
A adamantinense Jenifer C. Fernandes Ferreira e o mariapolense Lucas Pimenta Ventura representaram a região de Presidente Prudente na 5ª Conapir (Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial), realizada de 15 a 19 de setembro, em Brasília (DF).
O evento, que retornou após sete anos, aconteceu no Centro de Convenções Ulysses Guimarães e teve como tema “Igualdade e Democracia: Reparação e Justiça Racial”. Foram dias de intensa programação, reunindo mais de 2 mil pessoas por dia, entre delegados, autoridades, representantes da sociedade civil e movimentos sociais de todo o país.
Eleita delegada em julho, ao lado de Gleidson Tadeu, Jenifer viajou à capital federal acompanhada do suplente convocado Lucas Pimenta. Juntos, participaram dos debates e da construção de propostas que nortearão políticas públicas voltadas à população negra e demais comunidades representadas.

A seguir, os delegados compartilham suas impressões sobre a conferência e os desafios da luta pela igualdade racial:
IMPACTO: Como foi para você representar Adamantina e a região de Presidente Prudente na 5ª Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial?
Jenifer Fernandes – Fiquei imensamente feliz e honrada por representar Adamantina e a região de Presidente Prudente na 5ª Conapir. Estar nesse espaço foi uma oportunidade de ser porta-voz das necessidades do meu povo e, ao mesmo tempo, de refletir sobre toda a trajetória, os desafios e as incertezas que enfrentamos para garantir essa participação. Foram dias intensos de aprendizado, trocas e construção coletiva, que reforçaram em mim a responsabilidade e a confiança que nos foram depositadas.
IMPACTO: Qual foi a importância da Conapir para a construção de políticas públicas voltadas à população negra e demais comunidades representadas?
Lucas Pimenta – Foi fundamental para criar um espaço democrático de escuta e construção coletiva, reunindo governo, sociedade civil e movimentos sociais para debater desigualdades históricas, propor ações afirmativas e alinhar estratégias nacionais e locais. Sua importância está em legitimar as demandas da população negra e demais comunidades representadas, transformando reivindicações em diretrizes que orientam planos, programas e políticas públicas concretas.
IMPACTO: Quais principais temas e debates mais chamaram sua atenção durante o evento em Brasília?
Jenifer Fernandes – A programação foi estruturada em três grandes eixos: democracia, justiça racial e reparação. Participei do eixo Justiça Racial, que se desdobrou em seis grupos de trabalho. Os debates envolveram saúde da população negra, permanência na educação, direitos culturais, acesso ao trabalho e renda justa, assistência social, segurança pública, enfrentamento às violências e a importância de uma política de comunicação antirracista. Cada tema trouxe contribuições valiosas para políticas públicas mais efetivas e transformadoras.

IMPACTO: Como você avalia a participação da delegação paulista, especialmente no diálogo com representantes de outras regiões do Brasil?
Lucas Pimenta – A delegação paulista foi uma das maiores e se destacou pelo comprometimento em dialogar de forma colaborativa. Foi um momento rico de troca de experiências entre representantes do interior, da capital e de diferentes setores. O diálogo com outras regiões enriqueceu a visão coletiva, permitindo compreender as especificidades locais dentro de um contexto nacional.
IMPACTO: Quais propostas ou encaminhamentos discutidos na conferência você acredita que podem trazer impactos mais imediatos para a nossa região?
Jenifer Fernandes – Em cada eixo foram selecionadas 15 propostas, totalizando 45. Já temos alguns avanços concretos, como a implantação do COMPIR em Adamantina, a obrigatoriedade das leis que garantem o ensino da história e cultura africana, afro-brasileira e indígena, e a criação do Centro de Referência – a Casa Afro. O importante é destacar que tudo só se torna possível com a participação efetiva da sociedade civil.
IMPACTO: Na sua visão, quais são hoje os maiores desafios enfrentados pela população negra no interior paulista?
Lucas Pimenta – Os principais desafios estão ligados à desigualdade no acesso à educação de qualidade, oportunidades de trabalho, saúde e segurança. Há também a carência de políticas públicas específicas para territórios vulneráveis e a baixa representatividade nos espaços de decisão política, o que dificulta que nossas demandas sejam ouvidas e atendidas.
IMPACTO: O que significa, pessoalmente e politicamente, ter sido escolhida como delegada em um encontro de dimensão nacional?
Jenifer Fernandes – Para mim, como mulher negra, afrodescendente, mãe, psicóloga e escritora, ser escolhida como delegada é símbolo de respeito e resiliência ancestral. Carrego em mim a força de quem veio antes e sinto o compromisso profundo com os meus descendentes. Politicamente, minha presença não está atrelada a partidos, mas sim à energia ancestral que me move a lutar por justiça, reparação e equidade.

IMPACTO: Que aprendizados você traz da conferência e como pretende aplicá-los em Adamantina e região?
Jenifer Fernandes – Trago a certeza da importância do aquilombar-se. Tudo o que temos e construímos é coletivo. Pretendo seguir fortalecendo o letramento racial, denunciando práticas de racismo, cobrando medidas concretas do poder público e fortalecendo o aquilombamento do meu povo.
IMPACTO: Como a sociedade civil pode se engajar para fortalecer as políticas de promoção da igualdade racial?
Lucas Pimenta – A participação da sociedade civil é essencial. Isso pode acontecer por meio dos conselhos municipais e estaduais de igualdade racial, cobrando a implementação das políticas, denunciando práticas de racismo e promovendo educação antirracista em escolas, universidades, empresas e comunidades.
IMPACTO: Quais próximos passos você e os demais representantes planejam após a conferência?
Lucas Pimenta – Os próximos passos envolvem transformar as propostas debatidas em agendas locais, ampliar a mobilização junto ao Conselho Municipal de Igualdade Racial e fortalecer o diálogo com gestores públicos. Também queremos disseminar amplamente o que foi discutido, garantindo que as deliberações se convertam em ações concretas no nosso território.