
Nesta semana, completa-se um ano de um dos maiores incêndios florestais registrados na região, que atingiu áreas de Lucélia, Salmourão e Adamantina nos dias 23 e 24 de agosto de 2024. Na época, o governador Tarcísio de Freitas decretou situação de emergência por 180 dias em cerca de 45 municípios paulistas, devido à gravidade das ocorrências.
Somente em Lucélia, considerada uma das cidades mais afetadas, 59 propriedades foram atingidas, com aproximadamente 1.000 hectares destruídos pelas chamas, segundo levantamento da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Agricultura em conjunto com a Polícia Ambiental.

Em meio ao cenário de devastação, a mobilização voluntária foi uma das marcas da reação da comunidade, não apenas durante os dias de combate ao fogo, mas também na recuperação das áreas afetadas. Dessa união nasceu o projeto Refloresta Aguapeí, criado em outubro de 2024.
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MOBILIZAÇÃO COLETIVA
Idealizado inicialmente por seis moradores – André Mortari, Augusto Neves, Guinter Kataiama, Jaque Zaparoli, João Libório e Vinícius Castilho –, o projeto recebeu rapidamente o apoio da sociedade civil, familiares, amigos e profissionais da área ambiental.
“O projeto foi criado motivado pelos incêndios que atingiram todo o interior do Estado. Desde o início, a ideia foi agir de forma técnica e legal, estudando a legislação, o plano de manejo do Parque Natural Municipal Salto Botelho e contando com o apoio da Secretaria de Meio Ambiente, Polícia Ambiental e até a obtenção do SARE (Sistema Informatizado de Apoio à Restauração), que nos dá legitimidade para os plantios”, explicou Vinícius Castilho, um dos idealizadores.

PRIMEIRAS AÇÕES
Nos meses seguintes ao incêndio, o grupo realizou o plantio de cerca de 250 mudas de espécies nativas – como embaúba, ipês roxo e amarelo, grumixama preta, pitanga e urucum – em áreas às margens do rio Aguapeí, além da dispersão de sementes.
“O objetivo era recuperar todas as áreas destruídas pelo fogo no parque, mas dependíamos da autorização do Conselho do Salto Botelho. Houve uma reunião e, apesar do apoio unânime, nos foi informado que só poderíamos dar continuidade após a realização de etapas do plano de manejo. Um ano depois, ainda não recebemos essa liberação. Nesse período, a vegetação tomou conta de áreas já plantadas e parte do trabalho acabou comprometido”, contou Vinícius.
Segundo ele, a incerteza quanto ao andamento das ações também enfraqueceu a mobilização inicial. “Chegamos a procurar o Ministério Público, mas não tivemos clareza nas respostas. Enquanto isso, as áreas permanecem em situação de abandono”, acrescentou.
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DO CAMPO PARA A CIDADE
Para não interromper totalmente as atividades, o coletivo trouxe o projeto para a área urbana de Lucélia. “Consultamos a Secretaria de Meio Ambiente, que apontou espaços públicos para o plantio. Já realizamos quatro ações, somando 128 mudas: duas na Santa Casa, uma ao lado da antiga estação ferroviária e outra no clube do Grupo Recreativo dos Idosos”, relatou Castilho.
DESAFIOS E EXPECTATIVAS
Apesar das dificuldades, o Refloresta Aguapeí segue ativo e disposto a retomar os trabalhos no Parque Natural Salto Botelho. “Nosso intuito é colaborar com a recuperação e preservação de um espaço carregado de história, memórias afetivas e diversidade ecológica. Cabe ao poder público executar as ações previstas no plano de manejo. Da nossa parte, seguimos prontos para contribuir”, afirmou Vinícius.
Um ano depois da tragédia, o contraste ainda é visível: áreas verdes começam a se regenerar naturalmente, mas parte dos locais devastados permanece sem intervenção planejada. Entre avanços e entraves, o voluntariado continua sendo a maior força do Refloresta Aguapeí para transformar o cenário deixado pelas chamas.