
À frente da Secretaria de Cultura e Turismo de Adamantina há um ano, Sérgio Vanderlei destaca em entrevista as conquistas do setor em 2021, bem como os desafios para os próximos meses. A pluralidade cultural, segundo ele, é o grande valor do município.
Em entrevista ao Diário, o responsável pelo setor, diretamente afetado pela pandemia, com suspensão de todas as atividades culturais, mas que voltou com tudo em 2021, apresentando à população programação cultural ampla, diversificada e atrativa, com feiras de artes e artesanato, apresentações musicais nos mais variados estilos, exposições, debates, noite de autógrafos e lançamento de livros e de produções musicais, peças teatrais, a volta do Roda Cultura, intervenções artísticas em ambientes públicos, entre outras diversas ações.
E o melhor de tudo é que grande parte destas atividades envolveram e valorizaram os artistas locais, colocando-os em evidência e apresentando à população uma rica produção artística, que muitas vezes passa despercebida. Com essas atividades, a Secretaria de Cultura de Turismo de Adamantina “deu voz” a artistas, artesões, músicos e outros munícipes que sobrevivem da economia criativa das mais diversas expressões.
Um dos destaques dessa ampla programação, para não dizer “revolução”, foi a Semana da Consciência Negra, realizada de 15 a 26 de novembro, com uma agenda que proporcionou um amplo debate e levou, além de arte, conhecimento e informação.
Os reflexos da semana foram tão significativos que o evento passará a integrar o calendário oficial do município. A pedido da Secretaria de Cultura e Turismo de Adamantina, a Câmara Municipal aprovou a Lei 4.104 que institui a Semana Municipal da Consciência Negra e de Ação Antirracista no Município de Adamantina. O projeto de Lei foi apresentado pelos vereadores Paulo César Cervelheira e Hélio José dos Santos.
Segundo consta na Lei a Semana deve ser realizada sempre próximo a 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra (Lei Federal 12.519, de 10 de novembro de 2011), passando a integrar o Calendário Municipal de Eventos de Adamantina.
Confira a entrevista com o secretário municipal de Cultura e Turismo de Adamantina, Sérgio Vanderlei.
Diário do Oeste – Ao longo de um ano à frente da Secretaria de Cultura e Turismo de Adamantina o desafio da pandemia limitou, em muito, a promoção de eventos culturais. Como foi lidar com essa situação?
Sérgio Vanderlei – Mesmo com a pandemia conseguimos realizar eventos presenciais, sempre respeitando os protocolos impostos pela Covid-19, além de outros no formato online e hibrido. Identificamos uma necessidade das pessoas em retomar o convívio social, o contato com a cultura e a presença em eventos. E em tudo o que fizemos tivemos um retorno positivo da comunidade. Foi e está sendo gratificante. Neste primeiro ano conseguimos identificar os inúmeros talentos que Adamantina possui, dando visibilidade a eles através da imprensa, como também na divulgação dos seus trabalhos.
Diário – Principalmente no mês de novembro tivemos uma ampla programação, com diversas atividades culturais em suas mais diversificadas linguagens. Como avalia estas atividades e sua repercussão na sociedade adamantinense?
Sérgio – A repercussão na sociedade tem sido muito positiva. Conseguimos mensurar pelo contato direto com o público e pelas redes sociais. Nossa meta de trabalho é ocupar espaços públicos com eventos de qualidade, sempre valorizando os artistas e os profissionais de eventos. A Cultura e a Arte transformam vidas, e a sociedade tem esta consciência, por isso tem valorizado o nosso trabalho.
Diário – Falando especialmente da Semana da Consciência Negra, que teve uma programação que merece destaque, a Secretaria promoveu o resgate/valorização de diversos movimentos, entre os quais o Hip Hop, que engloba todo um universo, do skate, a batalha de rimas, o grafite. Como avalia a semana e estas manifestações culturais?
