Fora da caixa

Coluna semanal de Silvio Graboski

Quando falamos de vinho sabemos que os europeus são bem tradicionais, inclusive, para que o rótulo possa estampar o nome de uma determinada região é necessário que siga rigorosamente as regras impostas para a produção, como por exemplo, o tipo de uva permitida, o tempo de envelhecimento, etc.

Alguns produtores, todavia, alegando que essas regras engessam a produção e impedem a evolução, preferem abrir mão de utilizar a denominação no rótulo e fazem vinhos fora da caixa.

Na Toscana, por exemplo, a região vinícola mais importante é o Chianti, que produz o famoso vinho do mesmo nome. Nessa região as regras de produção são rigorosas e a uva principal é a Sangiovese, uma uva nativa.

Porém, no início da década de 70, alguns produtores entenderam que poderiam fazer vinhos de melhor qualidade introduzindo uvas importadas, como por exemplo, a francesa Cabernet Sauvignon e passaram a produzir vinhos reconhecidamente de alta qualidade, que foram chamados de “supertoscanos”. Dentre eles destacou-se o famosíssimo Tignanello, corte de Sangiovese e Cabernet Sauvignon, que custa em torno de R$ 1.300,00, dependendo da safra.

O vinho italiano de destaque da coluna desta semana não chega a tanto, mas guardadas as devidas proporções, também é um vinho fora da caixa.

Produzido na região de Colline Metallifere, Alta Maremma (Toscana), o Tua Rita Rosso Dei Notri 2015, é um vinho  de nome engraçado, feito com 50% de uva Sangiovese (italiana), e os restante de uvas estrangeiras: 16,7% de Cabernet Sauvignon,  16,7% de Syrah e 16,6% de Merlot. Com 14% de teor alcóolico, a Sangiovese passou apenas por aço inox, enquanto que as demais uvas amadureceram em barricas de carvalho francês por 18 meses.

Gostei do vinho porque as uvas estrangeiras deram intensidade e complexidade. Com aromas de amora e cassis, na boca revelou chocolate amargo, baunilha e notas defumadas. Seus taninos estavam firmes, finos e maduros suportados por uma ótima acidez, que combinou perfeitamente com a acidez do molho à bolonhesa da lasanha, que harmonizei com o vinho.

Não é um vinho que se encontra na prateleira de supermercados, mas é bom saber que um bom vinho italiano pode ser feito também com cortes de uvas estrangeiras.

O outro exemplo que trago para a coluna de hoje é o vinho espanhol Infinitus.

Como sabemos os principais vinhos da Espanha são feitos unicamente com  a Tempranillo, a uva símbolo da Espanha, que também é chamada de Tinto Del País ou Tinto Fino e em Portugal é conhecida pelo nome de Tinta Roriz.

Mas assim como na Itália, alguns produtores ousaram inovar e passaram a fazer vinhos introduzindo uvas não nativas. O exemplo mais marcante é o vinho Veja Sicilia, o mais ilustre e caro vinho espanhol, feito com 80% de Tempranillo e 20% de Cabernet Sauvignon e que, dependendo da safra, chega a custar R$ 6.000,00.

Nosso Infinitus é bem mais barato, mas, como o Veja Sicilia, é um blend de de Tempranillo e Cabernet Sauvignon (infelizmente a ficha técnica não trouxe a proporção).

O corte resultou num vinho de corpo médio, frutado, macio, com 14% de teor alcóolico e que passou por 6 meses em barrica de carvalho francês.

Creio que essas dicas nos ajudam a desmitificar a ideia de que o bom vinho espanhol tinto é feito unicamente de Tempranillo. Há casos em que o corte com outras variedades resulta em vinhos de excelente qualidade.

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