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segunda-feira, 22 dezembro, 2025

Então é Natal

Confira o conteúdo assinado pela jornalista Márcia Molina

Existe época mais bonita que a de Natal? Existe período mais controverso, mais triste, mais depressivo que o período natalino? Depende.

Tenho uma amiga que diz: “Atualmente somente crianças de zero a três anos curtem o Natal. Isso se tiverem famílias estáveis e boas condições financeiras, caso contrário nem elas”.

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Às vezes sinto que nada mais tem graça para elas. Nada mais é tão emocionante quanto os vídeos de cinco a dez minutos cheios de ação e emoção do You Tube. Velhinhos bonzinhos em trenós puxado por renas, menino Jesus na manjedoura…. coisa chata, ultrapassada…”

Essa mesma amiga costumava ouvir meus comentários nos finais de ano: “Fulano surtou coitado.. justo agora que é época de Natal”. Ou ainda: “Sicrano deprimiu. Justo agora coitado…”. E ela respondia: “As pessoas não surtam ou deprimem ‘bem agora no Natal’. Elas surtam justamente porque é Natal…”. E eu com cara de ué… “Será”?

Fico pensando que o ser humano dos novos tempos não consegue encarar de frente a possibilidade de felicidade. Ou de um momento em que todos possam estar num mesmo clima de comunhão, de paz, de amor. Mas por quê? Não sou psicóloga nem psiquiatra. Apenas uma observadora. E já passei por muito natais. Otimista que sou, nunca me deixei abater. E talvez por isso, observar a tristeza e até mesmo a revolta de algumas pessoas com o espírito cordial do Natal, me deixa intrigada.

Todos nós perdemos entes queridos durante a vida, de quem sentimos falta todos os dias.  No entanto aprendi, nessa época do ano, a reconhecer como foi bom tê-los ao nosso lado durante tanto tempo, ao invés de culpar o Natal e as pessoas que estão em volta, por essa perda.

Também acontece de não estarmos exatamente com as pessoas (vivas) com quem realmente gostaríamos de estar na chamada “Noite Feliz”. Mas faz parte… não é possível estar em vários lugares ao mesmo tempo. E cá entre nós, também ninguém é obrigado a ficar com quem não se sente bem. E nesse caso sou a favor daquele velho ditado: os incomodados que se retirem… ao invés de estragar o Natal alheio…Todavia, com um mínimo de amor e espírito natalino, é possível brindar a uma humanidade melhor.

Como roqueira que sou, lembro que foi nesse clima natalino que há quase 60 anos um jovem casal – ela uma japonesa, de Tóquio, artista plástica cuja depressão já a havia levado, mais de uma vez, a tentativas de suicídio; ele um inglês de Liverpool, famoso por suas composições e por sua banda, mas que também convivia com angústias e questões – fizeram juntos a música mais tocada nessa época: Happy Xmas (War is Over).

Ambos lutavam pela paz mundial, ambos se amavam e não haviam perdido a esperança. Naquele dia de dezembro de 1971, tomando café da manhã na suíte do Hotel St. Regis em Nova York enviaram ao mundo a mensagem que se tornaria um clássico natalino, trazendo em sua essência a grande utopia em que no mundo não haveria diferenças entre brancos e pretos, ricos e pobres e que a paz seria possível.

A utopia do casal, porém não se concretizou. As guerras atuais e a violência são a prova disso.  E ainda existe a guerra profunda que travamos em nosso interior, a cada dia, resultado, quem sabe da frustração advinda de tanta desavença. Ela consegue ficar lá, nas trincheiras da nossa alma e acabam vindo à tona agora… justamente no Natal…

A utopia, porém, resiste. … sempre haverá um sopro de luz, um alento de que tudo vai melhorar

Então, CORAGEM! É hora de viver o Natal. A saudade dos ausentes vai doer, as guerras continuarão gerando sofrimento, nossas lutas interiores continuarão acontecendo… Lennon disse um dia “the dream is over “(o sonho acabou) , mas ele próprio se corrigiu e escreveu: War is over… if you want it. ( a guerra acabou. É só querer).

Que a sensação de tristeza que acomete alguns nessa época do ano seja dissipada pela utopia descrita na música e pela força espiritual de cada um nós.

Feliz Natal.

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