Vereador pelo quarto mandato, Hélio José dos Santos pode ser considerado um dos nomes mais ativos nos bastidores políticos de Adamantina. A experiência acumulada no Legislativo faz com que tenha a pretensão de disputar a Prefeitura de Adamantina este ano.
Também presidente do Partido Liberal na cidade, o PL, o parlamentar busca unir os pré-candidatos a prefeito em oposição a reeleição de Márcio Cardim (DEM), podendo, até, abrir mão do desejo de comandar o Executivo municipal. Porém, admite haver uma ala da legenda que defenda o apoio ao atual gestor de Adamantina, como houve em 2016.
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Em entrevista ao IMPACTO, Profº. Hélio – como é mais conhecido – avalia a atual Administração Municipal, explica os pontos divergentes com a gestão Márcio Cardim e abre o jogo sobre as articulações visando as eleições de outubro. Confira:
IMPACTO: Como o partido se articula visando as eleições deste ano?
Prof. Hélio – Estamos caminhando sobre duas vertentes. Primeira, ter uma chapa completa de vereadores. Nosso objetivo é lançar 14 nomes, sendo nove homens e cinco mulheres, respeitando as regras da legislação eleitoral. Estamos nos estruturando neste sentido.
E, ainda, articulando com outros segmentos da sociedade, lideranças do nosso Município, mas, também, com outras agremiações partidárias, para lançar uma candidatura majoritária, a prefeito e vice, que poderá ser do próprio Partido Liberal ou, se o grupo entender que seria muito mais interessante e viável, apoiar uma outra candidatura, que logicamente esteja em sintonia com os nossos objetivos, filosofia e, acima de tudo, nossa intenção de fazer uma cidade melhor para todos.
IMPACTO – Você se coloca como pré-candidato a prefeito?
Prof. Hélio – Sim, me coloco como pré-candidato. Mas gostaria de registrar que em apenas uma oportunidade manifestei a intenção de ser candidato a prefeito, que foi em 2016. Motivado pelo partido e por nossas lideranças em níveis estadual e federal, iniciamos naquele ano um trabalho para lançar uma candidatura majoritária.
Na época havia dito que só seria candidato se representasse o desejo de um grupo de partidos políticos e lideranças, que não poderia ser uma candidatura individualista, personalista e imposta. Se a gente conseguisse agregar e convencer pessoas e partidos, me colocaria a disposição para estar participando.
Tentamos viabilizar essa candidatura, tendo um êxito parcial. Dado o cenário do momento, com o lançamento de outras candidaturas, todos os pré-candidatos nos procuraram para conversar, inclusive Márcio Cardim.
Em uma reunião oficial, ele justificou o porquê da necessidade de estar sendo candidato na oportunidade, por conta da consolidação do curso de Medicina e do Centro Universitário, enfim, que o nome dele poderia representar melhor a situação atual do nosso Município em função de sua experiência e de todo contato que tinha no Conselho [Estadual de Educação].
Pediu para gente abdicar desta pretensão e estar o apoiando nesta candidatura. Nós levamos essa proposta para discutir entre os cinco partidos, não só com o PR, na oportunidade, e houve um consenso que naquele momento seria muito mais inteligente por nossa parte estar agregando na candidatura de Márcio Cardim. Assim o fizemos, sem nenhuma pré-condição, contrapartida ou imposição. Até porque entendemos que a política tem se trabalhar desta forma, procurar somar esforços no sentido de fazer o melhor para sua cidade, para sua comunidade.
IMPACTO – E hoje, qual o cenário político? É parecido?
Profº Hélio – Não, dificilmente será reproduzido este apoio ao Márcio Cardim, se ele tiver intenção de ser candidato a prefeito. Acho pouco provável que este cenário seja reproduzido.
Primeiro que não existe mais possibilidade de ter coligação para as candidaturas legislativas. Acho que os partidos podem individualmente apoiarem uma candidatura ao Executivo, sem nenhum problema. Mas a união destes cinco partidos ((PR/PT/PP/PRB/PSDB) só se for por alguém do nosso grupo.
