A divulgação que fragmentos de dinossauros e outros seres antigos foram encontrados na obra do pedágio na SP-294 (rodovia Comandante João Ribeiro de Barros), entre Pacaembu e Irapuru, despertou a curiosidade de muita gente. Nesta quinta-feira (15), quando a notícia foi divulgada pela Eixo SP, concessionária que administra a via, o assunto dominou as redes sociais e noticiários, inclusive sendo capa da edição desta sexta-feira (16), do IMPACTO. Para saber mais clique aqui.
Mas o fato não é inédito na região. Inclusive, Adamantina tem um dinossauro que leva o nome da cidade em sua homenagem – o Adamantisaurus mezzalirei. Descoberto em 1959, o titanossauro de 12 metros de comprimento por 4 de altura ainda é desconhecido por boa parte da população que vive em uma região denominada por especialistas como “parque dos dinossauros” paulista.
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A cidade está situada na Formação Adamantina, região geológica localizada nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso do Sul e formada por arenitos, siltitos e argilitos. Aqui, na divisa com Flórida Paulista, o paleontólogo Sérgio Mezzalira – que também dá nome ao dinossauro – resgatou os fósseis encontrados durante a obra de extensão dos trilhos da Cia. Paulista de Estradas de Ferro de Adamantina para Panorama.
No ano de 2006, quando foi identificado – 47 depois de sua descoberta –, o jornal Folha de São Paulo entrevistou o geólogo, que, segunda a reportagem, precisou “de paciência, muita lábia e uma tremenda sorte para arrancar os fósseis das mãos de um grupo de trabalhadores da ferrovia”.
“Eu soube por um pessoal da USP [Universidade de São Pulo] que tinha aparecido um material naquela região”, recordou Mezzalira, na entrevista. “O diretor da faculdade falou que não podia ir buscar. E eu conversei com o diretor do Instituto Geológico e ele me mandou ir lá”, contou.
Foram três meses até que a USP emitisse uma autorização para o instituto coletar os fósseis. “O topógrafo da ferrovia disse que não iria deixar eu levar o material”, disse Mezzalira.
A Folha descreveu a situação: “o geólogo, então, armou-se de toda a paciência do mundo para tentar convencer o sujeito, numa conversa de bar noite adentro. Lá pelas 23h o assunto enveredou para as dificuldades de fazer ciência no Brasil e os “loucos” que se aventuravam numa carreira científica. O topógrafo, então, mostrou a Mezzalira um livro sobre moluscos fósseis escrito por dois desses “loucos”. Foi a sorte do geólogo. “Disse a ele: “O autor de baixo sou eu”. Aí ele sorriu e disse: “Amanhã o sr. leva o material”.”
Depois de descoberto, os fósseis ficaram guardados até 2006, no Museu Valdemar Lefevre (Mugeo), no Parque Água Branca, em São Paulo, até serem descritos, no mesmo ano, pelos paleontólogos Rodrigo Santucci e Reinaldo José Bertini, da Unesp de Rio Claro.
De lá pra cá, o fato histórico é estudado por especialista e noticiado por veículos de comunicação de abrangência nacional, como também no jornal O Estado de São Paulo, que informou, em junho de 2018, sobre uma expedição ao Oeste paulista de uma equipe do Museu de História Natural de Los Angeles (EUA) em busca de fósseis de pequenas aves que conviveram com os dinossauros, há mais de 70 milhões de anos.
Em entrevista ao periódico na época, o paleontólogo William Nava, diretor do Museu de Paleontologia de Marília, disse que atua com outros pesquisadores visando à criação de um circuito paleontológico no Oeste paulista, uma espécie de roteiro de pesquisas e turismo sobre a época dos dinossauros. “Embora todo o Oeste seja um grande cemitério de dinossauros e outros répteis do Cretáceo, soterrados sob camadas de solo, plantações e cidades, isso ainda é pouco conhecido.”
Ainda, segundo ele na reportagem, apenas as cidades de Marília, Monte Alto e Uchôa possuem museus de paleontologia. No entanto, informa O Estadão, “achados importantes aconteceram em Flórida Paulista, Lucélia, Adamantina, Pacaembu e muitas outras cidades”.
Adamantisaurus mezzalirai
Comprimento: 12 m
Altura: 4 m
Descrição: Seus únicos ossos conhecidos são da cauda: mais precisamente, seis vértebras coletadas em 1959. O grandão viveu a 70 milhões de anos, e é possível que sua espécie tenha sido diretamente afetada pela queda do meteoro que pôs fim ao período Cretáceo, há 65 milhões de anos.
Com informações dos jornais O Estado de São Paulo e Folha de São Paulo