Aconteceu sábado, 30 de agosto, no anfiteatro Fernando Paloni, a 4ª Amostra de cenas curtas, pela Cia Multiverso Teatral, dirigida por Letícia Rodrigues da Silva. Casa quase lotada com familiares, amigos e apreciadores da quinta arte, atestava que o teatro já é uma tradição na cidade, principalmente com apoio da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Adamantina, que mantém a escola de dramaturgia, o espaço e proporciona a gratuidade de grande parte dos espetáculos.
A novidade da noite foi a temática do evento: encenações inspiradas em 12 obras componentes do livro 1ª Antologia de contos, crônicas e poemas regionais (Gráfica Impress, 2019) e 2 peças inspiradas no famoso dramaturgo brasileiro Nelson Rodrigues. Sim! Escritores locais e regionais encenados por jovens atores e atrizes altamente performáticos. Agilidade, emoção, técnica e muita, muita responsabilidade no que estavam transmitindo. Afinal, não deve ser fácil representar diante do autor da obra, presente ali na plateia, em carne e osso!
Seguindo o ineditismo da 1ª Antologia de contos, crônicas e poemas regionais, essa encenação imprime um outro capítulo na história literária e cultural regional. Lançada em 2019, a obra é composta por 85 criações inéditas, escritas por 55 escritores de 13 cidades e de 2 países, com autores entre 18 e 93 anos. Seminal, ela foi concebida por uma comissão composta por especialistas das três microrregiões de governo: Adamantina, Dracena e Tupã e viabilizada com recursos dos próprios escritores. A comissão estabeleceu os objetivos, as categorias textuais e o perfil dos participantes. As secretarias ou departamentos municipais de Cultura contribuíram com a divulgação e com os lançamentos, aliás, poucos, pois a obra foi lançada em novembro de 2019 e o isolamento social, imposto pela pandemia Covid-19, ocorreu a partir de março de 2020.
Com a intenção de identificar e sistematizar identidades regionais, a obra sugeria que os autores escrevessem sobre suas memórias (reais ou fictícias, desde que ambientadas na Nova Alta Paulista), eternizando personagens, paisagens e vivências que, de alguma forma, nos representassem. O resultado foi surpreendente: um mosaico de percepções, sutilezas, imaginações e realismos, atestando a pluralidade com quem convivemos diuturnamente.
Em fevereiro de 2025, procurei a professora Letícia e sugeri a encenação de algumas obras, livremente escolhidas por ela e seu grupo. Alguns meses depois, eles nos brindam com a 4ª Amostra de cenas curtas. Adamantina, Flora Rica, Flórida Paulista, Lucélia e Osvaldo Cruz foram as cidades representadas no espetáculo.
O êxito da experiência realizada indica que a dose se repetirá e se ampliará, trazendo outros talentos regionais para o palco, intensificando o intercâmbio cultural intrarregional, já em curso. O simbolismo de uma região se mantém nas memórias, pois dizem quem somos. O pertencimento, expressão genuína de uma comunidade, se constrói nas relações interpessoais e a arte, em diferentes modalidades, constituem formas de expressão.
Usando a linguagem teatral, os atores socializaram parte dessas memórias, gerando outras conexões com as gentes do lugar. Na plateia pudemos sentir diversas emoções; a principal delas é saber que temos talentos tão capazes e tão incríveis quanto os autores distantes, que nem conhecemos, mas apreciamos as suas obras.
Não é fácil romper a barreira do regionalismo para ganhar grandes plateias, por isso estamos empenhados em construir sistemas literários e culturais intrarregionais. As possibilidades são infinitas e ainda pouco exploradas por aqui. Aplicando a arte teatral, os atores demonstram que estão a caminho de grandes conquistas. Onde quer que cheguem, terão em seus currículos, a marca indelével da encenação de autores locais, aqueles a quem deram vida no palco e eles, por sua vez, lhes deram identidade.