Sérgio – Fomos um dos poucos municípios do Estado que colocou em prática uma ampla programação cultural na Semana de Consciência Negra. Tanto que a mesma, através de Lei, integra a partir de 2022 o calendário oficial do município. No meu ponto de vista é uma data muito importante, pois resgata e discute temas de relevância para a nossa sociedade, como o racismo e a desigualdade social ainda existentes. Sobre o Hip Hop é o movimento que mais cresce no mundo, tanto que irá integrar as próximas Olimpíadas de Paris. É o movimento que hoje não só representa a força da periferia, mas está presente em todos os níveis sociais e fala diretamente com o público jovem. Nossa intenção é investir ainda mais nesses movimentos, ressaltando a força e a linguagem cultural.
Diário – Outro importante aliado da Cultura é o Coletivo Camaleão, que reúne e motiva artesãos e artistas em sua já tradicional feira. Qual a importância da participação de entidades como essa no contexto cultural?
Sérgio – O Camaleão é um dos coletivos mais organizados de Adamantina que reúne artistas, artesãos e talentos, sendo que muitos deles usam da sua arte como sobrevivência ou como complemento de renda. É a tão falada Economia Criativa. Por essa importância entendemos que precisamos sim incentivar, tanto que não medimos esforços para realizar três feiras em apenas um ano com alto investimento de dinheiro público na adequação de praças e na contratação de artistas e profissionais de eventos. Nossa ideia, junto com os responsáveis do coletivo, é levar a feira para outras praças de Adamantina, até como forma de resgatar, valorizar e revitalizar esses locais.
Diário – Outras atividades foram desenvolvidas pela Secretaria, relacionadas à Literatura e Teatro, enriquecendo essa ampla programação preparada para a população adamantinense. Qual o seu balanço desses eventos?
Sérgio – Todos os segmentos culturais têm sua importância. E não é diferente com a literatura e o teatro. Fiquei surpreso neste primeiro ano com a quantidade de jovens interessados nestes segmentos. Pessoas que frequentam nossa biblioteca atrás de livros, conhecimento e na participação dos eventos. O balanço é mais do que positivo. E agora, em janeiro, vamos dar início às aulas com um grupo de 30 pessoas, para a formação de um grupo teatral. Se Deus assim permitir, seremos referência regional.
Diário – Atualmente a Secretaria tem valorizado e incentivado a ocupação dos espaços públicos por parte dos artistas, possibilitando assim uma disseminação cultural. Qual a relevância dessa iniciativa?
Sérgio – Principalmente por tudo que passamos em relação à pandemia, ocupar os espaços públicos de forma consciente se faz necessário. É o sair de casa, levar os filhos para brincar, correr e conviver com outras crianças. É a troca de experiências entre os jovens. É reviver momentos de prazer entre os mais adultos. E Adamantina é agraciada, pois possui inúmeros locais que podem receber eventos.
Diário – E quanto à valorização do artista local, especialmente em tempos de pandemia, onde muitos enfrentaram, além do vírus, a impossibilidade de trabalhar, de expor sua arte, e, muitas vezes ficaram sem opções de sustento. Como avalia o papel do Poder Público neste cenário?
Sérgio – Momentos difíceis, mas temos plena consciência disto. E trabalhamos incansavelmente neste primeiro ano, realizando praticamente um evento por semana. Quando falamos de Cultura existem, no meu ponto de vista, duas frentes a serem trabalhadas pelo Poder Público. A primeira é a formação, através de oficinas, workshops, cursos, banda marcial, orquestra de viola, capoeira, dança e outros segmentos. Outra frente é a realização de eventos. É através dos eventos que o artista pode mostrar a sua arte, ter o contato com o público e servir de inspiração para outros que pretendem fazer algo em relação a arte. Os eventos é a coroação de um trabalho. Por exemplo, uma criança que aprende e ensaia o ano inteiro no Projeto Guri, tem a sua “glória” quando se apresenta perante o público. Ali está a satisfação do artista. Ali está a inspiração que toca muitos outros a entender que Cultura e Arte podem transformar vidas.
Diário – Considerações finais.
Sérgio – Gostaria muito de agradecer a toda comunidade, imprensa e membros dos conselhos de Cultura e de Turismo que têm entendido a importância do que estamos fazendo. E não poderia deixar de ressaltar a participação e o respaldo que toda a administração do prefeito Márcio Cardim tem dado ao nosso setor. Sem este respaldo e sem este entendimento de que Cultura e Arte são importantes na vida da comunidade, nada seria possível.