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sábado, 13 setembro, 2025

Impasse adia realização da Feira Camaleão em Adamantina

A Feira “não deixou de existir por falta de público ou de artistas, mas porque não encontrou, neste momento, a mão estendida do poder público para seguir adiante”, afirmam os organizadores.

Uma nota pública divulgada na terça-feira (9) revelou o impasse em torno de uma nova edição da Feira Camaleão, que há sete anos movimenta a cena cultural de Adamantina e já realizou 20 edições, a última em 2024. Enquanto os organizadores apontam falta de interesse efetivo da Prefeitura no apoio ao projeto, o Município alega que até o momento não foi possível viabilizar a programação em razão da dificuldade de conciliar datas.

Resposta do Coletivo Camaleão sobre a realização ou não da Feira em 2025 divulgada em uma rede social | Foto: Reprodução

O comunicado foi publicado em uma rede social como resposta aos questionamentos sobre a realização ou não da Feira este ano, ganhando rapidamente repercussão, especialmente entre artistas e agentes da economia criativa. A cada edição, a Camaleão reunia artes, gastronomia e música, com a diversidade como principal marca.

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“O maior legado da Camaleão foi revelar que Adamantina guarda um território cultural muito mais vasto do que parecia à primeira vista. A feira se tornou um farol num tempo em que havia escassez de espaços culturais e trouxe à tona a riqueza da produção independente. Mostrou que aqui havia poesia, música, artesanato e expressões diversas que até então viviam dispersas, escondidas em quintais e ateliês silenciosos. O legado é a diversidade, uma lembrança de que a cidade é plural, criativa e capaz de se reinventar artisticamente”, afirma Arieni Tarcila Ciceri, uma das organizadoras.

Edição realizada em 16 de novembro de 2024 | Foto: Reprodução

Nos primeiros anos, a feira nasceu do improviso: som emprestado, artistas voluntários e muito esforço coletivo. Com o tempo, conquistou apoio institucional, o que garantiu mais dignidade aos artistas. Durante a pandemia, sobreviveu graças às políticas emergenciais de cultura. “A história da feira é, acima de tudo, uma história de resistência”, enfatiza Alessandro Dias, também organizador.

O apoio público incluía pagamento de cachês, sonorização, estrutura da praça, eletricistas e limpeza. Os custos giravam entre R$ 5 mil e R$ 10 mil por edição. “Valor modesto se comparado, por exemplo, aos mais de R$ 70 mil pagos apenas em ECAD para a Expo Verde”, destaca a nota.

Para 2025, a organização buscou diálogo com a Secretaria de Cultura e Turismo para alinhar datas e firmar uma parceria, mas alega que não houve interesse efetivo, o que resultou na interrupção das atividades.

“O diálogo aconteceu, mas ficou mais no campo das intenções do que nas realizações. Havia interesse declarado, mas quando se tratava de transformar a ideia em datas e compromissos, o processo se tornava incerto e inviável. Uma feira diversa precisa de tempo para ser organizada, e as respostas que recebemos não permitiam esse planejamento”, acrescenta Arieni.

Segundo ela, “a Camaleão não deixou de existir por falta de público ou de artistas, mas porque não encontrou, neste momento, a mão estendida do poder público para seguir adiante. Em outras palavras, não foi a falta de talento da cidade, mas a falta de decisão em apostar nele”.

Edição realizada em 16 de novembro de 2024 | Foto: Reprodução

IMPACTO DA PAUSA

Para os organizadores, a descontinuidade gera prejuízos significativos. “Para os artistas, não se trata apenas da ausência de cachês, que já eram simbólicos, mas da perda de um espaço de visibilidade e conexão. A feira era uma vitrine: dela surgiam convites, parcerias e possibilidades. Para os artesãos, era um canal de divulgação que impulsionava vendas ao longo do ano. A ausência da Camaleão enfraquece a economia criativa local e reduz as oportunidades de circulação da arte na cidade”, avaliam.

Eles também veem a situação como reflexo de um padrão maior. “Eventos tradicionais recebem espaço e financiamento garantido, enquanto iniciativas independentes ficam vulneráveis às mudanças políticas e financeiras. Isso não significa que a chama se apague. A cultura independente é resiliente, se reinventa. Mas políticas públicas que garantam continuidade são fundamentais.”

Apesar da pausa, os organizadores afirmam que a feira, assim como o animal que lhe dá nome, busca se adaptar. “Aos artistas, digo: continuem. O palco pode ter mudado de lugar, mas a criação segue viva. Ao público: não deixem de buscar. E ao poder público: a cultura não pode viver só de acenos, precisa de compromisso. A feira faz uma pausa, mas a arte não.”

OUTRO LADO

Em nota ao IMPACTO, a Prefeitura de Adamantina, por meio da Secretaria de Cultura e Turismo, informou que iniciou tratativas em junho com os organizadores da Feira Camaleão.

Segundo a pasta, em julho houve nova tentativa, com sugestão de realização em 13 de setembro. A data, porém, foi considerada inviável em razão da agenda já comprometida por outros eventos.

Ainda conforme a Secretaria, em seguida foi proposta a data de 18 de outubro, mas nesse dia já consta no calendário municipal a realização do Haru Matsuri, que tem a participação da própria pasta.

Dessa forma, a Prefeitura afirma que, até o momento, não foi possível viabilizar a feira “em virtude da dificuldade para que as datas fossem alinhadas”, mas que permanece aberta a avaliar novas propostas dos organizadores.

CONTRAPONTO

Ao tomarem ciência sobre o posicionamento da Prefeitura pela imprensa, os organizadores da Feira ressaltam que também sugeriram outras datas, mas não obtiveram retorno da Secretaria, o que inviabilizou o planejamento necessário para a realização do evento.

“A secretária de Cultura e Turismo nunca deu devolutiva sobre as datas citadas, expondo as justificativas apenas agora, em nota”, enfatiza Arieni.

 

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