
Um dos médicos mais tradicionais de Adamantina, o Dr. Luiz Fernando Guimarães Santos morreu aos 85 anos de idade. Ele era Ginecologista e Obstetra.
Conforme a Funerária Flor de Lotus, a cerimônia de despedida ocorrerá no Memorial da empresa, nesta quarta-feira (25), a partir de 12h30.
O sepultamento será às 16h30, no Cemitério local. A Flor de Lotus orienta que, por medida de segurança e saúde pública, há restrição no número de pessoas no local, reservado apenas aos familiares mais próximos.
Em agosto de 2014, a 6ª edição da Revista VOX contou a história do profissional. Confira a matéria assinada pela jornalista Tamyris Araujo.
“TENHO ORGULHO DE FAZER PARTE DE VÁRIAS GERAÇÕES ADAMANTINENSES”
Em 51 anos de profissão, 11.300 adamantinenses vieram ao mundo por suas mãos. Além disso, foram feitas mais de 6 mil cirurgias ginecológicas. Hoje Guimarães faz parte da vida de várias gerações adamantinenses
Ter um filho trilhando o mesmo caminho do pai com certeza é o desejo de muitos patriarcas. Imagine conseguir essa façanha por cinco gerações. A de Luiz Fernando Guimarães Santos, de 78 anos, conseguiu reunir os homens da família na medicina.
Tudo teve início com o bisavô Heitor Santos, clínico geral. O avô Angelo Godinho dos Santos foi pneumologista e o primeiro médico da Aeronáutica Brasileira. “Lembro com muito orgulho que meu avô montou 11 hospitais centrais da Aeronáutica no Brasil, e o presidente do país na época, Costa e Silva, o nomeou patrono do serviço médico da Aeronáutica, e por esse motivo, todo dia 11 de abril [data de seu falecimento], nesses hospitais é celebrada uma missa em sua homenagem”, diz Luiz Fernando.

A geração seguinte contou com o pai José Luiz Guimarães médico anestesista e a mãe Maria de Lourdes Guimarães Santos com curso de Enfermagem feito durante a 2ª Guerra Mundial para ajudar no atendimento dos soldados brasileiros. “Realmente a medicina teve origem familiar. Entretanto, de quatro irmãos, apenas eu escolhi ‘o branco’”.
Guimarães se formou em 1963 na Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Permaneceu oito anos trabalhando na mesma cidade no Hospital do Ministério da Saúde, fez residência e, como ele mesmo define, “tinha uma vida corrida demais para morar na ‘Cidade Maravilhosa’”.
“Meu pai dizia que eu deveria sair do Rio, pois não aproveitava as belezas da cidade, apenas trabalhava, por isso deveria procurar uma cidade mais propícia”.
Foi então que em 1968 Guimarães escolheu três cidades para conhecer e escolher em qual faria morada: Ribeirão Preto, São José dos Campos e Adamantina. “Adamantina porque um amigo anestesista, Oscar Tonentino, que auxiliava meus trabalhos no Rio, morou por oito anos aqui e chorava quando lembrava da cidade, dos amigos conquistados, do carisma das pessoas e da receptividade de todos. Eu ficava encantado e curioso para conhecer essa cidade do interior”.

Adamantina foi a primeira a ser visitada. “Primeira e única, pois não sai mais da ‘Cidade Joia’. No município, na época, havia 10 médicos, mas nenhum ginecologista, pois os outros dois tinham deixado a cidade há pouco tempo. Me ofereceram emprego, condução e moradia. Pensei, vou trabalhar, economizar dinheiro e volto para perto dos meus pais, entretanto esses cinco anos viraram 44”.
Nesses 51 anos de profissão, 11.300 adamantinenses vieram ao mundo até dezembro de 2013 por suas mãos. Além disso, foram feitas mais de 6 mil cirurgias ginecológicas. “Hoje faço o parto de ‘filhos dos filhos’, trabalho feito por gerações, e é muito gratificante. Tenho orgulho de fazer parte de várias gerações adamantinenses”.
