Em 31 de junho de 2017 a Prefeitura de Adamantina implantava um novo programa de coleta de resíduos – o ‘Lixo Bom’. O objetivo era melhorar o serviço e reduzir a quantidade de rejeitos destinados ao aterro sanitário, que corre risco de ser interditado pela Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo). Passado pouco mais de seis meses a realidade é outra, e não muito boa como sugere o nome do programa: por todos os cantos da cidade as reclamações se multiplicam e o lixo se espalha devido à falta de coleta.
Esta semana foi a vez da professora universitária Izabel Castanha Gil utilizar as redes sociais para mostrar sua indignação em relação à falta de coleta em seu bairro, o Parque Tangará. Após um mês sem o caminhão de lixo passar às sextas-feiras, dia destinado para a coleta de folhas, a professora não encontrou outra forma de ter sua solicitação atendida.
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“Procuramos fazer tudo certinho, dentro das regras, para colaborar, pois todo mundo ganha. O lixo que não vem sendo recolhido é folha. No meu bairro a coleta é feita às sextas-feiras, porém não vinha sendo recolhido desde antes do Natal. Entendemos perfeitamente o período de festas do final do ano, porém, quando foi na quarta semana sem recolher as folhas, e aumentando o volume, entrei em contato com a Diretoria do Meio Ambiente. Eles informaram que estava faltando caminhão e pessoal, mas que o bairro entraria na escala e que viria na próxima sexta-feira [dia 12], o que não ocorreu”, informou.
Como não houve a coleta durante um mês, a professora publicou um desabafo nas redes sociais. “Prefeitura para quê? O cidadão recolhe seus impostos, procura seguir as orientações da coleta seletiva e recebe como resposta a negação do recolhimento dos resíduos. Este é o cenário de um mês de não coleta na minha rua. Nos tempos da EMDA [Empresa Municipal de Desenvolvimento de Adamantina, desativada ano passado] a realidade era outra”, desabafou.
Menos de 2h após a publicação a Prefeitura recolheu o lixo. “Postei a reclamação e menos de 2h vieram buscá-lo. O que não foi feito em quatro semanas foi resolvido em 2h”, disse.
Papel de cidadã
Mesmo com o lixo acumulando em sua residência, Izabel destaca que cumpriu com seu papel de cidadã. “Não levei este lixo às margens das estradas rurais. É uma forma de protesto, como muitos o fazem, porém tem consequências para os animais, para os corpos d’água e também enfeiam a paisagem”.
Ela, que mora em uma casa que atende às regras de gestão ecológica responsável, afirma que não é a primeira vez que necessitou reclamar com a Diretoria do Meio Ambiente. “No começo, por exemplo, os funcionários da Prefeitura chegavam com estilete e rasgavam os sacos de lixo para descobrir se o resíduo é condizente com o dia de recolha. Caso não fosse, não recolhiam e deixaram o saco de lixo rasgado nas calçadas”.
Problema por todos os bairros
A reclamação de Izabel não é fato isolado do Parque Tangará. Todas as semanas os questionamentos se multiplicam por Adamantina. “Venho através desse parabenizar a coleta de lixo de Adamantina. Acabou de passar em minha rua e não ficou nada de lixo! Gostaria de agradecer o gênio em estratégia que sugeriu amontoar lixo nas esquinas para facilitar o recolhimento! É dois trabalhos, quanto custa a mais? Os cachorros deitam e rolam nos lixos, está tudo errado! Inaceitável, isso não vai ficar assim! Se tiver algum vereador que possa intervir nisso seria ótimo, a cidade está virando um lixo!”, postou Waldomiro Neto, também reclamando da coleta de lixo.
“Quando andamos pela periferia percebemos que o problema da coleta é geral. E quando conversamos com moradores do centro, eles também relatam dificuldades. Os que não reclamam estão jogando às margens das estradas rurais”, diz Izabel, que complementa: “tem uma parcela da comunidade que precisa do poder público municipal para muitas coisas: educação, saúde, moradia e outros serviços. E outra parcela da população precisa da Prefeitura apenas para a coleta do lixo e para ter ruas transitáveis, e os dois serviços não estão sendo prestados satisfatoriamente. Ou seja, todo mundo está mal atendido em Adamantina”, pontua.
Solução
Segundo ela, é necessário ouvir a população e técnicos ambientais para resolução dos problemas. “É necessário sim um programa de coleta seletiva. É a segunda vez que Adamantina faz e é a segunda vez que o sucesso é duvidoso. Acho que aí está a falha. O programa foi colocado em prática em toda a cidade, quando os técnicos orientam que tem que ser por bairro, por etapas. Quando se faz tudo de uma vez corre-se este risco, satura, não tem estrutura suficiente e cai no descrédito. É preciso ouvir o cidadão pra colher dele as demandas e sugestões, e também é preciso ouvir os técnicos, porque são eles que sabem o que tem que ser feito e como. E sabemos que os técnicos de Adamantina recomendam uma implantação gradativa”, comenta.
Outra falha apontada pela professora foi a desativação da Emda. “A autarquia municipal tinha apontamentos do Tribunal de Contas, algumas inadequações na forma de contratação de funcionários. Mas, é possível fazer uma adequação e deixar estes funcionários atendendo a população. Não tem mais estes servidores, os da Prefeitura são insuficientes e o cidadão que paga seus impostos não tem o serviço”, reclama Izabel.
Ela alerta ainda que o problema estrutural na coleta do lixo pode comprometer o desempenho de Adamantina no Programa Verde Azul, que mede a eficiência da gestão ambiental nos municípios. “Perdemos pontuação há algum tempo e ela foi recuperada rapidamente. Aí vemos que os serviços básicos estão em falta, então como subiu tantos pontos e de maneira tão rápida? Será que houve manipulação? E se realmente subiu muitos pontos, porque a sociedade não desfruta desta melhoria? Não vemos isso na prática. É incoerente com a atual classificação e o reflexo dos serviços básicos mal estruturados será nova queda na pontuação”, alerta a professora.