Todo mundo conhece alguém que perdeu o bicho durante uma queima de fogos. Ou já viu um cãozinho desesperado, se enfiando embaixo da cama assim que os primeiros rojões são disparados.
Irritados e assustados por causa do barulho, cães e gatos podem sair de casa em busca de lugares mais silenciosos e acabam se perdendo. Derrubar objetos e até mesmo pular de janelas estão na lista de acidentes envolvendo os bichos e os fogos.
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De acordo com a bióloga especializada em comportamento animal da Ethos Animal, Helena Truska, os fogos assustam por ser antinatural. “É um medo legítimo, pois a vida deles pode estar correndo risco na presença de um estímulo violento e desconhecido”. Ela explica que muitos bichos temem fogos, mas não trovões, que são sons da natureza.
Para a bióloga, nos casos em que o fobia é muito grande, o dono deve permanecer com o animal fechado num cômodo da casa durante a queima de fogos. “O tutor tem o dever de permanecer com ele por segurança e respeito à vida de seu amigo, isso faz parte da guarda responsável de animais”.
E não vale mimar o pet. “Deve-se transmitir calma e serenidade”, explica. O dono é o exemplo para o bicho e deve agir naturalmente como se nada estivesse acontecendo.
Os animais que não têm tanto medo podem ficar sozinhos em um cantinho especialmente preparado. “Prenda o cão em um cômodo da casa que ele goste, onde costuma se esconder. Deixe o paninho ou a caminha dele ali, e água fresca”, diz Marcio Marcondes, diretor clínico do Hospital Veterinário Sena Madureira.
Cuidado para não abafar o ambiente, ou o calor (combinado à agitação e medo) pode causar hipertermia. Deixar a veneziana aberta ou ligar o ar-condicionado são saídas para evitar o calor excessivo. Helena diz ainda que deixar uma música ambiente no local pode ajudar a abafar o som dos rojões. Abajures, vasos e vidros devem ser retirados do local onde o cachorro ou gato vai ficar preso. Na hora do desespero eles podem derrubar alguma coisa e se machucar.
Atenção também aos cães que vivem no quintal, é mais seguro deixá-los em um cômodo dentro de casa durante o foguetório. “Além do barulho ser menor, ele fica protegido dos estilhaços de rojões. Atendemos muitos cães com a boca queimada por causa disso”, diz Marcondes.
Outra dica é passear bastante com o bicho no dia 31, para ele estar cansado quando a meia-noite chegar. O exercício também libera hormônios que causam bem-estar, o que ajudará a diminuir o medo.
Se o bichinho for muito sensível ao barulho, Marcondes indica levá-lo ao veterinário e pedir bolas de algodão parafinado (vendidas em farmácias de manipulação). Elas abafam o barulho e diminuem o estresse. Outra saída é comprar algodão em bolas e usar uma em cada orelha. Os protetores auriculares feitos para humanos não servem, pois são muito pequenos.
O animais que convulsionam ou têm problemas cardíacos merecem mais atenção. Segundo o veterinário, durante o Réveillon, o número de casos de convulsão cresce 15% no hospital.
Marcondes explica que há ansiolíticos e calmantes naturais que ajudam a evitar crises que devem ser dados em doses certas, e apenas veterinários podem indicá-los. Há também florais, mas esses exigem um tratamento de longo prazo, que não aplacaria o medo na véspera.
Levar os cães para ver fogos na praia é uma péssima ideia. “É melhor deixá-lo sozinho com o ouvido protegido e num cômodo preparado. Ficar na casa dele, com os paninhos dele, já é suficiente”, diz Marcondes.
“Conheci apenas uma meia dúzia de cães capazes de lidar bem com queima de fogos – alguns deles com treinamento militar”, diz a bióloga Helena.
Amarração calmante
Nos últimos dias surgiu nas redes sociais uma amarração que promete acalmar o bicho. A ideia é passar uma faixa de pano por trás do pescoço, cruzar no peito, passar pela pela barriga, amarrando nas costas (veja o vídeo). Marcondes tem dúvidas sobre o método. “O estresse vem do barulho. Nos EUA, usa-se muito um coletes calmantes, mas isso serve apenas para deixar os animais menos agitados no dia a dia, não serve para os fogos”, explica.
Helena diz que a amarração ou o colete podem ajudar, sim. Ela as faixas fazem parte de uma técnica chamada Tellington Touch. “É quase um tratamento holístico que envolve pressão na medida certa em pontos específicos do corpo para obter respostas fisiológicas e emocionais determinadas”.
A bióloga faz um alerta para quem quiser testar as faixas: elas devem ser usadas várias vezes e dias antes do Réveillon, se não poderão causar o efeito contrário e o cão vai associar o barulho dos fogos a amarração.