Formado há mais de 40 anos pela Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), com especialidade em ginecologia e obstetrícia, João Eduardo Barbosa Pacheco (PSDB), é um dos médicos mais renomados da cidade. Chegou a Adamantina no ano de 1979 devido a um problema de saúde da filha que era alérgica ao clima da Capital Paulista.
Filiado ao PSDB desde sua fundação no município, Dr. Pacheco sempre esteve nos bastidores da política local e em ‘cartada política’ do grupo Ivo Santos, surgiu como vice em 2012, sendo decisivo para a vitória nas eleições.
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Em novembro passado, o vice Dr. Pacheco entrou para a história política de Adamantina ao assumir o comando da Prefeitura, após afastamento de Ivo Francisco dos Santos Júnior (PSDB) pela Justiça local. Desde o início da gestão, Dr. Pacheco se manteve afastado, como um simples coadjuvante, mas sempre atento as atividades do Executivo, mostrou que para ser protagonista basta vontade política e atitude. Além de vice-prefeito, ele é diretor municipal de Saúde.
Em entrevista concedida ao IMPACTO, Dr. Pacheco fala sobre a experiência de comandar interinamente a Prefeitura, e entre outros assuntos, faz uma análise sobre a atual situação política local e revela com exclusividade se pretende lançar candidatura nas próximas eleições.
A sua escolha como vice-prefeito foi preponderante na vitória do grupo do candidato Ivo Santos nas eleições de 2012. Tem noção deste fato?
Pacheco: Construímos um nome através do trabalho. Nossa imagem é resultado daquilo que praticamos no cotidiano. Nunca investi em publicidade ou mídia para me promover, o reconhecimento vem do trabalho que desenvolvo como médico há 37 anos em Adamantina. Isso tem um resultado positivo, porque os eleitores procuram políticos confiáveis e sérios. Quando decidi aceitar ser vice-prefeito veio ao encontro do que a população ansiava. Acredito que meu trabalho é ser fiel a este compromisso assumido. Agradeço a população que confia na minha pessoa. Sinto-me honrado e agradecido por esta confiança.
Hoje qual é o papel que realiza dentro Administração Municipal?
Pacheco: Há cerca de um ano assumi a função de diretor técnico da secretaria municipal de Saúde onde atendo a população que depende do SUS (Sistema Único de Saúde). Resolvo problemas mais urgentes, avalio casos e encaminho para o setor competente quando necessário. Além disso, semanalmente realizo cirurgias eletivas e de urgência na área de ginecologia, pelo SUS. Isso sem nenhum ônus para o município.
O que se vê é que sempre teve boa vontade em participar da Administração na qual ajudou a eleger. Mas, nos bastidores comenta-se que não deram muito espaço para atuar. Qual o motivo? Por que a sua participação não é tão efetiva dentro da Administração? Houve rompimento com o Prefeito Ivo?
Pacheco: Nunca houve rompimento. Na verdade, o que aconteceu foi um distanciamento progressivo porque no início julgava que pudesse ter mais espaço e participar mais da gestão, atuando na área de saúde – setor que sou especialista. Com o passar do tempo, vi que as decisões eram tomadas fora do meu domínio. Esperava poder realizar algumas coisas, mas não pude e fui me afastando aos poucos. Mas, gostaria de ter podido estar mais próximo do prefeito Ivo desde o início, e poder atuar na área que me propus.
Como secretario municipal de Saúde, não foi possível assumir a pasta por outros motivos que não vem ao caso. Lamento a situação que o prefeito enfrenta atualmente.
Pela primeira vez na história de Adamantina, um vice-prefeito assumiu o comando do Executivo por situação imposta pela Justiça. Como vivenciou este episódio?
Pacheco: Entendo que a gestão pública tem prioridades e como gestor é nosso dever enxergar estas prioridades. Por exemplo, no caso da Fatec (Faculdade de Tecnologia do Estado), foram três anos de inércia quanto à decisão do local para a construção da Fatec. Não é possível perder tanto tempo por falta de decisão, correndo o risco de perder este grande instituição de ensino tão necessária para Adamantina.
Acredito que qualquer administrador não tem direito de gastar tanto tempo assim. Uma das coisas que me proporcionou grande alegria no período que conduzi interinamente a cidade, foi ter tomado a ‘decisão’ de resolver o local da Fatec. Em harmonia com o pensamento do Legislativo, os vereadores prontamente atenderam nosso pedido e votaram o projeto em caráter de urgência para a destinação daquela área a Paula Souza. Havia outras situações pendentes como a ExpoVerde que havia muitas cobranças e não cabia a prefeitura a resolver tudo isso. Outra questão era administrativa (enxugar a máquina), rever a necessidade de dos gastos com funcionários, priorizando redução de custos com folha de pagamento. Quando não se tem dinheiro para administrar é preciso rever as prioridades. Uma Prefeitura deve ser administrada como administramos nossa casa. Foi com esta visão que assumi.
A manifestação e apoio da população foi enorme durante o período que comandou interinamente a Prefeitura. A que se deve isso? Por houve esta aprovação?