Eu diria que este quadro não vai se reproduzir. Talvez um partido possa estar apoiando Márcio Cardim, mas dificilmente os demais partidos vão estar juntos com ele.
IMPACTO – Voltando, você se coloca então com pré-candidato a prefeito?
Profº. Hélio – Estamos conversando de forma oficial com outros pré-candidatos, para buscarmos uma candidatura única de oposição ao Márcio Cardim.
IMPACTO – O projeto de lá atrás, do Márcio Cardim, acredita que foi viabilizado?
Profº. Hélio – Sinceramente, esperava mais da Administração, principalmente no que se diz respeito a discutir alternativas com as pessoas que o ajudaram a se eleger, inclusive até no meu caso, que estou na Câmara defendendo os projetos desta gestão. Em nenhum momento, em nenhuma circunstância, nós fomos chamados para discutir problemas do nosso Município, soluções, questões emergenciais. Basicamente erámos chamados para resolver problemas gravíssimos, ou seja, no aspecto de planejar, definir as prioridades e quais os anseios de nossa comunidade, nunca fomos chamados para discutir essas questões.
IMPACTO – Com você, como vereador e como apoiador, não houve diálogo?
Profº Hélio – Aliás, não houve diálogo com nenhuma das lideranças dos partidos que o apoiaram. Nunca houve uma reunião formal. Nem agradecimento pelo apoio ocorreu. Enfim, vamos respeitar essa postura dele, essa forma de interagir e se relacionar politicamente.
Mas entendo que temos muito a contribuir, muito a somar, já demonstramos claramente trazendo recursos significativos para a cidade, a exemplo do MIT [Município de Interesse Turístico], que talvez seja uma das principais conquistas desta Administração, possibilitando anualmente ter recursos liberados pelo Estado para investimentos no turismo e infraestrutura, otimizar os espaços já existentes, melhorar e revitalizar áreas de lazer da cidade, praças, enfim, temos o que contribuir, agregar e somar.
Não exigimos nenhuma contrapartida em função disso. Então não tem como, agora, no cenário político, a gente estar apoiando o Márcio, o grupo dele, nas mesmas condições que ocorreram em 2016. Isso está claro para todo mundo.
Ainda existe algumas pessoas do nosso grupo que defendem o apoio ao Márcio Cardim, até acham que não é o momento de se ter uma candidatura própria. Mas essas mesmas pessoas entendem que não dá para ter um apoio da mesma forma que aconteceu em 2016, um apoio simplesmente por apoiar.
Colocar toda sua estrutura partidária, seus deputados para trabalhar para o Município e, depois, nem mesmo receber um obrigado por estar junto, por estar ajudando.
Acho que política não é desta forma que tem que ser conduzida.
IMPACTO – Essa falta de diálogo, de agregar, é uma das principais falhas do prefeito. Mas essa falta de diálogo compromete a gestão?
Profº. Hélio – No aspecto que muitos problemas que estão acontecendo, acredito que não existiriam se houvesse esse desprendimento, humildade de discutir as questões com o grupo. Se você é autossuficiente, se tem uma equipe totalmente preparada para dar conta dos problemas da cidade, de atender todas as demandas, tudo bem! Mas não é o que estamos vendo na cidade.
Quantos problemas a gente teve? Quantos problemas na UniFAI [Centro Universitário de Adamantina]? Em nenhum momento nós fomos convocados de que forma podemos evitá-los.
Um exemplo é a dengue. Em nenhum momento tivemos uma reunião para discutir o problema. Fazemos isso formalmente, via indicações e requerimentos. Fazer uma reunião, perguntar como achamos que deve ser conduzido o trabalho para evitar, não acontece.
Quantos problemas na UniFAI, manifesto de alunos, tentativa de indicar nomes que não eram aceitos, foram mais de uma vez. Quer dizer, erros que se repetem por não ouvir as pessoas que tem único interesse e objetivo que é ajudar.
Quando falamos de críticas à Administração, não é só em relação a falta de diálogo, é a falta de políticas públicas voltadas ao interesse da população.
IMPACTO – Isso não era esperado, que o grupo se fecharia, como já aconteceu na época do Kiko Micheloni?
