“Não basta saber ler que ‘Eva viu a uva’. É preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho”.
Paulo Freire
“O lugar oferece a cada pessoa um conjunto de possibilidades e de limites”.
Milton Santos
Há uma pergunta que ronda silenciosa as salas de aula da Nova Alta Paulista: Quantos dos nossos jovens realmente podem escolher o próprio futuro? E quantos não têm sequer uma única alternativa? A resposta aparece todos os anos, quando algumas portas se abrem e outras permanecem fechadas, quase sempre para as mesmas pessoas.
O Governo Estadual fala com entusiasmo sobre modernização, tecnologia, projetos de vida e protagonismo estudantil. Mas a distância entre o discurso e a realidade das nossas escolas é grande. Aqui, a juventude aprende cedo que as promessas da educação pública nem sempre conversam com o mercado de trabalho regional, muito menos com as oportunidades que a região consegue oferecer.
Os estudantes da rede pública carregam, além do caderno e do uniforme, a expectativa silenciosa de que serão a mão de obra que sustenta o cotidiano das pequenas cidades. São jovens que, ao terminar o Ensino Médio, encontram empregos que exigem muito e devolvem pouco, quase sempre distantes da narrativa de futuro apresentada nas políticas educacionais divulgadas aos quatro ventos. São filhos de agricultores, diaristas, trabalhadores informais e servidores municipais. Muitos sequer pensam em ir embora porque a vida não lhes permite imaginar essa possibilidade. E quando conseguem sair e se destacar em algum cenário maior, viram notícia nos meios de comunicação, como se fossem exceção que comprova a regra.
Enquanto isso, uma parcela menor desses jovens segue um caminho completamente diferente. São os estudantes das escolas particulares, muitas vezes filhos de famílias com mais renda e maior capital cultural. Esses, em grande parte, fazem as malas logo após o terceiro ano e partem para universidades públicas de ponta, para centros de pesquisa, estágios em grandes cidades ou mesmo para outros estados. Eles não apenas podem escolher ir embora. São incentivados a isso desde o início de seus ciclos escolares.
E assim, a região vive um desequilíbrio que poucos gostam de comentar. De um lado, jovens da rede privada que vão embora e dificilmente voltam. De outro, jovens da rede pública que seguram as pontas da economia local e mantêm vivas atividades essenciais, enquanto continuam ouvindo discursos sobre oportunidades que nunca chegam por inteiro. Esse movimento constante esvazia a capacidade da Nova Alta Paulista de se reinventar e aprofunda desigualdades que a escola, sozinha, não consegue resolver.
Ainda assim, há algo profundamente poderoso nas escolas públicas. Elas resistem! Elas seguram os jovens que poderiam se perder. Elas lembram à cidade que há inteligência, criatividade e potencial nas periferias, nos bairros afastados, nos assentamentos e nas famílias que lutam para pagar um botijão de gás e, mesmo assim, mandam o filho estudar. Mas a escola não pode, sozinha, transformar tudo isso!
Se quisermos que os jovens fiquem por vontade e não por falta de opção, precisamos de governantes que deixem de tratar a região como apêndice administrativo, ou apenas como território eleitoral. É necessário planejamento, investimento, diálogo com as universidades e comunidades escolares, incentivo real à formação técnica (ou superior) conectada ao território e políticas que tornem possível um futuro aqui, e não apenas nos grandes centros.
No fundo, o drama dos jovens da nossa região é o drama da própria Nova Alta Paulista. Quem pode, vai embora. Quem não pode, fica. E quem fica quase sempre carrega o peso de manter o interior funcionando, enquanto observa seus colegas seguirem caminhos que parecem pertencer a outro mundo. É o famoso: “Quem pode, pode; quem não pode, se sacode”.
Chegou a hora de admitir que desenvolvimento regional e educação não podem caminhar separados. Se quisermos que nossos jovens criem raízes, precisamos garantir que elas encontrem solo fértil e não terreno abandonado. Porque, no fim das contas, ninguém constrói futuros onde não se enxerga horizontes.

- Tiago Rafael dos Santos Alves
- Professor
- Mestre pelo PPGG-MP – FCT/UNESP
- Doutorando pelo PGAD – FCE/UNESP
- E-mail: [email protected]








