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Adamantina
sexta-feira, 8 agosto, 2025

Adamantina: a cidade que levou 11 anos para nascer

Com obstáculos políticos e disputas territoriais, a criação do município de Adamantina foi marcada por uma década de persistência e luta. A história é detalhada pelo historiador João Carlos Rodrigues, autor do livro Reviver Adamantina

População reunida na Avenida Principal em 1945 para receber a Diretoria da Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Foi nesse momento marcante que Heitor Freire de Carvalho declarou: “Chegou a vez do progresso de Adamantina, este lugar vai ser a joia do sertão.” Uma frase eternizada no Álbum de Adamantina de 1959 e na memória de toda a cidade.

A saga da emancipação político-administrativa de Adamantina é única na região da Alta Paulista. Nenhum outro município enfrentou tantos entraves nem levou tanto tempo para ser oficialmente criado. O processo de fundação se estendeu por 11 anos, entre 1937 e 1948, como relata o historiador João Carlos Rodrigues em seu livro Reviver Adamantina.

Tudo começou em 1937, com a chegada de engenheiros, técnicos e funcionários da CAIC (Companhia de Agricultura, Imigração e Colonização) à área até então conhecida como Espigão Aguapeí-Peixe. No ano seguinte, foi aberto um caminho ligando Tupã ao então povoado de Adamantina, dando início à ocupação efetiva da região.

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Adamantina em 1947 – ainda pertencente ao município de Lucélia | Foto: Arquivo de João Carlos Rodrigues

Em 1939, teve início o desmatamento da mata virgem, seguido da divisão e comercialização dos lotes na chamada ‘Zona da Mata’. Porém, em 1940, as atividades de desenvolvimento foram abruptamente interrompidas por conta de mudanças na Divisão Territorial do Estado.

A situação se complicou ainda mais em 1944, com a criação do município de Lucélia, a apenas 8 km de Adamantina. Esse novo cenário travou o progresso do povoado por mais dois anos. O historiador João Carlos Rodrigues destaca que o prefeito de Lucélia na época, Luiz Ferraz de Mesquita, viu na possível emancipação de Adamantina uma ameaça ao seu projeto de consolidar Lucélia como centro regional.

Vendas de terras em 1939 | Foto: Arquivo de João Carlos Rodrigues

A disputa política se intensificou em 1945, quando a CPEF (Companhia Paulista de Estradas de Ferro) fez sua primeira visita oficial a Adamantina. Na ocasião, o diretor Heitor Freire de Carvalho anunciou que a cidade seria “Ponto de Linha” da ferrovia, chamando-a de “Joia do Sertão”. A reação de Lucélia foi imediata: iniciou-se uma batalha judicial para impedir que os trilhos da ferrovia chegassem ao povoado. A disputa durou três anos, até que a CPEF ameaçou desviar a linha férrea, passando a seis quilômetros ao norte de Lucélia, o que fez a resistência ceder.

População de Adamantina festejando a vitória de Antônio Goulart Marmo, primeiro prefeito de Adamantina | Foto: Arquivo de João Carlos Rodrigues

Segundo João Carlos Rodrigues, a luta pela emancipação contou com o apoio decisivo dos deputados estaduais Cunha Bueno e Salles Filho. Em 1947, várias caravanas de moradores foram à capital paulista pressionar pela criação do novo município. A vitória veio em 1948, quando um grande plebiscito foi realizado, culminando com a promulgação da Lei nº 233 em 24 de dezembro daquele ano, que criou oficialmente o município de Adamantina, desmembrado de Lucélia.

A instalação formal do novo município ocorreu em 2 de abril de 1949, com a posse do primeiro prefeito, Antônio Goulart Marmo, e dos vereadores eleitos. A “Cidade Jóia da Alta Paulista” finalmente nascia, após mais de uma década de persistência, resistência e articulação política.

Avenida Principal em 25 de outubro de 1947. Atualmente a via do registro é a Avenida Capitão José Antônio de Oliveira | Foto: Arquivo de João Carlos Rodrigues
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