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quinta-feira, 4 dezembro, 2025

“Ele nunca desistiu do sonho”, pontua irmão de Lurrique Ferrari

Comoção tomou a cidade nesta semana e repercutiu no país após a morte do motociclista de 36 anos durante apresentação do Hot Wheels Epic Show, em Santa Catarina

Adamantina viveu, nos últimos dias, um dos momentos mais emocionantes de sua história recente. A morte do piloto de manobras Lurrique Ferrari, de 36 anos, provocou uma onda de tristeza, homenagens espontâneas e mobilização de motociclistas e amigos de toda a região.

O corpo chegou à cidade na segunda-feira (24), foi velado sob forte comoção e recebeu uma despedida marcada por um cortejo que reuniu dezenas de motos, aplausos, motores ligados e lágrimas. Já na terça-feira (25), dia do velório e sepultamento, o barulho grave dos motores ecoou como um último tributo ao piloto, reconhecido pelo talento, disciplina e humildade.

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O caso ganhou repercussão nacional, com cobertura em veículos de imprensa de todo o país, despertando atenção para sua história, carreira e o impacto de sua trajetória.

Lurrique Ferrari (canto direito) com os familiares | Foto: Arquivo pessoal

“Ele não fazia por dinheiro. Ele fazia por amor”, destaca o irmão, Glayson Ferrari

Em entrevista ao IMPACTO, o irmão, Glayson Ferrari, falou sobre o luto, a relação dos dois e a grandeza da paixão que movia Lurrique. “Eu sempre falava: ‘Cara, abandona isso aí, é difícil.’ Mas ele nunca desistiu. Ele faria de graça se precisasse. Ele era apaixonado por aquilo”, relata, emocionado.

Glayson descreve o irmão como um homem disciplinado, perfeccionista e profundamente dedicado ao que fazia. “A qualidade dele era a dedicação. Ele queria fazer tudo do jeito certo, com maestria. Era até chato de tão certinho”, lembra.

Também destacou o carinho que o piloto tinha por crianças, fãs e colegas de pista. “Ele tratava todo mundo bem. Se alguém estava mal, errando manobra, ele era o primeiro a apoiar.”

A família, unida pela pandemia e pelo trabalho conjunto dos irmãos, sente agora a dor do vazio. “Ele foi um irmão maravilhoso. A gente sempre esteve junto, especialmente depois que viramos sócios. Essa perda vai marcar para sempre.”

Sobre o legado, Glayson não hesita: “Ele queria ser lembrado como um piloto arrojado, determinado, perfeccionista. E ele conseguiu. A cidade mostrou o quanto amava ele.”

Foto: Arquivo pessoal

Quem era Lurrique: o garoto que não desistiu

A história de Lurrique com as motos começou onde muitos sonhos também começam: na adolescência. Nas estradas rurais de Adamantina, ele observava jovens fazendo manobras nas proximidades do bairro Tupãzinho. O fascínio foi imediato.

Sem recursos, dividiu sua primeira moto com dois amigos – João Vítor e Fernandinho – rodando apenas 10 minutos para cada, se revezando no calor do sol, longe da cidade, porque a legislação não permitia as manobras em área urbana.

Foi ali que nasceu a dedicação que o acompanharia por toda a vida.

Com os anos, comprou motos maiores, aprofundou estudos, acompanhou vídeos, aprendeu com pilotos de Bastos e Parapuã e passou a ser reconhecido pela disciplina. “Ele ficava horas no sol, sozinho, treinando. Era apaixonado de verdade”, lembra o irmão.

Foto: Arquivo pessoal

A carreira: do interior ao mundo

A trajetória profissional foi construída no suor da pista. Ele foi ganhando espaço em eventos regionais até chegar a apresentações no Sul do país, onde o wheeling – modalidade de acrobacias – tem forte tradição.

Em 2018, recebeu a oportunidade de integrar shows na China. Ficou cerca de um ano, vivendo o cotidiano de um parque temático. Depois, mudou-se para Dubai, onde fazia até cinco apresentações por dia. Lá, porém, os shows tinham forte caráter teatral, com dançarinos e performances coreografadas – algo que não o realizava tanto quanto as manobras radicais.

Com a pandemia, retornou ao Brasil e abriu, junto ao irmão, um negócio próprio, em Adamantina. Mas a paixão pelas motos falava mais alto.

Em 2024, alcançou o momento mais feliz da carreira: a contratação pelo Beto Carrero World, onde integrava o elenco do Hot Wheels Epic Show. “Para mim, o auge dele foi agora. Ele estava muito feliz. Quando vimos ele no palco, entendemos tudo”, conta Glayson.

O EMPREGO DOS SONHOS: O SHOW NO BETO CARREIRO

No Beto Carrero, Lurrique vivia o que sempre desejara: praticava manobras radicais diante de plateias lotadas, interagia com crianças e sentia o reconhecimento do público.

O espetáculo, inspirado no universo Hot Wheels, combinava acrobacias, fogo e velocidade. Motos e carros dividiam o cenário em saltos, derrapagens, pilotagens sobre uma roda e perseguições simuladas. A apresentação durava cerca de 15 minutos e era uma das atrações mais populares do parque.

Foi nesse ambiente, que ele tanto amava, que o acidente ocorreu. “Assistir ele ao vivo foi inesquecível. A felicidade dele era algo único”, diz o irmão.

Foto: Arquivo pessoal

As homenagens: motor em luto e cidade em silêncio

O impacto das homenagens surpreendeu até a família. “A gente não imaginava tanta gente. Veio gente de fora, muita gente que largou tudo para estar ali. Isso me marcou demais”, conta Glayson.

Motociclistas, clubes, amigos e admiradores criaram uma corrente de afeto. O cortejo, o ronco das motos, as flores e os aplausos simbolizaram a grandeza da trajetória do piloto.

A repercussão nacional mostrou ao país inteiro a força do talento de um jovem do interior que, com persistência e coragem, alcançou o mundo.

O acidente

O acidente aconteceu na tarde de domingo (23), durante o salto entre rampas – uma das partes centrais do show.

Lurrique bateu a cabeça contra a estrutura após a moto falhar durante a subida. Ele foi socorrido imediatamente, levado ao Hospital Marieta Konder Bornhauser, em Itajaí, e passou por cirurgia, mas não resistiu.

Segundo o irmão, a família acredita que houve uma falha mecânica. “Era uma manobra fácil para ele. Tudo indica problema na moto: injeção, alimentação de combustível, alguma falha”, afirma.

A Polícia Civil segue investigando as causas.

O QUE DIZ O BETO CARRERO WORLD

Em nota oficial, o parque lamentou profundamente o falecimento do piloto e afirmou que: prestou atendimento imediato; está oferecendo suporte à família; arcará com todas as despesas funerárias e deslocamentos; já iniciou seus protocolos internos de apuração.

Segundo Glayson, o contato está sendo mantido. “Eles estão sendo prestativos dentro do alcance deles. Nada traz ele de volta, mas estão ajudando.”

O legado

Lurrique deixa mais que manobras. Deixa uma história de coragem, persistência e amor pelo que fazia.“Ele queria ser lembrado como um piloto arrojado, determinado e perfeccionista. E vai ser. Ele realizou o sonho dele”, afirma o irmão.

E conclui: “Se teve um sonho, ele correu atrás. Nunca desistiu. É isso que ele deixa para nós”.

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