Seguindo minha participação como colunista deste jornal, a quem agradeço o convite e a oportunidade, discutirei desenvolvimento regional da Nova Alta Paulista em vários artigos, considerando a multisetorialidade do tema.
Em tempos de mudanças estruturais que marcam o tempo presente, podemos pensar na nova economia como uma possibilidade para se pensar e se planejar o desenvolvimento regional. Entre as suas características estão valorização do conhecimento e da experiência do cliente; priorização dos serviços e escalabilidade, em vez de produtos físicos; temática ambiental como princípio estratégico. O termo nova economia foi cunhado em 1983, por Charles P. Alexander, diante do impacto das novas tecnologias na lógica da produção. Como ela pode influenciar o modelo de desenvolvimento regional que queremos para a Nova Alta Paulista? Qual é o papel de Adamantina nesse contexto? Ao longo dos artigos desta coluna, tratarei de alguns aspectos que podem contribuir com este debate.
Desenvolvimento regional é tema controverso, porém necessário e presente no cotidiano de todos nós. Nele se interpõem tempos, lugares, escalas e intenções. As construções, por exemplo, falam de tempos, formando um mosaico de estilos arquitetônicos, técnicas, condições geográficas, culturas, além de refletirem as condições econômicas de quem as edificou. Os telemóveis são expressões contemporâneas de escalas: uma pequena empresa de logística entrega, na nossa porta, um aparelho comprado pela internet (vinculada aos Estados Unidos), por meio de um modelo de negócio chamado marketplace, operado por uma empresa norte-americana, argentina ou singapurense. A marca do telemóvel pode ser sul-coreana, finlandesa, estadunidense ou japonesa. Quanto aos componentes eletrônicos, temos acompanhado, pela mídia (cada vez mais globalizada), as investidas geopolíticas dos países que detém essas tecnologias em relação aos países emergentes ou subdesenvolvidos, que possuem as cobiçadas terras raras.
Por mais que o cotidiano nos consuma com as obrigações familiares, sociais e profissionais e não tenhamos muito tempo ou hábito de refletir sobre as dinâmicas das quais fazemos parte, é ali, na escala do lugar, que se completam as grandes cadeias de suprimento, por meio do consumo e também do fornecimento de matérias primas. Assim, mesmo sem falar diferentes idiomas ou sem ter viajado para outros países, fazemos parte de um amplo e complexo sistema global de trocas comerciais e, portanto, de relações de várias naturezas. As recepções dos chefes de Estado, em suas viagens internacionais, dão um panorama dessa dinâmica, refletindo não só o prestígio do mandatário, mas também a importância do país que ele representa nesse universo de necessidades e interesses.
O geógrafo Milton Santos (1926-2001) dizia que “o lugar são todos os lugares”. Nesse imenso tabuleiro em que se transformou o sistema mundo, todos os lugares estão inseridos, porém, com intensidades diferentes, resultando em condições igualmente diferentes de desenvolvimento e crescimento socioeconômico. Regiões com maior aglomeração de pessoas, indústrias, polos tecnológicos, densidade de infraestrutura e serviços, concentram maior poder econômico e político; o contrário acontece em regiões de baixa densidade demográfica e, principalmente, naquelas que se encontram na periferia dessas redes neurais. Essa compreensão não é simples ou linear: há regiões pouco habitadas, que se conectam diretamente com o sistema mundo, por meio da produção altamente mecanizada de commodities para o mercado internacional, a exemplo das regiões sojicultoras, por exemplo.
Sob o risco de se “perder o bonde da história”, é necessário e inadiável para a compreensão da identidade regional nesse complexo emaranhado de relações, que pesquisadores, formadores de opinião, governos, associações de classe, mundo corporativo e sociedade civil reflitam sobre o papel do seu território no sistema mundo contemporâneo.
Trazendo para Adamantina e a Nova Alta Paulista, coloco algumas questões com o intuito de aquecer um debate salutar e paradigmático. Desde a década de 1930, quando se inicia a colonização regional por povos não indígenas, tivemos alguns períodos histórico-econômicos: café e ferrovia, que estruturaram a nossa configuração espacial; tentativa de diversificação de atividades, após a geada de 1975; cana-de-açúcar, a partir das últimas décadas. Ao longo desse tempo, a principal função das cidades continua sendo a função comercial e o sucedâneo de atividades econômicas mantém-se no setor agrário. Algumas atividades industriais se consolidaram, porém, sem fortes aglomerações. Como efeito de fatores estruturais e conjunturais implícitos nessas dinâmicas, perdemos população e acentuaram-se os ônus ambientais da supressão indiscriminada da cobertura vegetal nativa.
Como imaginamos o futuro das nossas cidades na quarta década do século XXI, que já se avizinha? De que maneira estamos inseridos ou como pretendemos nos adequar aos desafios contemporâneos? Qual é o papel de Adamantina no contexto regional? O que vem fazendo para consolidar e ampliar a sua liderança? Como se vê, há muito o que se discutir, a começar por inquietações do nosso dia a dia.

Prof.ª dr.ª Izabel Castanha Gil
- Centro Universitário de Adamantina/FAI
- Coordenadora da CPL do Jatobá
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