposa Vanessa. Unidos desde 2007, o casal trabalha em conjunto. Durante a conversa, percebe-se uma complementariedade até mesmo no jeito de ser de ambos, já que possuem personalidades que se agregam. “As diferenças se complementam”, brinca Vanessa. “Ele é mais calmo, já eu sou mais agitada, então, estes contrastes são essenciais para lidar com os desafios do dia-a-dia”.
Em quase uma década de Adamantina, os dois foram se desenvolvendo. Enquanto Mario mantinha seu aprimoramento contínuo, com novas especializações, pós-graduações e cursos tanto no Brasil como no exterior, Vanessa também buscava mais conhecimento. Pós-graduada em Administração e em Marketing pela FGV, além de extensa carreira no setor de aviação executiva na TAM, transportou para a administração da clínica toda sua expertise. Ela complementou o currículo com uma formação em Gerenciamento de Clínicas Médicas, adquirindo habilidades específicas para a gestão dos negócios.

“Foi fundamental para mim”, pontua Mario. “Durante nossa formação, não adquirimos conhecimento de como gerenciar um consultório. Aprendemos a atender o paciente. E, no início, era estranho ter que explicar todos os processos e, do nada, mudar o foco da conversa para os aspectos financeiros. Então, o papel da Vanessa foi e é essencial, já que consigo manter a alma apenas no objetivo do atendimento”.
E este complemento propicia uma atenção mais humanizada aos pacientes, que contam com um outro olhar na compreensão de seus objetivos. “Realizamos o que chamamos de “Jornada do Encantamento”, com uma experiência singular do pré ao pós-procedimento. Nossa intenção é concretizar o sonho do paciente, ouvindo e identificando realmente qual a sua necessidade. Para isso, temos que estar de corações abertos para compreender a realidade de cada um”, explica Vanessa.
FOCO E DISCIPLINA
Neste momento deixaremos o Dr. Mario Gregorio de lado para conhecermos um pouco mais sobre ‘Guto’, como é carinhosamente chamado por familiares e amigos. E é impossível tratar de sua juventude sem adentrarmos ao mundo do esporte e, mais especificamente, do Handebol paulistano.
Na adolescência, a modalidade conferiu a Mario características essenciais que ele carrega até os dias de hoje. Na época, o jovem atleta atuou profissionalmente em um clube associado à FPH (Federação Paulista de Handebol) e integrou também a equipe universitária, período em que foi vice-presidente da Associação Atlética de sua instituição. “A atividade física sempre foi essencial em minha vida. Na verdade, foi o que me trouxe disciplina. O que tenho hoje na Medicina, grande parte veio justamente do esporte”, destaca.
Atualmente, ele continua buscando manter o físico em dia, praticando artes marciais e, mais intensamente, musculação. “Tenho uma rotina complexa e, mesmo sempre dedicando parte do dia para estudar, não pode faltar o esporte”. Mario também é certificado como mergulhador profissional pela NAUI (National Association of Underwater Instructors).
Outras curiosidades sobre o cotidiano de Mario: ele é um entusiasta de jogos eletrônicos e se justifica: “Videogame te dá uma percepção geral, de foco e destreza para fazer as coisas”. Também é churrasqueiro de mão cheia, connoisseur de gastronomia e assume o amor incondicional pelo seu Pitbull , o Armin, que o acompanha em passeios diários pelo Parque dos Pioneiros.
O médico tem amplo interesse por obras de ficção, citando as sagas de Bernard Cornwell, George R.R. Martin e Tolkien como as favoritas. Tem preferência pelo rock clássico e também a música eletrônica, tendo sido frequentador de alguns festivais. “Hoje nem tanto”, brinca Mario.

A BASE
Nesta jornada intensa, aliando os compromissos pessoais com os profissionais que exigem 24 horas de dedicação, outro aspecto é fundamental: a humildade. E a modéstia não é uma autodefinição, mas, sim, uma qualidade que se percebe em atitudes.
Durante toda a entrevista à VOX, o médico destaca parceiros de caminhada, além de ressaltar a busca incessante pelo aprendizado, visando oferecer o atendimento mais adequado. “Todo médico tem uma função. E, talvez, seja um dos únicos profissionais que se compadece pelo próximo. E quando há algum problema, vive a situação juntamente com o paciente. Por isso, busco somar forças com outros especialistas, vou atrás constantemente de informações, me atualizo já que a evolução é permanente, para atingir o objetivo do paciente da melhor forma possível. É o sonho dele que estou lidando”.
E estes valores são trazidos da base familiar. Filho dos empresários Mario e Alzira e irmão de Rafael e Felipe, ele ressalta os ensinamentos familiares na construção de sua personalidade. “Sempre houve muito diálogo em minha casa. E juntamente com os preceitos adquiridos nos colégios religiosos que estudei, de ter um olhar de cuidado com o próximo, me guiam até hoje na minha profissão”.
Ele diz ainda que se sente um adamantinense e não tem planos de deixar a cidade. “Que sorte a nossa!”
Este “coração puro”, conforme pontua a esposa, faz do Mario uma pessoa querida entre todos. “Nosso objetivo é continuar evoluindo e mantendo a qualidade do atendimento de uma cidade grande em um município menor, mas sem deixar de reconhecer o que nos trouxe até aqui”, finaliza o cirurgião plástico.