A situação do rio Aguapeí, que nasce em Gália, na região de Garça, e deságua no rio Paraná, tem gerado revolta entre pescadores e demais usuários do curso d’água. A indignação ganhou força no último fim de semana, quando um despejo irregular de vinhaça no Córrego Bispo, afluente do Aguapeí, provocou a morte de peixes e mau cheiro em Lucélia.

Vídeos que circulam nas redes sociais tiveram grande repercussão, alguns já ultrapassando 65 mil visualizações. A mobilização em defesa do rio tem crescido, segundo a advogada Silveli Bataglia, conhecida como Shill.
“Após divulgarmos a situação do nosso rio aqui em Lucélia, recebemos diversos relatos e apoio de outros pescadores e usuários, de Tupã até Junqueirópolis. O sentimento é apenas um: preocupação. Estamos nos unindo para cobrar das autoridades um olhar para o rio Aguapeí, que há pelo menos seis anos sofre constantemente com a falta de fiscalização”, destacou.
O despejo irregular de vinhaça ocorreu após o rompimento de um cano subterrâneo de uma usina em Bento de Abreu, conforme informou a Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) à TV Fronteira. O órgão acrescentou que “a situação foi controlada, medidas emergenciais foram concluídas e a qualidade da água está sendo avaliada”.

De acordo com Shill, que desde a infância frequenta o rio Aguapeí, casos como esse são recorrentes. “Durante o ano todo temos vários acontecimentos desse tipo na região, e parece que sempre fica por isso mesmo”, lamentou.
Ainda segundo os vídeos divulgados, o despejo irregular causou a morte de diversos peixes entre os municípios de Lucélia e Adamantina. “Acionamos as autoridades, os órgãos competentes, e ninguém nos deu um posicionamento. Geralmente, quando aparecem para verificar a situação, é três ou quatro dias após o crime ambiental, quando tudo já está aparentemente controlado”, desabafou.
A vinhaça é um resíduo altamente tóxico, rico em matéria orgânica e potássio. Quando descartado de forma inadequada em grandes quantidades, especialmente em rios, provoca sérios impactos ambientais.

RETIRADA DE ÁGUA AGRAVA SITUAÇÃO
Outro problema denunciado por Shill é a retirada de água ao longo do rio Aguapeí. Segundo ela, existem 15 bombas instaladas entre a cachoeira do Salto Botelho e a cidade de Iacri, e outras sete no sentido oposto, até o distrito do Indaiá, em Flórida Paulista.
“A irrigação está acabando com nosso rio. Ele já está abaixo do nível da caixa baixa permitida, e mesmo assim as bombas seguem a todo vapor. São pelo menos 22 bombas só nesse trecho, fora as demais ao longo do rio. Isso não pode continuar. É preciso respeitar o limite do rio e garantir fiscalização”, afirmou.
Ela destaca que, neste período de seca, seria necessário o desligamento das bombas, justamente para respeitar a baixa do rio e evitar impactos ainda mais graves.
Além da redução no nível da água, que dificulta a navegação em diversos trechos, a advogada ressalta impactos ainda mais graves, como prejuízos ao período de desova dos peixes. “Eles precisam de condições mínimas, como volume de água e correnteza, o que não temos mais no nosso rio. Para se ter uma ideia, caixas de pedras que antes só apareciam em períodos de seca, há pelo menos seis anos já se tornaram visíveis o ano todo. O crime ambiental, nesse caso, tem sido até pior que a contaminação da água. Precisamos da união de todos que amam o Aguapeí para lutar contra essa irrigação ilegal”, concluiu.
