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terça-feira, 12 agosto, 2025

Projeto de proteção à mulher em Adamantina ganha destaque nacional

Iniciativa ‘Soul Feminina’, idealizada pela juíza Ruth Menegatti, alia educação, assistência social e justiça no enfrentamento à violência de gênero

Juíza de Direito Ruth Duarte Menegatti e a delegada da DDM (Delegacia de Defesa da Mulher), Patrícia Tranche Vasques, durante entrevista ao IMPACTO | Foto: João Vinícius Faustino/IMPACTO

Dados da SSP (Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo) mostram aumento na quantidade de registros de medidas protetivas em Adamantina, saltando de 116 em 2023 para 176 registros em 2024. Esses números referem-se exclusivamente aos casos encaminhados pela Polícia Civil ao Judiciário, não representando o total de medidas protetivas concedidas no município.

Para a juíza de Direito Ruth Duarte Menegatti e a delegada da DDM (Delegacia de Defesa da Mulher), Patrícia Tranche Vasques, esse aumento está diretamente ligado ao fortalecimento das políticas de proteção, à conscientização e à ampliação do acesso à informação por parte das mulheres vítimas de violência. Ambas atuam em conjunto, e com diversas parcerias, em uma das iniciativas de maior impacto regional: o projeto Soul Feminina.

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SOUL FEMININA

Idealizado pela juíza Ruth Menegatti, o Soul Feminina tem promovido reflexões sobre propósito de vida, empoderamento feminino e enfrentamento às desigualdades de gênero em toda a região. Atuando em ambientes que envolvem educação e assistência social, o projeto se desenvolve em parceria com diversas entidades, como a Polícia Civil, configurando-se como um movimento de transformação social e incentivo à formulação de políticas públicas.

Lançado oficialmente há um ano, o projeto já realizou diversas ações com foco na transformação da realidade por meio da educação. No entanto, sua origem remonta a 2018, dentro do escopo do Roteiro Único de Trabalho Humanizado, lançado em Adamantina e ampliado para outras cidades da região.

Entre as ações de destaque estão a Cartilha da Mulher, que trabalha conteúdos de direitos femininos e vem sendo aplicada em diversos espaços, e o Calendário da Vida, elaborado em parceria com reeducandas da Penitenciária Feminina de Tupi Paulista – essa produção foi apresentada no 2º Seminário Técnico-Científico da Revista Brasileira de Execução Penal, promovido pela Senappen (Secretaria Nacional de Políticas Penais), em Brasília, no último dia 29 de maio.

Juíza Ruth Menegatti no 2º Seminário Técnico-Científico da Revista Brasileira de Execução Penal, em Brasília | Foto: Arquivo Pessoal

“A ideia do Soul Feminina surgiu do desejo profundo de promover a igualdade de gênero e capacitar mulheres em diferentes aspectos de suas vidas. Propus esse desafio à psicoeducadora Denise Alves Freire, e nos unimos para criar algo que realmente pudesse fazer a diferença. Nosso primeiro passo foi reunir um grupo de especialistas, incluindo a neuropsicoeducadora Denise Conde Godinho e a cientista da educação Fátima Duarte Pacheco. Juntas, desenvolvemos o Roteiro Único de Trabalho Humanizado, um método que aborda o desenvolvimento profissional, pessoal e emocional das mulheres”, explica a juíza Ruth Menegatti.

Desde então, o projeto alcançou diversos espaços dedicados à educação e assistência social. “Abordamos também formas de violência contra a mulher e apresentamos estudos de casos reais para estimular o autoconhecimento e o fortalecimento pessoal. Atualmente, atuamos em núcleos distintos: escolas da rede estadual, serviços especializados do município, hospital psiquiátrico, penitenciárias feminina e masculina, além de universidades, por meio de projetos de extensão”, complementa a magistrada.

 

PARCERIA COM A POLÍCIA CIVIL

Uma das frentes mais relevantes do projeto é o combate à violência contra a mulher, realizado em estreita colaboração com a DDM de Adamantina. A iniciativa busca desconstruir paradigmas como o antigo ditado “em briga de marido e mulher não se mete a colher”.

“Nosso objetivo é, principalmente, promover a defesa da mulher em situação de violência e evidenciar suas potencialidades, mas também conscientizar a sociedade sobre causas historicamente negligenciadas. Hoje, não se pode mais ignorar esse problema”, destaca Dra. Patrícia.

Esse novo posicionamento abrange também instituições como o Poder Judiciário, que tem atuado para rever estruturas sociais e promover a equidade com responsabilidade.

“Nosso trabalho é cuidadoso, visando não criar novos conflitos ou divisões, mas sim mostrar que valores podem ser ressignificados. Queremos colocar o homem como defensor da mudança e a mulher não mais como vítima, mas protagonista da própria história, refletindo sobre sua trajetória e seus objetivos”, afirma Dra. Ruth.

Com o intuito de ampliar o alcance do projeto, a partir de agosto o Soul Feminina inicia uma nova ação: grupos reflexivos para homens autores de violência, em parceria com a Secretaria de Assistência Social de Adamantina e com a participação de alunos da FAI (Centro Universitário de Adamantina). “O projeto oferece um espaço seguro para refletir sobre a violência e reconstruir relações saudáveis por meio da educação”, reforça a juíza.

Com 31 anos de atuação na DDM, a delegada Patrícia ressalta a importância da abordagem educativa do projeto, que vai além da repressão: “Os papéis sociais precisam ser redefinidos. Quem ofende a mulher, atinge toda a família. Por isso, essas ações são tão importantes, pois promovem um novo olhar também para o homem, que, inclusive, é protegido pela lei em casos de denúncias falsas. O essencial é oferecer mecanismos para que se possa viver relações saudáveis e seguras”, finaliza.

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