A pergunta que faço neste texto é a seguinte: o processo de impeachment seria fruto de uma conspiração ou de um desalinhamento da esquerda no poder? Defendo que o desalinhamento foi o principal agente causador do processo de impeachment do Presidente da República e que o discurso de golpe ou conspiração é normal em situações políticas adversas, já que passou a ser muito utilizado a partir da década de 60 na Guerra Fria na política.
A teoria da conspiração é bastante divulgada no mundo político, é lugar comum na política. Interessante é que a conspiração não tinha sentido pejorativo e passou a ter a partir da década de 60 devido à Guerra Fria e a paranoia em achar que em todos os eventos havia algo secreto, malicioso, produto da luta entre as organizações secretas CIA x KGB.
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Uma teoria da conspiração intrigante é a de que a Segunda Guerra Mundial foi encenada. Ainda a versão que o homem não teria pisado na lua, já que tudo teria sido realizado pelos estúdios de Hollywood. Há várias alegações de experimentos secretos envolvendo teletransporte, viagem no tempo, controle mental, de que a AIDS é uma doença sintética, dentre tantas outras.
A ideia de que o impeachment é um golpe é negativo para nossa democracia. Esse argumento tem efeito depressivo, parece que todo o Estado brasileiro é corruptivo, que as nossas leis não são seguidas, que a política no Brasil não tem mais jeito. Esse golpe de ideias pode até nos sugerir que a nossa democracia chegou ao fim, o que não procede.
O alinhamento da esquerda no país, que permitiu 14 anos de governo, não foi produto de um ato próprio da esquerda ou de um movimento natural da física aristotélica, mas ocorreu graças à força gravitacional de um partido de centro-direita, o PMDB, que lhe deu apoio, tornando assim possível o alinhamento do poder da esquerda. Nesse alinhamento, um partido foi eclipsado pelo outro e que agora retoma sua claridade e poder próprio.
Finalizando, entendo que o momento que vivemos é de distopia da esquerda clássica brasileira. Essa distopia não pode deixar a esquerda agir como um cético radical. Trata-se de um momento que abre um importante espaço para a esquerda se reinventar e se desapegar de antigos amuletos, embora deva continuar na mesma órbita do espectro político ideológico. A esquerda necessita repensar suas coalizões futuras. Alegar conspiração pode até ser elegante para a vitrine da propaganda eleitoral numa próxima eleição, mas outro alinhamento de poder será difícil de ser obtido apenas com alianças a partidos de esquerda, posto que o alinhamento de astros no céu é um fenômeno raro.