E um dos reconhecimentos pelo seu belíssimo trabalho veio em 2008, quando o médico foi convidado para coordenar um programa de cuidados com gestação de alto risco. “Na época a natimortalidade estava muito alta no município, a ponto do governador mandar ofício alegando que Adamantina atrapalhava o índice do Estado. Resolvi aceitar o desafio e os índices melhoraram, tanto que em 2013 Adamantina foi uma das cinco melhores cidades em índice de natimortalidade”.
Atualmente Guimarães continua atuando no Centro de Saúde e em sua clínica particular, sendo o único ginecologista que atende pelo SUS (Sistema Único de Saúde) e no ambulatório da Santa Casa. “Sou o único ginecologista e obstetra de Adamantina que trabalha para o Governo, pois acredito que ninguém nasce pobre porque quer. Temos muitos no SUS que precisam de ginecologista, as gestantes do Centro de Saúde precisam de um bom atendimento. Fiz grandes amizades lá, muitas crianças levam meu nome em minha homenagem e estes cinco anos foram gratificantes, porque são pessoas sem condições econômicas que são bem tratadas por mim e minha equipe, quatro enfermeiras que me auxiliam em tudo”.
Por amor à profissão, o ginecologista e obstetra revela que pretende continuar no ramo por mais um tempo, até quando se sentir bem. “Meu pai foi anestesista até os 85 anos, e para eu chegar lá faltam sete. Saúde para isso graças à Deus tenho, amo minha profissão e enquanto puder estarei na área”.
FAMÍLIA
Luiz Fernando Guimarães Santos é pai de três filhos de sangue e uma filha de criação. André – publicitário, comanda uma das maiores firmas de publicidade em São Paulo; Luiz Felipe – sócio de uma firma de informática especializada; Luiz Fernando, o caçula que segue os passos do pai na profissão; e Érica – filha de criação do segundo casamento, também médica, para orgulho de Guimarães.
“Recordo que fiz o parto do meu filho Luiz Fernando, pois na época não tinha nenhum médico na cidade para operar minha mulher e então fiz a cesariana. O bebê se chamaria Eduardo, mas achamos melhor repetir o meu nome, e para minha felicidade ele também repete a minha profissão. Fiz também o parto da filha dele, minha neta Ana Luiza. São gerações que tenho a enorme satisfação de ‘ter colocado no mundo’”.
Longe do branco, o médico conta que gosta de fotografia, tanto fotografar como apenas admirar belos retratos. Apesar da idade, Guimarães mostra que gosta de mexer no computador e que supera suas dificuldades. “Estudo pelo computador, porque na medicina se não nos mantermos atualizados é melhor parar de exercer a profissão. Eu gostaria de estar vivo daqui 20 anos para ver como estará duas coisas no mundo – a medicina e a informática.
Acredito que doentes renais crônicos até 2015 não vão mais existir, porque os americanos vão começar a fazer rins para substituir os que não funcionam. Os diabéticos vão parar de tomar insulina porque vão implantar marca passos produtores de insulina. E, na área da informática, nem se fale em tanta evolução”, comenta.
Ler, ir à praia, cuidar dos animais de estimação e curtir a família e os cinco netos são outros hobbys do médico, devoto de Nossa Senhora Aparecida. “Adoro animal, tenho um cachorro, meu filho caçula o Nick, que recebe toda a atenção em casa”.
Hoje ele é casado com Célia Duarte Guimarães Santos, sua paciente e aluna no curso de enfermagem na FAI onde ele foi professor por 24 anos. “Até que a conquistei e hoje ela é a minha mulher”.
E Adamantina passou a ser a cidade do coração de Guimarães. “Mesmo que deixe de trabalhar, não irei trocar a tranquilidade da ‘Cidade Joia’ pelas praias ou belezas da capital e das cidades em que moram meus irmãos”.