Pacheco: A atuação de um prefeito tem que ser presente e expressiva. Fomos muito objetivos ao identificar os principais problemas que a cidade apresenta atualmente e houve uma intensa participação da imprensa que cobriu este momento repercutindo em toda comunidade. Desta forma, a população acompanhou as principais decisões e apoiou plenamente. Percebi que havia grande esperança de melhora. Meu plano era ter condições de ouvir membros de associações de bairros para avaliar as principais necessidades de cada local e em conjunto decidirmos o que seria possível fazer, respeitando as prioridades dentro das verbas disponíveis. Senti que a população entendeu claramente meu posicionamento naquele momento.
O senhor recebeu também apoio especial dos servidores municipais, no período que comandou o Executivo. Qual o motivo?
Pacheco: Meu lema é ‘somente os tolos não se unem’. Com este lema tentei motivar os servidores a abraçar com carinho Adamantina. Quem são os servidores públicos? São os profissionais que permanecem ano após ano, eleição após eleição e os verdadeiros agentes de transformação com seu trabalho e dedicação. É sempre um por todos e todos por um. Os servidores pela a população e a população por Adamantina. Isto é, tivemos grande apoio e demonstração de vontade de trabalhar pela cidade. Dei uma injeção de animo e trabalho e todos responderam positivamente. Acredito que poderíamos ter feito muito mais se tivéssemos tido mais tempo.
Em duas semanas de governo, deu respostas rápidas à sociedade, como a decisão de racionamento do número de secretários municipais, por exemplo. A população aprovou tais decisões. Como isso ocorreu?
Pacheco: Não há outro jeito de economizar se não for através da economia. Tem que enxugar! Reduzir algumas secretarias a diretorias, aproveitar os servidores de carreira e outros que têm capacidade técnica para assumir tais postos. Temos que administrar com critérios técnicos.
Ficou decepcionado com o prefeito Ivo por ter modificado algumas decisões que havia tomado ou não dando tanta atenção como deveria?
Pacheco: Administrar com dinheiro é fácil, já administrar com escassez é muito complicado. Acredito que o prefeito Ivo não avaliou ou não entendeu a necessidade das minhas decisões – todas embasadas na economia e eficiência para gerar renda. Infelizmente um município pequeno como o nosso, que depende muito do FPM (Fundo de Participação do Município) e, é estratégico na região principalmente nas áreas de saúde, educação e serviços, a Gestão Municipal tem agir com cautela na hora de investir seus recursos. Nese momento de recessão que o País enfrenta (desemprego, perda de tributos, desaquecimento da economia) onde falta dinheiro para tudo e onde mais a população depende da Prefeitura (consultas médicas, remedidos, transportes, cuidados com as vias públicas, etc). Se o prefeito tivesse mantido a ideia de redução como propus inicialmente, acredito que estaria dentro um pensamento racional, como um gestor eficiente deve analisar os fatos.
Existe alguma possibilidade de aproximação mais participativa junto a Administração Municipal caso o prefeito Ivo permaneça até o fim do mandato no cargo?
Pacheco: Não existe neste momento possibilidade de maior aproximação, além daquela que já realizo com diretor de saúde. Faz um bom tempo que não vou ao Paço Municipal. Eu e o Ivo não rompemos, o que há é uma divergência ideológica.
Com a decisão da CIP nos próximos dias e uma possível cassação do mandato do prefeito Ivo Santos, o senhor deverá ser convocado novamente para assumir o comando da Prefeitura? Está preparado?
Pacheco: Se a Comissão de Investigação da Câmara decidir pelo afastamento ou cassação do mandato, estou pronto para assumir novamente. Mas, particularmente gostaria que este triste episódio não fizesse parte da história de Adamantina, onde um Prefeito fosse alvo de investigação por parte da Câmara e da Justiça.
Naturalmente quero o bem do Ivo. Se tiver que assumir irei cumprir com responsabilidade minha função. Mas, quero deixar claro à população que no momento não tenho ambição ao cargo.
Afirma que sua vocação é a medicina e não a política, mas por outro lado tem carisma com a população e talvez pudesse ser um forte opositor a qualquer candidato nas próximas eleições. Se coloca como candidato? O que podemos esperar do Dr. Pacheco nas eleições municipais deste ano?
Pacheco: Neste momento realmente não tenho nenhuma pretensão de me lançar como candidato (prefeito ou vice) nas eleições vindouras. Gosto da causa pública, amo Adamantina, mas pretendo continuar trabalhando na área de saúde onde posso continuarei atender a população de menor renda. Posso colaborar com futuras Administrações em que o trabalho que eles realizem, resulte em coisas boas para a cidade.
Qual análise você faz da situação política de Adamantina?
Pacheco: Politicamente o PSDB perdeu muito nos últimos anos. Acredito que o Ivo (líder do partido na região) não tem – pelo menos neste momento – nenhuma possibilidade política de pleitear a reeleição. Falo como membro pioneiro do partido. Hoje, não vejo nenhum membro de destaque (peso) dentro do PSDB que possa concorrer à próxima eleição. Acredito que o caminho será fazer coligações. No momento atual, analiso que o DEM (que conta com quatro vereadores na Câmara), tem uma melhor estrutura partidária e nomes mais fortes. Creio também que podem surgir outros candidatos (ouço rumores de outros dois nomes além do DEM).
