Vassoura hidráulica é o termo criado, não sabemos se por um ambientalista preocupado com a escassez da água, ou por um marido furioso com a conta da Sabesp, para definir o uso da mangueira pelas donas de casa que costumam “varrer” quintais e calçadas com o precioso liquido.
Esse inocente vício poderia não ter importância se não existissem outros fatores que envolvem a questão da água e se ela não fosse um produto natural não renovável que vem sendo desperdiçado e agredido como nunca.
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Como exemplos locais podemos citar as lagoas de tratamento de esgoto com seus sistemas arcaicos e que, frequentemente, causam acidentes ambientais, a construção de presídios de forma aleatória, sem levar em conta o impacto ambiental e com sistemas de tratamento de esgoto ineficientes – prova disso a mudança do futuro presídio de Flórida Paulista, do bairro Três Porteiras para outro local, não para evitar danos ao meio ambiente mas para não prejudicar a usina Floralco. Não bastasse isso, em breve, dejetos da fábrica da Ajinomoto de Valparaíso serão lançados no rio Aguapeí.
Esse conjunto de ações negativas preocupa. Segundo a ONU, em 2005, a demanda por água potável vai superar a oferta em 56%. Como desgraça pouca é bobagem, empresas internacionais querem a privatização dos direitos de exploração e fornecimento do serviço de água, como forma de resolver o problema. Ou seja, elas querem transformar a água em mercadoria.
A caminho disso, as duas maiores corporações de água do planeta, as francesas Vivendi e Suez-Lyonnaise (responsáveis por 70% do mercado global), ajudam a patrocinar o Fórum Mundial da Água, que acontece em Kioto, Japão, entre os dias 16 e 23 deste mês. Para os ativistas ambientais, esse evento não passa do “Davos da água”. Como se pode notar, a situação é mais grave do que se imagina.
Para se evitar que, em menos de duas décadas, o pior aconteça, é preciso mais firmeza das autoridades e, também, que a sociedade faça a sua parte. Nisso, já seria um avanço se as donas de casa banissem para sempre a famigerada vassoura hidráulica. As gerações futuras iriam agradecer.
Notas:
- Publiquei este texto pela primeira vez em 12 de março de 2003. Em meados de 2006, iniciamos um justo debate sobre os serviços prestados pela Sabesp no município, pois o contrato entre a Prefeitura e essa empresa venceria em 2007. Porém, a administração municipal prorrogou o contrato em 2007, 2008 e 2009. Por fim, em julho de 2010, ignorando os anseios da população, a maioria dos vereadores votou pela renovação do contrato com a empresa de saneamento por mais 30 anos.
- Participaram dessa luta vários ambientalistas, educadores, empresários, algumas pessoas de dupla personalidade e alguns órgãos de imprensa. Importante: o nosso principal articulador no embate, que nos orientou até na construção do caixão de defunto que usamos em nossas manifestações, foi o atual revisor do relatório do relator que, em 2010, também votou favorável à Sabesp. Outra coisa, parte do trabalho que fizemos na época pode ser visto na página 154 do livro ‘Ensaios sobre a Política Adamantinense’, de nossa autoria.