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segunda-feira, 18 agosto, 2025

A reivenção da fotografia

O livro de Pietro Maria Bardi, autor e obra desnecessitando de apresentações, quando fala de fotografia, a define como a reprodução das imagens. Nada mais singelo. Como quase sempre,Leonardo da Vinci está envolvido na descoberta, mas Bardi menciona um predecessor importante, Aristóteles o qual,observando embaixo de uma árvore um eclipse parcial do sol através de um orifício, reduziu-o, permitindo-lhe o esplendor mais nítido.

 

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Ambientes escuros posteriores, reflexos de luz com lentes,maquinários, as conclusões até então teóricas passam à pratica com o inventor parisiense Louis Daguerre, em agosto de 1839.

 

O resto … é história, uma das mais bonitas da criação humana, permitindo registros memoráveis, momentos artísticos, lembranças de família e amizade, eventos esportivos e ilustração de diversas publicações jornalísticas. Incluindo momentos dramáticos de política e guerra.

 

E retratos, substituindo com rigor formal, as pinturas de rostos e pessoas de flamengos e espanhóis, Goya por destaque. As fotomontagens anunciadas em 1906 pelo brasileiro Valério Vieira criam possiblidades opinativas, o que evolui para os cartazes, capas de disco, de livros, leia-se Elifas Andreato e suas Impressões. A fotografia é a arte disponível, acessível a todos, principalmente após o advento dos celulares e suas câmaras embutidas. O desejo de registro do momento vivido é algo irresistível. E hoje factível, sem salas escuras, reveladores químicos, máquinas pesadas, rolos de filmes etc.

 

Penna Prearo: visita obrigatória

num fim de semana na capital

 

Essa introdução toda é para dizer que nos dois últimos finais de semana passados na capital, dentre as inúmeras visitas culturais, teatro de Eugene O’Neil, no Tucarena, Quarteto de Cordas no teatro São Pedro, Exposição Futebol e o Modernismo, no Museu do Futebol, tivemos o prazer de reencontrar, no Sesc Bom Retiro, Penna Prearo e seu Labirintos Revisitados, exposição de obras maestras que poderíamos sintetizar como o momento de Reinvenção da fotografia.

 

Penna, querido amigo do rock, das artes e da vida faz, nessa mostra, uma imersão nos seus itinerários poético visuais. Na fala de Danilo Santos de Miranda, eterno diretor do Sesc, Penna faz, nos seus 50 anos de carreira, uma exploração dos limites da linguagem fotográfica que mescla imaginários heterogêneos. Ele vem do interior, como acentua o curador dessa mostra Agnaldo Farias, para a capital, cuja voracidade aprendeu a enfrentar armado com uma câmera fotográfica.

 

Das marcas e acentos registrados por gênios como Jean Manzon ou Sebastião Salgado para citar apenas dois mitos, Penna aos poucos e já depois de muita estrada rodada, troca os mecanismos pesados pelo smartfhone e fotoshop. E com todas as suas referências e repertorio, ouso dizer, reinventa a fotografia. Dilacera limites, transcendendo a forma e as possibilidades de registro de imagens, fundindo-as, amalgamando-as, recriando cenas e sensaçõesesbarrando num surrealismo de Max Ernst…

 

As referencias de Matisse, Kubrick ou Almondóvar são inegáveis. Na cor, no foco e na criação da cena.

Transmutantes

Tenho na minha sala um Transmutantes de 1992, obra impressaem alumínio, com a qual Penna me dá bom dia e me impele para a vida on the road. É uma sensação, ele descreve: “pedaços de luz vão compondo quadros da vida acordando preguiçosa. Apesar de tanta beleza, me espera uma dura batalha. Inverter o tempo e enlouquecer a bussola”.

Seu repertório cultural aprimorado, na série Tribunal das Pequenas Alterações, viaja para o elevador Lacerda de Salvador ou para Batersea de Londres, que já foi capa de vinil de Pink Floyd.

Sua inquietude bate forte nas imagens da exposição. Eu acuso a ideia de reinvenção da fotografia com a sensação de visitante amigo. Mas imparcial. Que fala com o artista e ouve o que está cunhado na legenda da obra Argonauta: “A fotografia conta histórias com ou sem passado. Quando isso fica impossível a fotografia reinventa”.

Ação educativa

A exposição tem ainda uma coordenação de ação educativa. Na fala de Talita Paes: para propor a ação educativa da exposiçãoencontramos maneiras de aproximar o visitante dessa fotografia que é quase pintura e ao mesmo tempo está tão próxima das propostas mais recentes das mídias sociais, do uso de smartphone, da velocidade dos compartilhamentos e das possibilidades de edição digital.

 

Tudo tem história, já sabemos. Penna vem de Itapevi, do trem, da máquina precária e ancestral. Viajou 50 anos e adaptou sua mente, seu corpo e seu back ground. Transformou suas dificuldades e reinventou o que fazia com maestria. E de quebra reinventou a fotografia.

 

*Eduardo Fonseca é jornalista, educador e advogado

[email protected]

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