Qual a análise que faz da atuação do Legislativo adamantinense?
Pacheco: Percebi que se os vereadores forem motivados, se perceberem que as propostas do Executivo são boas para a cidade, pode- se contar com o apoio maciço do Legislativo. Caso isso não ocorra, em vez de contar com aliados, teremos pela frente opositores ferrenhos, dificultando a gestão. Volto a afirmar: Tem que haver união. Como pretendo enfrentar uma Câmara com nove ‘cabeças’ pensam de forma diferente, com ambições diferentes? Somente a união e o respeito são capazes de fazer verdadeiros parceiros.
Porque a cidade está abandonada, reclamação generalizada da população. Nas duas semanas que dirigiu a prefeitura consegui visualizar que situação?
Pacheco: Durante o período que estive a frente da Prefeitura pude constatar a real e delicada situação da Administração Municipal. Solicitei o orçamento, as contas – o que tinha em caixa e os compromissos a pagar, além da folha de pagamento. A situação é preocupante. Segundo levamento que fiz havia credores em atraso desde fevereiro do ano passado, cujo montante da dívida beirava R$ 2,5 milhões. Muitos deles haviam cortado fornecimento de serviços (autopeças, distribuidoras de medicamentos, supermercados, etc). Devido isso, tinha certeza que a única saída para solucionar esta situação seria “enxugar a máquina”.
Como o senhor recebeu a notícia da volta do prefeito Ivo depois de ter sido afastado pela Justiça?
Pacheco: Assumi o comando da Prefeitura com a finalidade de cumprir meu papel de vice-prefeito, cuja responsabilidade é responder pela função quando o titular está impedido. Sabia que o Ivo estava recorrendo e dependeria da decisão do TJ para voltar. Também tinha noção que ficaria por tempo indefinido, desta forma agi com dedicação e presteza ao município.
Quais são os principais problemas enfrentados hoje pela Administração Municipal e que poderiam ser evitados com boa gestão e vontade política?
Pacheco: Quando um gestor público age corretamente programando gastos e receitas desde o início do mandato (tudo ajustadinho) ele consegue trabalhar dentro do orçamento com máxima eficiência. Tem que se investir nos servidores que são os reais protagonistas da cidade, que estão à frente do trabalho, produzem e podem ser motivo de orgulho ou de insatisfação para a população. Este é o objetivo máximo de qualquer Administração. Adamantina esta muito bem, se comparada com outras cidades da região. Tem uma infraestrutura boa, temos a FAI (referência nacional em educação), entretanto, as chuvas inclementes dos últimos meses causaram grande estrago na malha viária de toda cidade, com grande repercussão negativa entre a comunidade. Sempre é possível melhorar, basta focar e eleger prioridades. Como? Através da união de vários setores da comunidade como clubes de serviços, associações de moradores, membros do Executivo e Legislativo, e principalmente a imprensa, que presta o grande serviço de informar e cobrar sobre os trabalhos desenvolvidos.
Sobre o convite do Prefeito Ivo Santos para o senhor assumir a secretaria de Gabinete? Ele anunciou que o convite foi feito e o senhor desmentiu a notícia. O que realmente aconteceu?
Pacheco: Houve um encontro casual entre nós no hall do Paço Municipal, alguns dias depois dele ter reassumido. Neste encontro, perguntou se poderia assumir a secretaria de Gabinete. Como já estava afastado ideologicamente do grupo, agradeci ao convite e afirmei que não teria condições de aceitar tal pedido. Se o Ivo quisesse contar com minha participação, teve por muito tempo esta possibilidade na área da saúde. Agora minha participação é inviável.
Sobre relacionamento com a Câmara, vimos que o senhor ao assumir buscou apoio do Legislativo e teve respaldo. Qual a importância dos vereadores numa Administração Municipal?
Pacheco: Os vereadores foram extraordinários durante o período que estive à frente da Administração Municipal. Mostraram que estão sempre dispostos a colaborarem com tudo que for bom para Adamantina. Trouxeram opiniões, sugestões e se colocam à disposição do Executivo para colaborarem. Inclusive em duas reuniões em Prudente e na Capital estivemos juntos (Dinha, Aguinaldo Galvão e Luiz Carlos Galvão). Senti naquele momento que tal apoio estava sendo fundamental para o progresso da nossa cidade. O apoio do Legislativo é fundamental dentro de qualquer Administração.
Considerações finais
Pacheco: Acredito que cada um de nó é responsável pelo destino da nossa cidade. A população pelo que produz e pelas escolhas que faz nas urnas e o servidor público pelo que representa dentro de uma administração pública. É necessário um trabalho de valorização e incentivo a todos. É dever do gestor municipal se aproximar da população e do funcionalismo. Servidor dedicado produz mais. População satisfeita colabora mais. É essencial que entendamos que estamos construindo uma cidade (dia a dia). Com a participação de todos seremos muito mais eficientes e bem sucedidos.