18.8 C
Adamantina
sexta-feira, 4 julho, 2025

Histórias de agosto

Todo agosto meu pai falava do romance que levava o nome do mês, de Rubem Fonseca, talvez um parente distante, dizia ele, que discorria sobre polícia, política, desmandos, crimese, o fim de um governo, o de Vargas, que durou, com algumas interrupções, de 1930 a 1954.  Agosto, o mês do cachorro louco no folclore brasileiro, geralmente o mês mais quente no hemisfério norte e o mais frio e ventoso no sul.

Agosto no Rio, então a capital

Agosto era para o meu velho, que viveu no Rio, próximo ao Palácio do Catete, então a sede do governo federal, prenuncio de coisas difíceis. Sempre foi assim, ele dizia, leitor assíduo de livros que narravam fatos históricos e de quem herdei a paixão pela lente dos discípulos de Heródoto.

- Publicidade -

Consultando apontamentos e registros históricospercebo que o seu Adyr tinha razão. Agosto é o mês de acontecimentos dramáticos seja para o Brasil,seja, num sentido amplo, para a trajetória do homem na Terra.

Guerras, mortes, desastres políticos

Sem ordem cronológica ou fixação de datas por dias do mês, agosto estreia na história, pelo critério de importância política, com fatos como a invasão austríaca na Sérvia detonando os conflitos dadevastadora Primeira Guerra Mundial; anos antes no mesmo mês, Adolf Hitler se torna o Führer na Alemanha; é travada a batalha crucial na SegundaGuerra Mundial, a da Inglaterra, nos ares, entre a Luftwaffe temível aviação alemã e a Raf (Royal Air Force) inglesa; ainda em agosto e na Segunda Guerra Mundial, nos seus estertores, as duas bombas atômicas o lançadas no Japão pela aviação norteamericana, a de Hiroshima e Nagasaki. O mês marca a renúncia do presidente americano Richard Nixon, em função do rumoroso caso Watergate; fato simbólico da geopolítica internacional, agosto marca o inicio da construção do muro de Berlim; marca também a morte do líder de um dos maiores impérios da história, Gengis Khan; do grande intelectual russo Leon Trótski; no terreno nacional a morte de seu visionário presidente Juscelino Kubitschek; do primeiro presidente republicano Marechal Deodoro da Fonseca; o suicídio de GetúlioVargas que renuncia à vida para, segundo ele mesmo, entrar para a história; Jânio Quadros que renuncia não à vida mas ao cargo de presidente e põe o país numa crise sem precedentes; e o impeachment de Dilma Rousseff.

Outros eventos extremamente midiáticos e de enorme repercussão política aconteceram em agosto. O famoso discurso de Martin Luther King pela igualdade racial nos EUA, com sua emblemática frase I Had a dream(eu tive um sonho); a morte de Lady Di que consternou toda a sociedade ocidental e pôs em xeque pela primeira vez, depois de Cromwell, a monarquia britânica e a absolutamente revolucionária Declaração Universal dos direitos do homem e do cidadão elaborada pela assembleia francesa.

No rock, na arte, na cultura

Para os mais jovens, principalmente os amantes do rock, agosto leva embora da terra fenômenos como

Elvis Presley e Raul Seixas. Mas faz acontecer o grande encontro da geração sexo, drogas e rock androll, o festival de Woodstock. E lança o que o para muitos cinéfilos é o grande filme da história:Apocalypse Now de Francis Ford Coppola. Mas finaliza a passagem na terra de Glauber Rocha, o mais festejado cineasta brasileiro. E já que estamos nas artes agosto carrega Carmen Miranda, Marilyn Monroe, Peter Fonda, Carlos Drummond de Andrade, Charles Baudelaire.

Lembro-me, porém, vendo as passagens culturaisdos últimos finais de semana em Adamantina, da frase do músico, filósofo e pensador terreno Belchior homenageado em um cover de Ana Cañasque cai bem num agosto pós pandemia…tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro, o ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro.

Assim vamos festejar as efemérides que esse mês singular nos trouxe. Falando de política são nascidos em agosto Napoleão Bonaparte e Fidel Castro dentre outros. Nas artes se festeja o aniversario de criação do maior recinto de artes do mundo, o Museu do Louvre. No cinema nascem Alfred Hitchcock, Robert de Niro. Na música Madonna, Michael Jackson e o grande Claude Debussy. Na literatura ficando por aqui nascem Jorge Amado, Gonçalves Dias, Nelson Rodrigues e Paulo Coelho. Já Los Hermanos veem surgir os dois grandes escritoreslatinos Jorge Luiz Borges e Júlio Cortázar.

Esse ano…..

Seu Adyr, meu velho pai e leitor de Ruben Fonseca,não está mais entre nós. Foi embora dois dias antes de agosto. Mas minha memória não falha mais. Quando terminar julho vou ficar atento. Vou lembrar dele e de Belchior: o ano passado eu morri, mas esse ano……..

*Eduardo Fonseca é jornalista, advogado e educador

[email protected]

Publicidade