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quarta-feira, 17 dezembro, 2025

Idadismo no Brasil: um desafio ético, social e sanitário

Confira o conteúdo assinado pelo médico Alessandro Ferrari Jacinto

O idadismo (ou etarismo) refere-se ao preconceito, discriminação ou estereotipação de pessoas com base exclusivamente na idade, afetando principalmente os idosos. No Brasil, trata-se de um fenômeno estrutural e muitas vezes naturalizado, que se manifesta em atitudes cotidianas, políticas públicas insuficientes, práticas institucionais excludentes e até mesmo na assistência à saúde.

Com o rápido envelhecimento populacional — o Brasil caminha para ter mais idosos do que crianças nas próximas décadas — o idadismo torna-se um problema de grande relevância social. A visão do envelhecimento associada apenas à incapacidade, improdutividade, dependência ou doença reforça estigmas e contribui para a exclusão social da pessoa idosa.

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No campo da saúde, o idadismo pode resultar em subdiagnóstico, subtratamento ou decisões terapêuticas baseadas na idade cronológica, e não na funcionalidade, desejos e valores do indivíduo. Expressões como “isso é da idade” ou a recusa de tratamentos sob o argumento exclusivo da idade são exemplos de práticas idadistas que violam princípios éticos e o direito à saúde.

No mercado de trabalho, o idadismo se manifesta pela dificuldade de reinserção profissional, pela valorização excessiva da juventude e pela ideia de que trabalhadores mais velhos são menos produtivos ou resistentes à inovação — pressupostos frequentemente desmentidos por evidências científicas.

Do ponto de vista jurídico e social, o Brasil possui avanços importantes, como o Estatuto da Pessoa Idosa, que garante direitos fundamentais e combate a discriminação. No entanto, a persistência do idadismo revela que a legislação, embora necessária, é insuficiente sem mudanças culturais profundas.

Combater o idadismo exige:

  • Educação intergeracional desde a infância
  • Formação adequada de profissionais de saúde e assistência social
  • Políticas públicas centradas na funcionalidade e autonomia
  • Valorização da pessoa idosa como sujeito de direitos, saberes e história

Promover um envelhecimento digno não é apenas uma questão de justiça social, mas um compromisso ético com o presente e o futuro da sociedade brasileira. Envelhecer é uma conquista coletiva — e respeitar quem envelhece é respeitar a própria condição humana.

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