Profº. Hélio – O grupo sim, mas acreditávamos na palavra do Márcio. Ele sempre dizia: “vou administrar como administrei a FAI [Faculdades Adamantinenses Integradas]”. Enquanto diretor da FAI, o Marcio vinha até a Câmara, trazia as questões que exigiam uma atenção do legislativo, prestava contas, se discutia os problemas para buscarmos as soluções juntos. Então aquele Márcio participativo, que se colocava na situação de discutir com outros segmentos temas da instituição, imaginávamos que seria reproduzido nele como Executivo, e essa foi a fala dele em reuniões que tivemos, inclusive em minha residência.
Deixou claro que a forma que administrava a UniFAI, participativa, democrática, ouvindo as pessoas, principalmente as mais experientes, que levaria aquela filosofia de trabalho ao Executivo.
Acreditamos. A postura dele enquanto diretor da UniFAI, se a tivesse no Executivo seria diferente de outras administrações. O que acabou não acontecendo. Também não sei quais os motivos, nunca tive a oportunidade de conversar com ele sobre isso. Aliás, nestes quatros anos em nenhuma oportunidade eu, como vereador, no quarto mandato, como uma certa experiência, em nenhum momento fui chamado pelo Executivo. Não aconteceu por parte dele, e nem por parte da assessoria.
Por mais complicado que foi a Administração do Ivo e Pacheco, se não tínhamos muitas oportunidades de diálogo com prefeito, tínhamos com Chefe de Gabinete, nos chamava para conversar, o secretariado. Professor Alfredo fazia isso, o Wilson Hermenegildo atuava neste sentido, a Claudia fez isso.
O prefeito tem uma série de atividades, tem uma agenda complicada, mas se não tem condições de interagir com vereador, com as lideranças partidárias que podem ajudar a resolver problemas estruturais do Município, tem quer ter um secretariado que tenha este perfil, essa capacidade de interagir, o que não teve.
Professor Alfredo praticamente uma vez por semana chamava um vereador para conversar. Wilson mesma coisa. A Claudia também. Não foi só o prefeito que nunca chamou minha pessoa para discutir, os secretários também não!
IMPACTO – Desde a época do Laercio Rossi, a oposição parece que não conseguiu se articular, não preparou um nome para disputar a eleição. Considera a oposição desarticulada em Adamantina?
Prof. Hélio – As pessoas que militam na política têm uma dificuldade para perceber o cenário eleitoral, o contexto das candidaturas, e não entende se é o momento ou não de se lançar uma candidatura. A gente vê muitas pessoas se lançando como candidatos que não estão preparadas, que não possuem humildade e desprendimento para falar: “olha, vou abrir mão para fulano que está mais preparado, que está mais organizado, que tem mais condições”.
Por isso se tem uma oposição “fragmentada em várias candidaturas”. O meu trabalho vem sendo neste sentido. Claro, meu objetivo é ser candidato a prefeito, mas não pode ser uma candidatura única e exclusiva minha e do meu partido, de forma fragilizada, sem articulação.
Perder ou ganhar faz parte processo, mas o importante é levar sua mensagem, sua filosofia.
IMPACTO – Ainda há tempo para essa unidade? Pode haver uma união da oposição?
Profº. Hélio – No cenário que vejo, com as candidaturas Márcio, Hélio e Acácio, se a ideia é a mudança, com as três candidaturas favorece a manutenção no poder de quem está, isso tenho bem claro comigo. Tenho conversado com o Acácio [Rocha], até de forma oficial.
Se a ideia é romper com este modelo de administração, temos que ter uma candidatura competitiva, com grupo, uma proposta real, concreta, verdadeira e que vem de encontro com os anseios da população e que resolvam as questões estruturais do Município.
Estou preparado para abrir mão por outra candidatura, em um cenário construído, confeccionado. Se a ideia é a gente romper com este modelo de gestão, não justificaria ter candidaturas fragmentadas, já que facilitará a reeleição do Márcio.
Posso abrir mão para outra candidatura se isso for consenso, for discutido, decidido de forma colegiada. Gostaríamos de ter a oportunidade, se não tiver uma candidatura consolidada, que possamos apoiar já que defenderá os nossos ideais, valores e princípios.
