Na última semana fui a Cascavel para um compromisso profissional e de lá estiquei o final de semana em Foz do Iguaçu. Além das belezas naturais, visitei Puerto Iguazú, cidade fronteiriça na Argentina, que conta com várias vinotecas que comercializam vinhos argentinos, um verdadeiro paraíso para os amantes do vinho.
Encontrei vinhos famosos, muito caros aqui no Brasil, mas lá os preços são bem convidativos. Por exemplo, o Gran Enemigo Chacay, 2014, que no site oficial do revendedor brasileiro custa R$ 566,24, lá custava R$ 116,00, ou seja, quase cinco vezes menos. O Bramare, malbec, Lujan de Cuyo, que aqui custa em torno de R$ 340,00, por lá estava a R$ 88,00. Já o Rutini, cabernet sauvignon/malbec, que aqui gira em torno de R$ 160,00, vale em terras argentinas, R$ 50,00.
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Mas por que essa diferença tão grande?
O fator mais importante, embora não único, é a carga tributária. Numa garrafa de vinho importado da Europa, por exemplo, 83,4% do preço pago pelo consumidor é imposto. Para os vinhos produzidos no Mercosul, como os argentinos, a carga tributária é um pouco menor, porque esses vinhos são isentos do imposto de importação. Mas nem mesmo os vinhos brasileiros escapam dessa tributação, o que significa que em torno de 65% do preço pago pelo consumidor são impostos e taxas.
Enquanto na Espanha o vinho é considerado complemento alimentar, no Brasil ele sofre tratamento tributário mais duro de que o comércio de armas. A alíquota do vinho é maior que a da cerveja (54,8%) e também supera a da cachaça, do uísque e da vodka, cuja carga tributária está em torno de 60%.
O preço elevado do vinho talvez explique o baixo consumo no Brasil que gira em torno de 2 litros anuais por habitante. De acordo com um relatório da OIV (Organização Internacional da Vinha e do Vinho), referente ao ano de 2015, Portugal é o país com maior consumo de vinho per capita, com média de 54 litros por ano para cada habitante. Os franceses, com 51,8 litros per capita, ocupam a segunda posição, seguidos dos italianos, com 41,5 litros. Nossos vizinhos argentinos consomem 31,6 litros per capita, ocupando a sexta posição.
Ademais, a alta tributação dificulta o crescimento da indústria nacional, que poderia gerar mais empregos e riqueza.
Os altos preços fazem do vinho uma bebida sofisticada, ao contrário do que ocorre nos países europeus, onde os preços são acessíveis e os vinhos são consumidos com naturalidade e corriqueiramente.