Já se disse que a França produz os melhores vinhos do mundo, e também os piores, daí a dificuldade para escolher um bom vinho. O fato de ser francês, por si só, não garante a qualidade.
Ademais a França tem uma característica própria de classificar e rotular as garrafas de vinho. Diferentemente dos vinhos produzidos no Novo Mundo e em partes da Europa, os rótulos das garrafas francesas normalmente não identificam o tipo de uva usada na produção daquele vinho.
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Os franceses, aliás, não valorizam muito o tipo da uva, mas, sim, a região e o produtor.
Portanto, ao examinar um rótulo de vinho francês geralmente você não vai identificar o tipo da uva, entretanto, os franceses e os especialistas saberão, por exemplo, que se o rótulo informar que o vinho foi produzido na região de Bordeaux, certamente será um blend elaborado com as uvas Cabernet Sauvignon e Merlot, e, por outro lado, se for da Borgonha, terá sido produzido com a PinotNoir.
Assim, o importante para os vinhos franceses é identificar as regiões produtoras , além do nome da propriedade (o Chateau, castelo), nome da região de origem, que é uma sub-região, dentro da região produtora, a classificação oficial e a safra.
São essas as informações que os rótulos costuma trazer, razão pela qual torna-se difícil para nós, simples mortais, escolher um bom vinho francês.
Quem conhece, porém, ao ler o rótulo vai identificar se aquela região de origem produz bons vinhos, se o produtor é renomado, se a safra daquele ano foi boa, etc. Em síntese, é preciso ter um conhecimento mínimo. Confesso que tenho dificuldade.
Na primeira foto que ilustra a matéria temos um rótulo de vinho produzido em Bordeaux. Nele vemos a inscrição “L. Lurton” que identifica o produtor, a família Lurton, que produz vinhos nessa região desde 1897. Abaixo temos a safra, e, abaixo de Bordeaux está escrito “appellation Bordeaux controle”, que significa que o vinho está no nível mais alto das classificaçõesdos vinhos franceses, isso é, foi produzida numa região que tem regras próprias de qualidade e foi aprovado por um júri de degustação dessa região, que lhe permitiu usar a denominação dessa appellation. Appelation significa uma sub-região, dentro de uma região produtora (Bordeaux, por exemplo) e é determinada pelo terroir (que considera o solo, o aspecto e o clima).
No rótulo não está identificado o tipo da uva, mas já se sabe que foi produzido predominantemente com as uvas Cabernet Sauvignon e Merlot, porque os tintos que trazem no rótulo a informação de que são de Bordeaux são produzidos com essas castas. Não se saberá, entretanto, qual o percentual de cada uma delas, tarefa reservada aos especialistasque ao degustá-lo certamente saberão dizêr.
Trata-se do famoso corte bordalês, que admite, embora em menor proporção, a adição das castas Cabernet Franc, Petit Verdot ou Malbec. A escolha do corte fica por conta do produtor. Daí concluir-se que um vinho de Bordeaux produzido por determinado chateau poderá ser bem diferente daquele produzido por outro, embora todos sejam “Bordeaux”.
Sentiram a dificuldade?
O outro rótulo que ilustra o artigo é de um vinho produzido na Borgonha e é uma exceção, porque traz a identificação da uva, a PinotNoir, principal uma tinta da região.
No rótulo também está identificado o nome do produtor (Guy Amiot), a appellation, a safra e a informação de que foi engarrafo na própria vinícola, o que é sinal de qualidade.
Mas a Borgonha, assim como Bordeaux, possui várias sub-regiões e cada qual produz vinhos distintos, razão pela qual não basta saber que o vinho é da Borgonha para garantir a qualidade. Necessário conhecer a sub-região, o produtor e as appellations regionais, normalmente identificadas pelo nome da vila onde está situada a vinícola.
Existem ainda outras classificações, mas isso é assunto para outro artigo.
Por ora concluo dizendo que se em outras regiões do mundo pode-se encontrar vinhos de boa qualidade por preços baixos, na França isso é uma rara exceção, pois os bons vinhos franceses são caros.
Uma de minhas metas nesse ano, no mundo dos vinhos, é decifrar os vinhos franceses e isso só se faz bebendo muito.
Que boa notícia!