A Secretaria da Saúde de São Paulo vai manter a orientação repassada a hospitais e postos de saúde para notificar apenas casos graves do novo coronavírus. Com isso, pessoas que testaram positivo para a doença, mas apresentaram sintomas leves, seguem de fora das estatísticas do governo.
A instrução foi revelada pelo G1 em 27 de março e provocou manifestação do Ministério Público de Contas do estado, que pediu que o governo voltasse a registrar em sistema todos os casos da doença, sejam eles leves ou graves.
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Na quinta-feira (2), a Promotoria de Direitos Humanos do Ministério Público do Estado de São Paulo também instaurou inquérito civil para apurar a orientação de que apenas casos graves devem ser registrados em sistema.
Na segunda-feira (6) o coordenador de Controle de Doenças da secretaria estadual, Paulo Menezes, confirmou ao G1 que permanece a orientação para que as unidades de saúde registrem apenas pacientes internados ou casos em profissionais de saúde. Ele afirma que a medida está de acordo com recomendações do Ministério da Saúde. A reportagem do G1 consultou o ministério sobre a conduta adotada por São Paulo e aguarda retorno da pasta.
Segundo Menezes, alguns dos novos casos confirmados que aparecem nos balanços diários do estado de São Paulo ainda podem ser relativos à pacientes com quadro leve porque há exames atrasados.
A partir da revelação feita pelo G1, o Ministério Público de Contas cobrou o governo para não testar só pacientes internados em estado grave. Para os promotores, o estado deve adquirir uma quantidade de testes compatível com “a real situação enfrentada” e mudar o atual protocolo de notificação de casos do novo coronavírus, divulgando com transparência os dados relacionados aos casos confirmados e as mortes decorrentes da doença.
Nacionalmente, a orientação do Ministério da Saúde é fazer exames laboratoriais para coronavírus apenas em pacientes graves. No entanto, o ministério aceita notificações da doença com base em diagnósticos clínico-epidemiológicos, ou seja, sem a necessidade de teste. Apesar disso, funcionários de unidades de saúde de SP afirmam que são orientados a não notificar em sistema os casos sem o exame.
DRACENA
Por meio de nota oficial a Prefeitura de Dracena informou nesta quarta-feira (8) que seguirá a orientação do Ministério da Saúde, de não notificar a população em geral, seguindo assim as regras do Governo Federal e Estadual em relação às notificações de pacientes com sintomas e suspeita do novo coronavírus.
Segundo a nota, a estratégia adotada pelo município será a mesma da Secretaria Estadual de Saúde, que vai notificar apenas os casos graves e de profissionais da saúde, alinhando com o protocolo do Ministério da Saúde – mesmo pessoas que testarem positivo para a doença, mas apresentarem sintomas leves seguem de fora das estatísticas do governo.
A diretora do Centro de Vigilância Epidemiológica do estado de São Paulo, Helena Sato, confirmou a orientação para notificar apenas pacientes internados e destacou que a medida é necessária para concentrar esforços nos casos graves.
A Prefeitura informou que a imprensa poderá solicitar os dados relacionados ao novo coronavírus via email. A Prefeitura reitera que só publicará sobre os casos graves e confirmados da doença.
FILA DE EXAMES
A Plataforma de Laboratórios para diagnóstico do novo coronavírus de São Paulo irá analisar em dez dias 9 mil dos 17 mil testes de coronavírus represados na fila. O montante faz parte do grupo considerado prioritário: pacientes graves, internados, e profissionais de saúde.
Segundo o Instituto Butantan, responsável pela coordenação dos trabalhos, as amostras presentes no Instituto Adolfo Lutz começaram a ser distribuídas pela plataforma na terça-feira (7).
Instituições como Albert Einstein, Fleury, além das regionais do Adolfo Lutz no interior e laboratórios universitários, receberão as amostras para que a situação atual de represamento – que hoje é de 9 mil, dentro dos critérios prioritários – seja solucionada no período de até 10 dias.
FALTA DE TRANSPARÊNCIA
Segundo Fernanda Campagnucci, diretora executiva da Open Knowledge Brazil e especialista em transparência de dados, a nova orientação mostra que as estatísticas estaduais precisam ser analisadas com cautela, já que não refletem mais o mesmo cenário que era analisado antes.
Questionado por que a secretaria não vai seguir a orientação do MP de Contas, para notificar também casos leves, Menezes afirma que trata-se de um número pouco relevante na fase atual da pandemia.
“Porque, primeiro, do ponto de vista epidemiológico, esse número de casos leves não ajuda em nada. A gente do ponto de vista epidemiológico, agora, e não é só no Brasil, acompanha aquela porção de pessoas que precisa de cuidados mais complexos para no mínimo estarem internadas. É uma priorização, porque as pessoas que de fato precisam de assistência médica mais elaborada, e ela acompanha a evolução da pandemia”, afirma Menezes.
“É o que é feito na grande maioria dos países que estão passando pela pandemia. É normal que depois de um certo ponto seja prioritária a contagem de casos graves, e não do total”, completa.
QUARENTENA PRORROGADA
Na segunda-feira (6) o governo de São Paulo anunciou a prorrogação da quarentena no estado a partir desta quarta-feira (8) até o dia 22 de abril. A medida segue sem flexibilizações, e foi tomada para conter o avanço do coronavírus no estado. O anúncio foi feito pelo governador João Doria.
Ao lado do governador, o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, apresentou dados que mostram quais devem ser os efeitos das medidas de isolamento social na expansão do novo coronavírus em São Paulo. Segundo ele, as medidas têm diminuído em até 75% os efeitos da doença. A previsão do instituto é de que, em seis meses, o coronavírus faça 111 mil vítimas no estado; sem as medidas adotadas de quarentena, o total seria de 277 mil mortes.
O infectologista David Uip, coordenador do Centro de Contingência do Coronavírus, disse na terça-feira (7) que o estado de São Paulo terá dificuldades com o número de leitos de hospitais se a adesão ao isolamento social não aumentar.
Atualmente, a adesão ao isolamento social no estado de São Paulo é de 54%, mas o ideal seria de 70%. De acordo com o infectologista, os estudos epidemiológicos e estatísticos de quatro grupos diferentes chegaram a essa mesma conclusão.
*Com informações do portal G1 e Diretoria de Comunicação de Dracena