(“Notas zoológicas sobre espécies que prosperam na política”)
Para não confundir os meus poucos, mas atentos leitores, apresento os três personagens centrais deste texto. O Rattus norvegicus é robusto, ótimo nadador e sobrevive até nas condições mais insalubres. Já o Rattus rattus é um alpinista urbano, preferindo os forros e telhados às sarjetas. Por fim, o Mus musculus, o mais versátil dos três; adapta-se com maestria a qualquer ambiente, da cozinha ao gabinete do novo chefe.
Assim como seus equivalentes zoológicos, alguns representantes da fauna política exibem talentos particulares de sobrevivência. Há os que mergulham fundo nos esgotos do poder, os que escalam estruturas partidárias com destreza de rato de telhado e, claro, os que se infiltram discretamente em qualquer espaço onde haja migalhas de influência. Cada espécie política desenvolveu suas próprias estratégias de adaptação e, amparadas nas fake news e na inocência dos seus seguidores, todas prosperam.
Nos bastidores do poder, o cenário é propício à proliferação. Há restos de promessas, verbas mal aplicadas e um lixo moral sempre fresco, que garante alimento em abundância. Os roedores políticos não precisam de muito. Basta um cargo a um correligionário, uma indicação atendida ou um elogio para que se sintam confortáveis. E quando alguém tenta limpar o ambiente, somem num instante. Não porque desaparecem, mas porque sabem se esconder nos discursos do falso moralismo.
De tempos em tempos, a sociedade decide colocar ratoeiras. Chamam-nas de eleições, CPIs, reformas ou operações de limpeza ética. Monta-se o cenário com muito alarde, espalham-se iscas de esperança e espera-se a salvação. Mas, como bons sobreviventes, os roedores políticos logo descobrem como driblar o mecanismo. Roem as cordas, mudam de ninho ou simplesmente trocam de pelagem, apresentando-se como “novas espécies”. No fim, o eleitor é quem acaba caindo na armadilha, acreditando que participa de uma escolha quando apenas confirma um arranjo.
Como tudo que é ruim sempre encontra um jeitinho de piorar, alguns espécimes da categoria Mus musculus, a mais dissimulada, sorrateira e, por isso mesmo, a mais perigosa de todas, aprenderam a explorar a perversa matemática eleitoral; essa equação torta em que nem sempre o mais votado é o eleito. Graças a esse talento nato para o oportunismo, eles conseguem se manter por décadas nas três instâncias do Poder Legislativo: Câmaras Municipais, Assembleias Legislativas e Congresso Nacional.
Sabendo que os ratos são vetores de patologias graves, para evitar mal-entendidos com os seus homônimos da política, deixo aqui alguns dados científicos. Rattus norvegicus é a respeitável ratazana de esgoto, de hábitos subterrâneos e intenções igualmente obscuras. Rattus rattus é o popular rato preto, discreto, mas eficiente. Já o Mus musculus é o camundongo doméstico, pequeno e sorrateiro. Ele exibe na versão humana um DNA que carrega o gene do camaleão, e isso lhe permite circular com elegância pelos corredores do poder, sempre atento às vontades do mandatário do momento. É o verdadeiro milagre da evolução política. Um ser que nunca perde, apenas muda de dono.








