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terça-feira, 16 dezembro, 2025

Técnica acima da política: soluções reais para o avanço das concessões públicas

Confira o conteúdo assinado pelo engenheiro Daniel Robles

Como engenheiro, sinto-me indignado ao testemunhar, junto com milhões de brasileiros, os impactos causados pelo sistemático descumprimento de prazos nas concessões públicas. Seja na entrega de um aeroporto, numa rodovia inacabada ou nos intermináveis atrasos de obras de infraestrutura, a história é sempre a mesma: promessas não cumpridas, pessoas prejudicadas e uma classe política que, ao invés de resolver, utiliza o sofrimento da população como palco para sua autopromoção. Isso precisa acabar. E acredito que a transformação só virá com profissionais técnicos e competentes assumindo o comando da política brasileira.

Nos últimos anos, os erros e atrasos em concessões de aeroportos, rodovias, estações de trem, saneamento básico e outras obras essenciais tornaram-se rotina. Como exemplo recente, vemos aeroportos regionais, como o de Presidente Prudente, com concessões assumidas por empresas privadas. Prometeram melhorias, uma infraestrutura moderna e maior bem-estar para os cidadãos. Contudo, o abandono de prazos, as desculpas burocráticas ou econômicas e a ausência de fiscalização transformaram essas promessas em um pesadelo para passageiros e profissionais que dependem desses serviços diariamente, dando agora palco para políticos cobrarem o governo e apresentarem o início de obras atrasadas como uma nova conquista ao cidadão..

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E quem paga o preço? É sempre o cidadão comum. É o passageiro que enfrenta aeroportos lotados, sem infraestrutura adequada, banheiros deteriorados e áreas de embarque abarrotadas. É o caminhoneiro que atravessa rodovias com buracos e pedágios abusivos. É a mãe que leva seu filho ao hospital da cidade e encontra equipamentos sucateados porque o estado falhou em garantir o básico. O custo da incompetência vai muito além do financeiro; ele está na qualidade de vida perdida, na insegurança de usar uma estrada ou mesmo na frustração que tantos brasileiros sentem ao ver seu próprio país estagnado no tempo.

O que me indigna, além da ineficiência em si, é como políticos se aproveitam dessas deficiências para lucrar politicamente em cima da mediocridade que perpetuam. Obras atrasadas, principalmente em regiões estratégicas, tornam-se instrumentos de campanha eleitoral. Isso acontece porque as entregas que deveriam ser políticas de Estado orgânicas e naturais, alimentadas por uma gestão técnica e transparente, passam a ser tratadas como favores feitos pelo governante de plantão.

É revoltante ver que serviços essenciais são utilizados como moeda de troca eleitoral. Quando uma obra é inaugurada – mesmo atrasada e realizada com diversos desvios de prazo e orçamento – ela é comemorada como uma vitória, quando, na verdade, a população foi lesada por anos de negligência.

Os exemplos são infinitos e estão espalhados em todas as esferas. Lemos notícias de devoluções de concessões por empresas que “não conseguiam cumprir as cláusulas”, de agências reguladoras que aplicam multas que nunca são efetivamente pagas e de obras inacabadas abafadas por uma enxurrada de desculpas e promessas vazias. Enquanto isso, profissionais que poderiam e deveriam tomar as rédeas de projetos estratégicos permanecem fora do debate político.

Pergunto-me: por que o Brasil insiste em relegar o domínio técnico à segunda categoria? Em outras nações, a presença de engenheiros, médicos e cientistas nos altos escalões da administração pública é algo comum, pois esses profissionais agem focados na resolução de problemas reais. Aqui, no entanto, ao invés de promover soluções concretas, politiza-se cada medida essencial.

Como engenheiro, fui ensinado a lidar com problemas técnicos, a buscar soluções racionais baseadas em dados e a cumprir prazos como um preceito fundamental do trabalho. Não há espaço para improvisos quando a vida ou a segurança de uma pessoa pode depender de um cálculo estrutural ou de uma aplicação de material. Contudo, assisto incrédulo enquanto a política brasileira ignora o básico da engenharia da gestão: planejamento, eficácia e transparência. Ela transforma o óbvio – como reparar uma rodovia ou ampliar um terminal – em algo inalcançável.

Enquanto países como Japão, Alemanha e Coreia do Sul prosperam com lideranças que promovem o progresso baseado na técnica, o Brasil vê concessões públicas mal geridas, bilhões desperdiçados, e o sofrimento dos cidadãos perpetuado. Precisamos mudar essa lógica, e para isso, é imprescindível que profissionais capacitados ocupem espaços no debate político.

Para que os brasileiros tenham acesso orgânico a uma infraestrutura de qualidade e para que a política de concessões deixe de ser um jogo de interesses eleitorais e empresariais, é hora de novos grupos assumirem o protagonismo. Precisamos de engenheiros, médicos, cientistas e técnicos no comando. Precisamos de líderes que vejam o atraso de uma obra não como uma oportunidade de discurso político, mas como um grave problema que afeta pessoas reais e precisa ser resolvido com urgência.

A presença de profissionais técnicos nos cargos de decisão traria uma enorme revolução. Lições fundamentais para nós engenheiros – como foco prático, responsabilidade, transparência e compromisso com metas – poderiam transformar o modo como o Brasil trabalha. Por que não aplicar na administração pública um planejamento semelhante ao que usamos em projetos de engenharia? Por que não estabelecer prazos factíveis, cobrar sua execução com rigor e garantir que o trabalho seja feito com qualidade?

Minha indignação não é apenas de quem observa, mas de quem faz parte de profissões que têm as ferramentas para mudar esse cenário. As concessões públicas mal geridas são o símbolo de como o Brasil precisa sair das amarras da politização e enxergar a governança como uma ciência a ser tratada com seriedade.

O Brasil não precisa de mais campanhas políticas baseadas em promessas. Ele precisa de profissionais que saibam como cumprir essas promessas e que enxerguem o desenvolvimento do país como um dever, e não como uma ferramenta de autopromoção.

Para além de engenheiro, sou um cidadão como qualquer outro, que pega estradas, voa em aeroportos precários e sofre junto com o país. Meu apelo é claro: nós, que temos as competências técnicas para entender e resolver os problemas do Brasil, precisamos ocupar espaços de liderança. Não pela glória da política, mas pelo bem das pessoas.

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