Se não conseguirmos buscar este alinhamento, dificilmente teremos a oportunidade de levar as ideias, de mostrar para população que tem uma proposta real e concreta para o Município. E tenho trabalhado neste sentido.
Se tiver apenas a candidatura do Márcio, sou candidato. Fato. Se tiver quatro candidaturas a prefeito, não serei candidato. Se houver três candidaturas, vou avaliar se compensa ou não. Tenho trabalhado com este cenário. Tenho isso definido até com meu próprio partido.
IMPACTO – O candidato a ser derrotado é Márcio Cardim. Qual será o foco da campanha?
Profº. Hélio – Não diria candidato, mas o modelo de administração a ser derrotado.
O foco será separar a UniFAI da Prefeitura. Percebemos que nestes quatros anos não se definiu o que era prioridade, UniFAI ou Prefeitura. Vamos resolver a questão da UniFAI ou Prefeitura?
O prefeito ficou em uma situação de querer assumir as responsabilidades tanto da UniFAI como da Prefeitura. Não sei porque. Talvez até saiba. E isso se mostrou que não foi bom para a cidade.
IMPACTO – Pode haver falhas, mas não é este o caminho que Adamantina tem que ter, uma gestão municipal caminhando com a UniFAI, os interesses não são os mesmos?
Prof.º Hélio – Sim, mas com autonomia maior da UniFAI. A autonomia que o Márcio teve como diretor, hoje não existe. A interferência do Executivo na UniFAI é muito grande. E isso é ruim.
O Márcio foi eleito prefeito, para administrar a cidade.
A UniFAI é uma autarquia municipal, a Prefeitura é a mantenedora, mas tem que ter autonomia administrativa, pedagógica e financeira. O prefeito e Prefeitura tem que estar apoiando, e não interferindo.
Percebemos uma presença, se não física, mas há uma presença da Administração na instituição. E vários momentos isso ficou bem claro. A UniFAI queria caminhar para uma direção e o prefeito para outra, e acabou prevalecendo aquilo que o Márcio queria. Um cenário que não existiu quando ele era diretor. Ou se confia quem está lá, ou troca!
A UniFAI é praticamente uma cidade, tem orçamento maior que a maioria dos municípios de nossa região. Então não vejo com bons olhos o Executivo interferindo diretamente, o que acaba prejudicando a instituição.
E só vermos o que aconteceu em 2017, 2018 e 2019. Esperamos que não aconteça em 2020, que é ruim para a instituição. Para termos uma ideia, com o número de alunos que fizeram o vestibular de Medicina não foi possível preencher as vagas existentes, sendo que no primeiro vestibular tivemos mais de 2 mil candidatos. Hoje não! Foi pouco mais de 100 candidatos, e isso é um problema sério.
Não pode estar interferindo nestes pontos. Aí falta a presença do prefeito em questões do nosso Município.
Precisa separar Prefeitura de Adamantina da UniFAI. Tem que caminhar juntos, sim. Tem que apoiar, sim. Mas vemos uma presença muito forte da família Cardim na UniFAI, o que se mostra que não é saudável. Os resultados estão aí. Todo mundo vê, tem que se refletir sobre isso.
Nunca tivemos oportunidade de se discutir essas situações.
Por algumas vezes se tentaram indicar a esposa do prefeito [Marisa Cardim] para ocupar cargos importantes. Primeira vez foi um problema sério. Repetir? Enfim, isso é o que penso, posso estar errado ou não, mas é o sentimento da população como um todo.
Isso tudo reforça mais que temos que buscar outras alternativas. Mas, para deixar claro, tem algumas pessoas que defendem nosso apoio ao Márcio Cardim, que abramos mão de qualquer pretensão para que possamos estar juntos neste projeto com objetivo a consolidação das conquistas e avançar em pontos que poderiam estar bem melhores, mas essas mesmas pessoas defendem que não pode haver um apoio como houve em 2016. Tem que haver mudanças significativas em nossa participação que visa fortalecer nosso Município em âmbito regional e consolidar a UniFAI em importante centro universitário, um patrimônio dos mais importantes para a cidade e região.