Escolher um local perfeito para morar é complicado. Até porque a perfeição, em si, é algo muito distante, quase utópico. Questões mal resolvidas e problemas existem sempre, sejam em relação à família, as amizades, o trabalho e com o próprio local em que habitamos. É necessário uma adaptação. Hoje em dia é até possível “não morar”. Os nômades digitais viajam pelo mundo, trabalhando on-line. Mas para quem quer ter uma família, de certa forma estável, talvez uma pequena cidade do interior possa ser a melhor escolha.
Parafraseando Aristóteles, o filósofo grego que dizia que “o homem só é feliz com os pés no chão”, dá para compreender a sensação de felicidade ou melhor, de segurança, quando encontramos um local onde nossas raízes possam se expandir.
Nos anos 1960 e início dos 70, eu ouvia amigos mais velhos, adamantinenses (aqueles que são quatro ou cinco anos mais velhos e que admiramos justamente por isso ) dizendo “não ver a hora de sair dessa cidade: “Povo retrógrado, atrasado, provinciano, ignorante e preconceituoso”, diziam. Era uma época de quebra de valores, da contra cultura, do rock, dos cabelos compridos, da mini saia, calça jeans, pílula anticoncepcional e, portanto, do sexo mais livre. Claro que os mais velhos, alicerçados numa sociedade católica tradicional, tinham muita dificuldade em aceitar as mudanças que chegavam de uma vez. Resultado: a moçada saía para estudar (isso era permitido) e não voltava jamais.
A geração de jovens que veio em seguida, já começava a olhar a cidade de outra forma. Alguém havia aberto um caminho, estreito, e cabia a nós alargarmos e ampliarmos esse espaço.
A partir daí a ideia seria sair, estudar, ganhar experiência e um dia voltar. Para contribuir com a melhoria desse espaço que nos foi tão caro um dia.
A torcida do contra sempre existiu: “aqui não tem o que fazer”. Só que na verdade, aqui se faz muito, ninguém fica parado. E a vida de criança, no interior, tanto nos anos 70 como nos dias de hoje, pode ser bem mais agitada que nos grandes centros. Sim, incomodava a falta de livrarias, boas lojas de discos e bons cinemas. Hoje isso tudo acontece on-line. Serviços de streamings estão cada vez melhores. E contamos com um ótimo cinema para quem, como eu, gosta dessa modalidade. E Educação? Ótimos cursos de graduação acontecem hoje em dia de forma remota. Com a vantagem de podermos cursá-los nas melhores instituições do País. Ou do mundo. Claro que pode melhorar. Esse é o sentido da evolução. Há espaço para uma melhor oferta gastronômica, restaurantes, enotecas ou boas adegas, cafés, pubs, livrarias. Tudo isso se somaria a uma urbanização considerada excepcional, água encanada e esgoto abrangendo mais de 95% do município, índice altíssimo de segurança , uma das menores taxas de homicídio do país.
Nos grandes centros há uma adrenalina viciante, é verdade. As grandes oportunidades, o networking, os grandes shoppings e a própria correria do dia a dia. E junto vem a insegurança, o alto custo de vida, as dificuldades de dar aos filhos aquilo que um dia tivemos por aqui.
Mas vamos falar do presencial: mesmo estando à 600 km de distância de São Paulo, que é nossa principal referência, aqui ainda existe segurança, um clima quente mas suportável, amigos, família.
Adamantina passou, em 25 anos de uma cidade com apenas três ou quatro cursos superiores para uma cidade que tem um centro universitário ( incluindo uma faculdade de Medicina além de inúmeros outros cursos), academias de ginástica para todos os gostos e necessidades, inúmeras clínicas com profissionais das mais diversas área de saúde; escritórios jurídicos, contábeis, uma série de outras opções de prestação de serviços além de um comércio tradicionalmente forte. Além de hoteis, emissoras de comunicação, jornais, sites e nossos Parques – Pioneiros, Caldeira e Jardim Adamantina – que sempre nos recebem e acolhem nas caminhadas.
E igrejas… muitas novas igrejas, a espiritualidade agradece….Talvez a sociedade continue querendo manter sua tradição. Mas convive muito bem com os “diferentes”.
Não é o melhor lugar do mundo e está muito longe de ser .Mas é o nosso lugar. Exige esforço e trabalho daqueles que aqui estão para que a cidade fique cada vez melhor.
Há 25 anos optei por voltar. Dois dos meus filhos (hoje adultos) optaram por permanecer, meus netos estão nascendo por aqui. O que implica continuar cuidando da cidade, reclamando, sim, mas contribuindo sempre.
O fato é que morar em Adamantina é mesmo uma questão de raiz. As que fincamos ao chegar por aqui ou as que herdamos e que nos permitiu crescer, dar frutos e desfrutar do que essa terra nos oferece. E não é pouco. Hora de fazer uma analogia com as palavras do ex-presidente norte americano John Kennedy: “Não pergunte o que o seu pais”, no caso sua cidade, “pode fazer por você, mas o que você pode fazer por sua cidade”.
Marcia Molina Fonseca é jornalista e empresária. Moradora de Adamantina desde que nasceu (com alguns anos morando longe, mas sempre “perto”).
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